Honda Aircraft dará assistência temporariamente a proprietários-cotistas de jatos HJ da frota gerenciada pela Jet It após encerramento de atividade da provedora, em 13.06.23
A Honda Aircraft Company compôs uma equipe de suporte encarregada de auxiliar os proprietários-cotistas de jatos HondaJet anteriormente administrados pela Jet It, uma empresa de fretamento de vôos e de solução de aeronaves de propriedade compartilhada, da Carolina do Norte (EUA), que em 26 de maio de 2023 anunciou o plano de encerramento da totalidade de suas operações e atividades de vôo.
A assistência oferecida pela Honda Aircraft será fornecida gratuitamente e ajudará os ex-clientes da Jet It, proprietários de jatos HJ, para o que concebeu “transições perfeitas para opções alternativas de gerenciamento de aeronaves”.
O ‘pacote’ de assistência da Honda fornecerá serviços de pilotos para o traslado dos jatos para a sede da fabricante em Greensboro, na Carolina do Norte, onde os jatos poderão ficar parqueados por até 90 dias (3 meses) sem qualquer custo.
A Jet It operava uma frota de 21 jatos Honda Jet HA-420.
O chefe-executivo de compliance (conformidade) – CCO – da Honda Aircraft e vice-presidente de atendimento ao cliente, Amod Kelkar, declarou: “Entendemos os desafios enfrentados pelos proprietários-cotistas que foram afetados pela suspensão do gerenciamento de suas aeronaves após serem liberados do contrato pela Jet It e estão agora buscando arranjos alternativos. Consistente com nossa dedicação à satisfação do cliente, desenvolvemos e estabelecemos este plano de assistência para os proprietários de HondaJet que precisam de suporte adicional durante este período de transição”.
O CEO da Jet It, Glenn Gonzales, atribuiu culpa pelo fracasso de sua empresa exclusivamente ao modelo Honda Jet HA-420, alegando que o jato é inerentemente defeituoso.
No dia 19 (de maio), Gonzales anunciou o início da suspensão da operação da frota Honda Jet da Jet It, por questão de segurança, com alusão a um evento de excursão de pista ocorrido à véspera (em 18 de maio), em Summerville, na Carolina do Sul, envolvendo um operador de Honda Jet do transporte privado. Em um esforço para substanciar suas alegações sobre deficiências do Honda Jet, Gonzales apresentou um relato de ocorrências de excursão e incursão de pista envolvendo o modelo desde a introdução e entrada no mercado.
As alegações de Gonzales foram sumariamente refutadas pela Honda Aircraft e impugnadas pela HJOPA – HondaJet Owners & Pilots Association (associação de pilotos e proprietários de Honda Jet), um grupo que representa os proprietários de jatos Honda Jet.
Especialistas do setor da aviação alegam que a paralisação por segurança da Jet It foi “encenada” com o objetivo de mascarar problemas reais da empresa, de ordem financeira, mais exatamente de fluxo de caixa que, nos meses anteriores, retiveram em hangares do centro de manutenção quase metade da frota de 21 jatos Honda Jet HA-420, com a falta de pagamento e pendências de remuneração relativamente às aeronaves.
O banco de dados ASN – Aviation Safety Network da FSF (Flight Safety Foundation) lista 25 eventos entre incidentes e acidentes (não-fatais) de Honda Jet desde a entrada em serviço do Tipo em junho de 2015. Embora a maioria das ocorrências tenha envolvido excursão de pista no pouso, um denominador comum causal derivado da própria aeronave não foi identificado.
A Honda Aircraft divulgou que, atualmente, mais de 230 jatos Honda Jet (HJ), representando coletivamente mais de 180.000 horas de frota, estão em serviço em todo o mundo. As aeronaves sujeitas a relatórios de/para fabricante têm uma taxa de despacho de 99,7%.
Na divulgação da assistência oferecida pela Honda Aircraft, o CCO e vice-presidente de atendimento ao cliente da fabricante, Amod Kelkar, disse: “O HondaJet continua sendo uma aeronave confiável e segura para operar, e reafirmamos nossa confiança na segurança da aeronave por meio de nossa engenharia e análise”.
Em uma declaração por escrito abordando as alegações de Gonzales, um portavoz da Honda Aircraft afirmou: “A decisão da Jet It de parquear sua frota Honda Jet foi feita de forma independente pela Jet It. É importante ressaltar que nem a Honda Aircraft Company nem nenhuma autoridade de aviação recomendaram esse parqueamento. Portanto, não temos comentários sobre a decisão da Jet It de imobilizar sua frota”.
A declaração do portavoz continuou: “A Honda Aircraft Company está apoiando ativamente a investigação de um recente acidente de uma aeronave de cliente em 18 de maio de 2023, no Aeroporto de Summerville (KDYB), na Carolina do Sul. O acidente não resultou em feridos, mas como a investigação está em andamento, não temos mais detalhes para compartilhar no momento. A Honda Aircraft Company mantém a segurança e a confiabilidade de nossas aeronaves como nossas principais prioridades, e nossa equipe dedicada está trabalhando em estreita colaboração com o NTSB e a FAA para determinar a causa dessa ocorrência e implementar as medidas necessárias”.
E a declaração do portavoz da Honda Aircraft concluiu: “Em todas as investigações encerradas de eventos de pista anteriores, os investigadores não encontraram fatores causais do design da aeronave ou qualquer mau funcionamento do sistema. Nossa engenharia e análise apóiam nosso produto como uma aeronave segura para operar. Como resultado, a Honda Aircraft Company continuará todas as suas atividades de vôo em operação normal”.
Um dos acidentes com Honda Jet, e de excursão de pista, aconteceu no Brasil, durante pouso no Aeroporto Cataratas/Foz do Iguaçu (SBFI), no PR, em vôo procedente de Curitiba/Afonso Pena (SBCT), no PR, em 24/09/2018 (às 16:42Z – 13:42LT). O acidente foi com o aparelho registrado na categoria do transporte privado (propriedade/operação de Pessoa Jurídica) de matrícula PR-TLZ, registro de produção sn 42000068, fabricação em 2017.
O acidente foi classificado pelo CENIPA como evento de Excursão de pista/Pouso “longo” associado com Tesoura de Vento, em condição de tempo adverso.
No momento do pouso, na pista 32, havia precipitação sobre a cabeceira oposta, associada a grandes variações de direção e de intensidade do vento, condizentes com o fenômeno de tesoura de vento (windshear) resultante de microburst. No pouso, às 16:42Z (13:42LT), na cabeceira 32, a aeronave percorreu toda a extensão da pista, sofrendo aquaplanagem e um súbito aumento da velocidade calibrada (com pico de 32 KT), o qual alterou as condições de sustentação da aeronave e, consequentemente, reduziu a aderência dos pneus sobre o solo, acarretando uma frenagem deficiente.
O avião extrapolou os limites da pista, vindo a cair em um barranco. A aeronave teve danos substanciais, na fuselagem e trem de pouso; os três ocupantes (dois tripulantes e passageiro) saíram ilesos.
Nas conclusões, o relatório do CENIPA aponta:
[1] vôo transcorreu normalmente, durante a rota.
[2] não houve variações significativas no ângulo da rampa durante a aproximação final, e a aproximação foi considerada estabilizada.
[3] a distância requerida para pouso de 1.960 m. (6.431 pés) era compatível para a operação no aeroporto e na pista 32, com a LDA de 2.195 m. (7.201 pés).
[4] as medições de atrito e de macrotextura apresentaram parâmetros normais e não contribuíram para a deficiente desaceleração da aeronave.
[5] no momento do pouso, a pista estava molhada e com uma quantidade significativa de água sobre o pavimento.
[6] a desaceleração estimada correspondeu ao que seria esperado em uma pista muito molhada (> 3 mm de água, ie, pista contaminada) com hidroplanagem dos pneus nas velocidades mais altas.
[7] um súbito aumento da velocidade calibrada que atingiu um pico de 32 KT alterou a sustentação da aeronave e, consequentemente, reduziu a aderência dos pneus sobre o solo, acarretando uma frenagem deficiente nos trechos em que a ground speed estava mais baixa.
[8] os speedbrakes não foram estendidos durante a corrida após o pouso, contrariando o previsto no AFM.
[9] as características da precipitação sobre a cabeceira 14 associadas às grandes variações de direção e de intensidade do vento eram condizentes com o fenômeno de windshear, resultante de um microburst.
[10] os sensores da aeronave não detectaram a ocorrência de windshear durante a aproximação para pouso.
[11] houve um alerta de windshear emitido cerca de 30 segundos após o pouso da aeronave acidentada por outra aeronave que se encontrava na cabeceira 32.
O relatório aponta os seguintes fatores contribuintes:
– Aplicação dos comandos – indeterminado.
A despeito da baixa contribuição dos speedbrakes para a redução da distância de pouso, este dispositivo representa um recurso de desaceleração por meio de arrasto aerodinâmico que não deve ser desprezado, principalmente durante o pouso em pistas molhadas, e poderia ter contribuído para evitar a excursão de pista.
– Condições meteorológicas adversas – contribuiu.
A grande variação da intensidade do vento atingiu um pico de 32 KT. Essa variação teve duração de 13 segundos e elevou a velocidade indicada de 76 KT para 108 KT. Ao considerar que a velocidade de 108 KT estava muito próxima da VREF (111 KCAS), pode-se afirmar que esse fenômeno alterou a sustentação da aeronave e, consequentemente, reduziu a aderência dos pneus sobre o solo, acarretando uma frenagem deficiente. [EL] – c/ fonte