CEOs da Dassault Falcon Jet  e da EMBRAER Executive Jets (EEJ) abordam dinâmica do mercado global de jatos executivos e cadeia de suprimentos, em 12.09.25


Em post no dia 11 na plataforma online da AIN, a colaboradora-redatora e editora de notícias da mídia Jessica Reed repercutiu o momento da indústria da aviação executiva – de jatos executivos, pela visão de dois executivos de duas importantes fabricantes de aeronaves apresentada em painel de discussão da edição 2025 do seminário da provedora de inteligência da aviação JetNet que aconteceu nessa semana em Washington, D.C. (EUA). O post de Reed tem título “Execs address global market dynamics, supply chain” (Executivos abordam dinâmica do mercado global e cadeia de suprimentos).

Durante um painel de discussão no JetNet Summit 2025, executivos de indústria destacaram a criação de riqueza global sem precedentes como o principal catalisador para a demanda da aviação executiva, reconhecendo, ao mesmo tempo, que ‘gargalos’ na cadeia de suprimentos continuam a restringir o crescimento.

Thierry Betbeze, CEO da francesa Dassault Falcon Jet, e Michael Amalfitano, presidente e CEO da brasileira EMBRAER Executive Jets (EEJ), descreveram como a geração de riqueza, em vez de fatores tradicionais de mercado, está remodelando o cenário do setor.

Numa conversa com o moderador Pete Bunce, os dois executivos abordaram as variações regionais do mercado, as inovações tecnológicas e os desafios persistentes da cadeia de suprimentos.

O banco Credit Suisse projeta um crescimento de riqueza de mais de 20% até 2029.

“Quando você olha para isso, por que o setor está crescendo?”, perguntou Amalfitano. “É por causa da riqueza que está sendo criada que as pessoas podem comprar um avião, e agora elas estão estabelecendo isso como uma identidade: É isso que eu sou. Eu quero um jato”, prosseguiu Amalfitano.

Betbeze e Amalfitano observaram que, apesar das tensões geopolíticas e dos desafios regulatórios, a demanda subjacente permanece robusta.

“Pessoas que querem jatos executivos compram jatos executivos. Quem se importa com o ruído do mercado?”, afirmou Amalfitano, destacando a resiliência do setor contra pressões externas.

O setor da aviação de jatos executivos está apresentando um crescimento de aproximadamente 3% ao ano, embora ambos os Betbeze e Amalfitano tenham sugerido que esse número reflete restrições de oferta e não limitações de demanda. A capacidade de produção atual e a disponibilidade de mão de obra estão impedindo taxas de crescimento mais altas, criando um desequilíbrio entre oferta e demanda que sustenta a estabilidade do mercado.

Variações do mercado regionalmente – oportunidades e desafios
Com as entregas de aviação executiva na América do Norte aumentando em mais de 8%, de acordo com estatísticas da GAMA – General Aviation Manufacturers Association (associação de fabricantes da aviação geral) divulgadas recentemente, esse mercado continua a apresentar o desempenho mais forte. A região se beneficia de ambientes regulatórios favoráveis, infraestrutura consolidada e crescimento econômico sustentado.

A EMBRAER reportou um desempenho particularmente forte em seus principais segmentos de mercado – de jatos leves e jatos médios -, alcançando 31% de participação de mercado nas categorias de jatos leve (incluindo de entrada) e de jatos médios-supermédios. A carteira de pedidos da fabricante brasileira atingiu US$ 7,6 bilhões, com robusta taxa book-bill [encomenda : faturamento com entrega] mantendo o ritmo – “momentum”.

O mercado europeu enfrenta desafios regulatórios, como a proposta de impostos sobre combustível aeronáutico (QAv) de € 0,41 por litro e taxas incidentes por passageiros variando de € 410 a € 2.100 (US$ 481 a US$ 2.465).

“É uma desvantagem para a aviação executiva na Europa”, reconheceu Betbeze, (da francesa Dassault Falcon Jet) observando a disparidade na carga tributária entre o EUA e os países europeus.

Apesar desses desafios, Betbeze observou que o comportamento de compra dos clientes permanece praticamente inalterado. O executivo observou mudanças na oposição política, deixando de lado as preocupações com emissões para outras questões geopolíticas, sugerindo uma redução da pressão sobre as operações da aviação executiva na Europa.

A América Latina continua apresentando forte crescimento, particularmente no Brasil, onde a EMBRAER se beneficia de vantagens regulatórias por meio de seu relacionamento com a autoridade de aviação do país – ANAC. A EMBRAER consegue atingir prazos de certificação mais rápidos em comparação com os processos da FAA, proporcionando vantagens competitivas no desenvolvimento de aeronaves.

Os mercados da Ásia-Pacífico apresentam condições mistas, com a China permanecendo politicamente desafiadora, enquanto o sudeste asiático demonstra potencial de crescimento. O desenvolvimento de infraestrutura, e não a criação de riqueza, representa o principal fator limitante na região.

“Não se pode focar apenas na população; é preciso focar em como se conectar por meio de investimentos, na globalização que permite que aviões sejam construídos especificamente para essas missões”, explicou Amalfitano.

Betbeze e Amalfitano reformularam as discussões tradicionais sobre a cadeia de suprimentos, argumentando que problemas de capacidade e qualidade, e não a disponibilidade de peças, criam os gargalos atuais.

“Temos muitas peças. Mas as peças críticas que impedem o avanço da linha [são] o desafio”, disse Amalfitano.

Os principais ‘gargalos’ ocorrem em motores, trens de pouso, componentes específicos e materiais que exigem expertise específica de fabricação. A perda de mão de obra qualificada durante a pandemia criou desafios de controle de qualidade que exigem extensos programas de reciclagem.

Ambas as fabricantes – Dassault Falcon Jet e EMBRAER Executive Jets (EEJ), responderam integrando pessoal às instalações de fornecedores críticos para fornecer treinamento e supervisão de qualidade.

A Dassault relatou a alocação de centenas de funcionários em instalações de contratadas para suprir lacunas de qualificação e processos de fabricação.

Vulnerabilidades de fornecimento único tornaram-se evidentes em diversas categorias de componentes, motivando esforços para desenvolver fornecedores alternativos. No entanto, os requisitos de certificação para novas fontes geram atrasos significativos no atendimento de restrições de capacidade.

Fabricantes (OEM) expandem investimentos em MRO e capacidades de serviço
As fabricantes de aeronaves (OEM – fabricantes de e equipamentos originais) estão aumentando os investimentos em manutenção, reparo e revisão (MRO – maintenance, repair, overhaul) como prioridades estratégicas.

“Ninguém conhece nossas aeronaves melhor do que nós”, disse Betbeze, para emendar: “Ninguém conhece o Falcon melhor do que a Dassault, e fornecer um bom serviço é provavelmente a base de que você precisa para impulsionar suas vendas futuras”.

Capacidades de serviço superiores influenciam diretamente as vendas futuras, ao mesmo tempo que proporcionam melhor controle da cadeia de suprimentos para componentes críticos. A capacidade aprimorada de MRO também atende às preocupações dos clientes sobre a disponibilidade da aeronave e os tempos de resposta.

O desenvolvimento da força de trabalho em operações de MRO exige adaptação a técnicos mais jovens, que aprendem de forma diferente das gerações anteriores. As fabricantes estão implementando ferramentas de treinamento visuais e digitais para atender a essas preferências, afirmou Betbeze, mantendo os padrões de qualidade.

Inovação tecnológica por meio da colaboração
Ambos as fabricantes alavancam seus portfólios diversificados para acelerar a inovação em todas as plataformas de aviação executiva.

A Dassault continua desenvolvendo capacidades de operações com um único piloto (single-pilot), apesar da recente pausa na pesquisa da EASA, com base nos avanços tecnológicos militares e de defesa.

O futuro jato cabine larga Falcon 10X, projeto ora em desenvolvimento, incorporará novos designs de cockpit focados na redução da carga de trabalho de pilotos por meio de sistemas aprimorados de automação e navegação, incluindo um acelerador (throttle) de controle único para ambos os motores e um modo de recuperação de atitude anormal de emergência (upset recovery mode).

“Saber que os dois pilotos terão uma carga de trabalho menor significa mais segurança e mais conforto para os passageiros”, disse Betbeze.

A EMBRAER opera sete linhas “verticais” de inovação, incluindo emissões zero, inteligência artificial, sistemas autônomos e manufatura avançada. Essas iniciativas abrangem aviação de defesa, comercial e executiva. Aplicações, com a mobilidade aérea urbana servindo como um potencial campo de testes para tecnologias autônomas.

Mercado de propriedade/operação compartilhada e investimentos em infraestrutura
O segmento de propriedade compartilhada demonstrou força particular durante a recente volatilidade do mercado.

A EMBRAER reportou aumentos de 77% na atividade de vôos do segmento de compartilhamento desde 2020, superando as médias do setor de 57% de crescimento para aeronaves comparáveis.

Este segmento serve como um ponto de entrada para indivíduos mais jovens e ricos que acessam a aviação privada antes da transição para a propriedade integral da aeronave. O desempenho do mercado de compartilhamento de aeronaves sustenta o otimismo em relação à demografia do setor a longo prazo e ao desenvolvimento de clientes.

A expansão do mercado para além das regiões tradicionais requer o desenvolvimento coordenado de infraestrutura, incluindo aeroportos, hangares, instalações de combustível e estruturas regulatórias. Sem esses elementos fundamentais, os fabricantes de aeronaves não podem atender eficazmente aos mercados emergentes, apesar dos indicadores de criação de riqueza e demanda.

Ambos os painelistas – Betbeze e Amalfitano  – enfatizaram que os cronogramas de investimento em infraestrutura frequentemente excedem os ciclos de desenvolvimento de aeronaves, criando desafios de planejamento estratégico para decisões de entrada no mercado. Uma expansão bem-sucedida normalmente requer parcerias com organizações locais que tenham conhecimento de mercado e capacidades operacionais.

A Dassault e a EMBRAER continuam a avaliar oportunidades globais, embora reconheçam que o crescimento sustentável requer desenvolvimento abrangente de ecossistemas em vez de apenas entrega de aeronaves. [EL] – c/ fonte