Hipervigilância e a influência certa, a filosofia de segurança do especialista Tony Kern, da Convergent Performance, em 26.11.24
O editor-chefe da mídia de aviação AIN Matt Thurber postou um artigo no dia 13 divulgando a apresentação na edição 2024 do Bombardier Safety Standdown, o seminário de segurança da fabricante canadense Bombardier, de Tony Kern, sócio-fundador e CEO da Convergent Performance, uma provedora de treinamento de segurança, avaliações personalizadas, ferramentas e soluções de desempenho para envolver e melhorar pessoal e quadro funcional, do Colorado (EUA).
A edição 2024 do Bombardier Safety Standdown aconteceu nos 12 e 14, em Wichita (Kansas/EUA), na sua 28ª edição. A edição deste ano ganhou slogan temático “Elevate your influence” (Eleve sua influência).
Thurber destaca que Tony Kern é, por 28 anos, o palestrante influente no primeiro dia do Bombardier Safety Standdown. Na edição 2024, Kern desafiou o público do seminário deste ano: “Enquanto você me ouve, enquanto ouve todos os outros palestrantes, quero que você pense em reverter um pouco esse tema e se pergunte: o que o influencia? Quem o influencia?”.
Juntando o tema de influência (da edição do seminário) e como os profissionais da aviação executiva podem ajudar uns aos outros com questões de segurança relacionadas à preparação, Kern ilustrou seus pontos com diagramas de Venn mostrando a intersecção entre eventos inesperados e falta de vigilância, complacência e apatia. “Há muita sombra naquele diagrama de Venn”, Kern observou: “E se pudéssemos substituir isso? E se pudéssemos nos influenciar? E se pudéssemos influenciar os outros e substituir essa apatia e complacência? Ninguém é apático ou complacente no geral; temos altos e baixos. Às vezes somos apáticos, às vezes ficamos entediados, às vezes somos complacentes e outras vezes somos hipervigilantes”. Prosseguiu Kern.
Thurber observou que o que Kern estava tentando apontar é que reforçar a vigilância pode ajudar a prevenir acidentes ou preparar os pilotos para lidar com o inesperado. “Quero pensar em … mover esse espectro um pouco e reconhecer quando começamos a desviar. Agora temos esse evento inesperado, mas não é tão inesperado. [Mudança] para tocamos nos interruptores [com os olhos fechados], sabemos onde está a maçaneta da porta [de emergência] e podemos manter [acidentes ou problemas] sob controle”.
Um fator importante a ser entendido, enfatizou Kern, “é que o risco não está onde você pensa que está”. Kern ilustrou esse ponto mostrando vídeos de jogadas esportivas heróicas — por exemplo, a famosa pegada no ar do jogador de beisebol Luis Guillorme, do New York Mets, de um taco solto inadvertidamente pelo batedor. Kern destacou ainda mais esse ponto durante o resto de sua apresentação, jogando bolas na platéia, o que provavelmente manteve os participantes em alerta máximo ou “hipervigilantes”.
O risco na aviação se deve principalmente ao fator humano, sejam pilotos, mecânicos ou engenheiros. No entanto, Kern acrescentou: “A aviação não é apenas incrivelmente segura, mas nós somos”. Kern completa, imediatamente: “Devemos evitar mentir para nós mesmos sobre segurança e presumir que, só porque dizemos que a aviação é segura, nenhum trabalho mais precisa ser feito para garantir a segurança”.
Kern então evoluiu sua filosofia: “Temos que entender que há acidentes à espreita dentro de nós, esperando que os buracos no queijo suíço se alinhem para que sejamos a última peça que pode evitá-los. Temos que entender que isso pode acontecer conosco e, até certo ponto, temos que acreditar que isso vai acontecer conosco. Temos que atacar essa idéia de quão incrivelmente segura a aviação é dentro de nossas próprias cabeças. Levamos nossa marmita de almoço para o trabalho. Consertamos um avião. Entramos em um avião. Tudo vai bem. Aterrissamos. Os clientes ficam felizes, nós ficamos felizes e vamos para casa”. Mas se for esse o caso, pouco aprendizado útil está acontecendo. “Há muito que podemos aprender com cada vôo, cada pre-briefing e debriefing, tudo, e temos que [fazer isso]”, pontuou Kern.
“Uma das coisas que nos influencia é essa idéia de que somos muito bons, certo? O que é bom, confiança é bom, não me entenda mal. Mas nunca somos bons o suficiente. Você é forte o suficiente para levar um golpe, profissionalmente, pessoalmente, fisicamente, e seguir em frente? Você é forte o suficiente para não deixar seus sentimentos atrapalharem quando você não consegue um emprego ou alguém é promovido antes de você, ou algo mais acontece em sua organização ou em sua vida? Você é forte o suficiente para perceber que o que acabei de dizer é verdade, que você nunca pode estar preparado o suficiente porque não sabe em que nível está o desafio? E ter a coragem de oferecer críticas construtivas, honestas e objetivas aos outros, mas também quando se olha no espelho? Somos fortes o suficiente para fazer isso?”, Kern discorreu, mobilizando o público.
Thurber aponta: esta foi a “lição mais importante” de Kern do dia: “Coisas que nunca aconteceram antes com você ou com as pessoas acontecem o tempo todo. Esses eventos cisne negro [Black Swan] que nunca achamos que podem acontecer conosco — que as probabilidades são astronômicas, não vão acontecer conosco — acontecem o tempo todo com alguém e temos que ser capazes de avaliar esse conceito”.
“Obtemos nossas habilitações Tipo, passamos por treinamento, atendemos aos padrões mínimos e voamos por milhares de horas e anos, e nada de ruim acontece, quando começamos a ter essa ideia de que somos bons o suficiente. De vez em quando, algo assim surge que nos lembra que podemos não ser, e as coisas podem mudar em um minuto. Não sei quantos de vocês já tiveram uma emergência séria. Quando isso acontecer, você vai perceber que seu cérebro não funciona da mesma forma, mas quando você tem algo para recorrer … Eu treinei com óculos de nevoeiro. Eu sei onde estão os interruptores. Eu sei onde fica a machadinha. Eu vou sobreviver a isso. Você tem um lugar para ir”.
O que isso significa é estar preparado, Kern definiu.
Kern explicou: “Preparação é estar pronto para algo que você pode ou não encontrar, e então você tem que juntar isso com o estado de espírito que diz que pode acontecer agora. Então preparação, mais aquela vigilância que diz que vou estar aqui agora, estou pronto para isso, é igual a algum nível do que eu quero chamar de prontidão. Mas a coisa mais importante a entender é que a prontidão só pode ser determinada depois que o desafio surge, e pode ou não ser aquele para o qual treinamos no simulador. Pode não ser aquele que aconteceu vezes suficientes para criar uma tendência em nossos sistemas de gerenciamento de segurança. Pode ser algo completamente estranho e estranho, então a melhor coisa que podemos fazer é olhar constantemente para os níveis de preparação que temos. E há muitos elementos nisso. É conhecimento de aeronaves e conhecimento de sistemas. É empatia com sua equipe, ser capaz de entender o tom de voz, se aquele controlador de tráfego aéreo está ficando estressado e pode fazer algo bobo. Todas essas coisas entram em jogo em nosso nível de preparação”.
No entanto, há mais nisso, e Kern acredita não apenas em vigilância, mas em hipervigilância. Ele não concorda com a definição do dicionário Webster: a condição de estar anormalmente alerta. Para Kern, hipervigilância significa estar “normalmente alerta coisas anormais que ocorram”.
O ato aparentemente normal de voar continua inerentemente arriscado. “Nosso campo de jogo sempre foi perigoso”, sustenta Kern, “mesmo quando estamos sentados em hangares e pilotando aviões. Nunca se esqueça do que é um avião. É uma casca de ovo de alumínio que tem materiais altamente combustíveis com todos os tipos de energia cinética e fogo acontecendo bem ao nosso lado, bem abaixo de nós, e nós o levamos para altitudes onde o tempo de consciência útil pode ser medido em segundos. Nós navegamos em torno de tempestades, onde os raios são tão quentes quanto a superfície do sol. E então descemos, pousamos em pequenas tiras de concreto e chamamos isso de normal. Sim, isso não é normal. Esse é um ambiente de alto risco”.
Kern então questionou: “Então, como obtemos essa hipervigilância?”. Kern emedou que pessoas que exibem essa característica “vêem mais profundamente e são capazes de atribuir significado às coisas que vêem. Esse é um processo consciente. Não será intuitivo quando você vê algo novo que você vai descobrir como processar o que fazer com isso. Isso requer que você pense. Esse é um ato consciente de mergulhar mais fundo”.
Kern prosseguiu sua filosofia: “especialistas não apenas sabem mais; eles sustentam esse estado de hipervigilância. É um processo mental de sempre se preparar, nunca saber qual será o desafio e permanecer totalmente ciente de que as coisas podem dar errado a qualquer momento. E permanecer humilde sobre isso, porque a única maneira de aprender é quando você pode deixar seu ego na porta. Sempre podemos aprender. Sempre podemos melhorar. O que nos impede é a maldição do especialista de ler os recortes de imprensa que dizem que estamos seguros o suficiente ou descansar sobre os louros porque somos realmente bons no que fazemos. Você não se autoseleciona para uma conferência de segurança a menos que se importe em melhorar. Então, sei que estou meio que pregando para convertidos aqui, mas você pode levar essa mesma exuberância para aprender, aplicar e compartilhar de volta e demonstrar isso para os outros?”.
Kern seguiu discorrendo sua filosofia: “a prontidão de especialista não acontece por acidente. Você tem que ter esse desejo ardente de melhorar, e estar preparado significa aquele desconforto constante que diz, não importa o quão bom eu seja, o próximo desafio pode ser um pouco maior ao que estou pronto, e então quando esse momento chega e você executa – ganhe ou perca – você fica meio feliz porque eu estava me preparando o tempo todo, e finalmente, fui desafiado, e agora posso aprender um pouco mais e até melhorar”.
“Então, compreenda completamente que naquela caixa lá em cima, praticar precisão e imaginar a perfeição é onde está a verdadeira prontidão. Agora, como tiramos isso? A primeira coisa que você precisa perceber é que quando influenciamos os outros, ficamos melhores por causa disso. Toda vez que nos sentamos com um grupo de pessoas e temos uma discussão e tentamos transmitir nosso conhecimento e aprender coisas com elas, estamos elevando nosso próprio nível. Estamos nos mantendo em um padrão mais alto. Você precisa entender que não é um ato de altruísmo ajudar alguém. É egoísta também. Podemos melhorar. Podemos nos tornar mais especialistas quando tentamos ajudar os outros”, Kern adicionou uma outra mensagem.
Kern encerrou sua sessão lembrando público e levando à reflexão quanto à importância de cada um como um agente de um sistema. “Pense em quão sortudo você é por ser uma das poucas pessoas a fazer parte desta indústria. Nós voamos nesta pequena atmosfera neste pequeno planeta cheio de vida. Nunca pense que você não é importante. Nunca, jamais pense que você é pequeno demais para fazer a diferença porque temos esta vida para fazer a diferença e nos influenciar para sempre”.
Kern observou: “Não temos ideia de onde isso vai repercutir. Algo que eu digo, você pode pegar e mudar um pouco. Diga para outra pessoa, ela pode pegar, mudar um pouco, e isso simplesmente vai para fora. É como melhoramos como espécie, é como melhoramos como indústria, é como melhoramos como empresa, é como melhoramos como equipe, é como melhoramos como família e é como melhoramos como indivíduos, porque queremos melhorar e queremos que outras pessoas melhorem.
“É importante”, disse Kern, “perceber que a hipervigilância, que é esperar que coisas anormais ocorram e estar pronto para lidar com elas, é uma competência essencial para o caos em que estamos voando neste momento. Perceba que os especialistas vêem um mundo diferente. Você está vendo esse mundo ou ainda está olhando através das lentes do status quo? Nunca se esqueça, alguém está sempre observando você, ouvindo você e recebendo dicas de você. Seja o exemplo de que eles precisam”. [EL] – c/ fonte