Em evento da Bolsa americana (NYSE), executivo da analista-consultora Rolland Vincent Associates questiona CEO da EEJ, quanto a planos para jatos executivos de grande porte, e este não descarta mas diz a fabricante levará tempo antes de dar próximo passo, em 19.10.25

Em post no dia 16 na plataforma online da AIN, o articulista Scott Hamilton repercutiu que a fabricante brasileira EMBRAER reafirmou, nesta semana, que está estudando ativamente a possibilidade de entrar no mercado de jatos executivos de cabine larga.
Até 2020, a fabricante produziu os modelos com cabine maior Lineage 1000 (versão executiva da plataforma EJet 190) e Legacy 600/650 (versão executiva da plataforma ERJ-145).
Falando em seu evento Dia do investidor (Investor Day) na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), no dia 14, o renomado consultor Dean Roberts, vice-presidente de estratégia, sustentabilidade e desenvolvimento da Rolland Vincent Associates, uma analista e consultora do setor de transportes, pediu ao presidente e CEO da EMBRAER Executive Jets (EEJ), Michael Amalfitano, que confirmasse se seu grupo se posicionará para competir com Gulfstream, Bombardier e Dassault, e Amalfitano não descartou a mudança.
Roberts argumentou que é o momento certo para a fabricante brasileira expandir seu portfólio para além da família de jatos leve Phenom e médio Praetor. Em sua opinião, as fabricantes concorrentes americanas, canadenses e franceses não estão explorando totalmente o mercado.
“Vocês têm sucesso”, disse Roberts a Amalfitano durante a discussão, para prosseguir: “Há muito crescimento em participação de mercado para continuar. Mas se você quiser continuar no longo prazo, terá que migrar para aeronaves grandes. Grandes são o mercado de maior valor. Grandes são o mercado de crescimento mais rápido”.
Roberts seguiu: “as empresas tradicionais subiram para o topo da categoria de grandes aeronaves, com máquinas pesadas e de alto custo que são adequadas para o verdadeiro topo de linha. Mas elas deixaram uma lacuna na base da categoria de grandes aeronaves que, eu diria, é formada por máquinas antigas ou abaixo do ideal, atendendo às necessidades do mercado que não estão sendo atendidas. É um espaço perfeito para uma disrupção da EMBRAER”.
Embora se recusando a descartar a mudança, ou dizer quando e como a EMBRAER poderá tomar essa medida, Amalfitano disse que a fabricante levará o tempo necessário.
“É preciso fazer isso com muita atenção”, disse Amalfitano. “Se quisermos desbloquear pelo menos o potencial de revolucionar outro mercado mais uma vez …, temos que fazer direito. E quando você coloca esses pessimistas a nossa frente, não pode aparecer com um produto similar. Ele precisa ter diferenciação e características disruptivas, assim como a família Phenom e Praetor, para que o mercado o aceite e use esse espaço”, falou Amalfitano.
De acordo com Amalfitano, os anos pós-pandemia desafiaram o pensamento convencional sobre a trajetória do mercado de aviação executiva. A EMBRAER acredita ter se beneficiado da redefinição do mercado.
“[No passado], sempre víamos o topo do mercado se recuperar antes do fundo do mercado”, comentou Amalfitano. “O exato oposto aconteceu com a Covid. A pandemia virou de cabeça para baixo. Todo o setor de aviação privada veio de baixo. As aeronaves de entrada, leves e de categoria média, Phenom e Praetor [lideraram] a recuperação”, argumentou Amalfitano. A EMBRAER agora detém quase um terço desse setor. “Nessas quatro categorias, detemos 31% do mercado, dominando as classes nesse segmento”, apontou Amalfitano aos analistas e repórteres presentes.
De acordo com Roberts, a aviação executiva passou por “um pequeno contratempo” no segundo trimestre deste ano. No terceiro trimestre encerrado em 30 de setembro, “[o setor] viu uma recuperação muito forte nos termos atuais de confiança nas intenções de compra da aviação executiva como um todo. Junto com meu tema sobre a aviação executiva ser diferente, a clientela é diferente, pois normalmente representa os 10% mais ricos da população e responde por 50% das compras econômicas. Eles são menos suscetíveis à inflação”.
A melhora da posição financeira da EMBRAER, impulsionada em parte pelas vendas de jatos executivos e pelo crescimento desse mercado, é parte do que está motivando os estudos sobre a entrada em um segmento maior, de jatos executivos maiores. A fabricante se recuperou dos efeitos deletérios da pandemia e agora possui um balanço patrimonial sólido.
As três principais agências de classificação de crédito agora classificam a EMBRAER como grau de investimento. Lucros e margens estão entre os melhores para empresas de seu porte. O Credit Suisse observou no início deste ano que a riqueza global crescerá 20% até 2029.
No entanto, o argumento para a EMBRAER investir no desenvolvimento de um jato executivo cabine larga, no segmento de ponta dessa indústria, precisa competir com as ambições contínuas do grupo aeroespacial e de defesa de desafiar diretamente a Airbus e a Boeing na corrida para dominar o mercado de aviões comerciais de fuselagem estreita de próxima geração. Isso pode explicar por que Amalfitano ainda sente a necessidade de proteger suas apostas.
Os efeitos do ‘tarifaço’ imposto pelo presidente Trump
Em post no dia 15 na plataforma online da AIN, o articulista Scott Hamilton repercutiu um outro assunto abordado no Dia do investidor (Investor Day) na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE) – do ‘tarifaço’ imposto pelo presidente Trump.
No evento, Amalfitano falou que as vendas de jatos executivos da EMBRAER no EUA não foram afetadas pelas tarifas sobre produtos importados do Brasil impostas pelo presidente Trump. E expressou otimismo de que o setor aeroespacial brasileiro possa obter uma isenção total da atual tarifa de 10% (anterior ao ‘tarifaço’) para aeronaves e seus componentes.
Amalfitano observou que, sob o Acordo sobre o Comércio de Aeronaves Civis de 1979, não havia tarifas sobre o setor aeroespacial até o anúncio no Liberation Day (Dia da Libertação) do presidente Trump, em 02 de abril. “É para lá que retornaremos como indústria. A indústria está muito comprometida com isso, em retornar ao regime de tarifa zero”, Amalfitano afirmou.
“Nosso pessoal de relações governamentais tem estado em Washington regularmente para discutir isso com o governo no Estados Unidos, bem como em Brasília para discutir o mesmo com autoridades brasileiras”, continuou Amalfitano. “Acho que eles ouviram a história da EMBRAER como empresa individual. Eles ouviram a história relacionada à EMBRAER e a todo o ecossistema aeroespacial, e estamos confiantes de que retornaremos à tarifa zero”, discorreu Amalfitano.
No interim, entretanto, a EMBRAER precisa lidar com o que Amalfitano disse estar “afetando” todos os produtos importados do Brasil. No entanto, enfatizou que a tarifa de 10% sobre jatos executivos não está inibindo os compradores no EUA. “Esses compradores podem comprar aeronaves no segmento de jatos particulares. Isso não está impactando a demanda de forma alguma. E como tenho o benefício de uma estratégia de disciplina de preços, somos capazes de absorver e impactar isso”, Amalfitano comentou.
Em agosto, o CEO da EMBRAER Francisco Gomes Neto afirmou que as tarifas infligiram uma perda de US$ 20 milhões em seus lucros do segundo trimestre. Gomes Neto afirmou que a EMBRAER, que tem seu centro global de atendimento ao cliente em Melbourne, na Flórida, está negociando o alívio das tarifas.
“Obviamente, isso está afetando os resultados gerais da empresa, mas estamos muito atentos à minimização dos impactos e buscando soluções para compensar isso. É muito mais fácil aumentar o preço das peças de todos os aviões do que aumentar o preço de um EJet [comercial] ou uma taxa maior para um produto ou um cliente”, disse Amalfitano. “Temos muitas maneiras de gerenciar isso ao longo do tempo, mas estamos esperançosos e confiantes de que os governos de ambos os países chegarão a uma solução bilateral, semelhante ao que fizeram com o Reino Unido, a UE e outros países”, explicou Amalfitano.
O conteúdo industrial americano nas aeronaves da EMBRAER ajuda a compensar as tarifas. A Amalfitano não detalhou a quantidade de conteúdo americano presente nos jatos executivos brasileiros, mas o presidente e CEO da unidade de aeronaves comerciais, Arjan Meijer, disse anteriormente ao Leeham News que o conteúdo americano reduziu a tarifa de 10% sobre seus aviões para uma taxa efetiva de 6%. [EL]
Razões dos analistas reiterarem otimismo com a EMBRAER depois do Dia do Investidor
Fonte: InfoMoney – 16/10/2025
O Dia do Investidor 2025 da EMBRAER aconteceu na última terça-feira (14), em Nova York, no Estados Unidos.
Os analistas do mercado financeiro continuam com um nível mais elevado de otimismo de crescimento e pela reafirmação das metas financeiras para 2025 e 2030. Segundo as ‘casas’ que acompanharam o encontro, a fabricante brasileira mostrou confiança em sustentar margens elevadas, apoiar-se na backlog recorde e consolidar novas ‘avenidas’ de expansão, como com a EVE Air Mobility.
“A administração transmitiu uma mensagem positiva sobre as perspectivas de curto prazo, demonstrando confiança em entregar a margem EBIT anual dentro do intervalo projetado, além de crescimento de receita em dígitos médios a altos até o fim da década”, avaliou o Itaú BBA.
O consenso dos analistas é que a EMBRAER está bem posicionada para cumprir seus objetivos de médio e longo prazo, com visibilidade garantida por uma backlog (carteira de encomendas) de quase US$ 28 bilhões e estratégias para crescimento, inovação e eficiência operacional.
Receita bilionária e margens em dois dígitos
As metas apresentadas pela EMBRAER foram bem recebidas pelo mercado.
O Bradesco BBI destacou que a companhia vê “potencial para alcançar receita anual na casa dos dois dígitos de bilhões de Dólares até 2030, o que representa crescimento médio anual de um dígito alto, com margem EBIT também de dois dígitos”.
O Goldman Sachs observou que a empresa manteve a projeção de 2025, com receita entre US$ 7 e US$ 7,5 bilhões, margem EBIT (lucro antes de juros e impostos) ajustada de 7,5 a 8,3% e geração de caixa livre acumulada de pelo menos US$ 2 bi entre 2021 e 2025. Segundo o banco, a Embraer também “apresentou metas de receita consolidada de ‘dois dígitos bilionários’ em 2030 e meados da faixa de dezena em 2035”.
A XP Investimentos ressaltou que a fabricante “reiterou o objetivo de alcançar receita e margem EBIT de dois dígitos até o fim da década”. Essas metas, segundo a XP, devem ser atingidas em 2028.
Backlog e perspectivas financeiras
A backlog da EMBRAER é apontada como um fator central para a visibilidade e previsibilidade das receitas futuras.
Segundo o Goldman Sachs, “a forte backlog garante que a companhia mantenha crescimento sustentável de receitas e margens, com potencial de expansão adicional caso as entregas superem as expectativas”.
O Bradesco BBI ressalta que a combinação de backlog robusto e diversificação de segmentos cria “uma visibilidade sem precedentes para o desempenho futuro da companhia”.
Além disso, todos os analistas apontam que existe upside adicional, caso projetos estratégicos, como EVE e novos desenvolvimentos de aeronaves, se concretizem antes do esperado, reforçando a atratividade do investimento.
Segmentos
No segmento de aviação comercial, os jatos E1 e E2 seguem como ‘pilares’.
O E1 (E175), com unidades esgotadas até 2030, “garante fluxo de receita e presença consolidada nos principais mercados, especialmente nos Estados Unidos”, aponta o Itaú BBA. Em relação ao E2 (E190/195), o destaque vai para maior eficiência, já que possui 85% de componentes novos, 30% menos consumo de combustível por assento. O modelo tem sido bem aceito globalmente, segundo os analistas do BBA.
A divisão de aviação comercial foi apontada pelos analistas como uma das bases do crescimento.
O Goldman Sachs afirmou que a EMBRAER continua com uma demanda global forte por conta de jatos regionais. A carteira da empresa tinha 437 aeronaves no segundo trimestre e crescimento de 19% nas entregas ano contra ano.
No segmento de jatos executivos, a demanda se mantém forte mesmo diante das tarifas de importação. Segundo o Goldman Sachs, “a expansão de clientes jovens e de frotas corporativas contribui para crescimento consistente do segmento”.
EVE e novos projetos
O projeto da subsidiária EVE, de aeronave elétrica de decolagem vertical (EVTOL), foi destacado como uma oportunidade transformacional.
A XP observa que há potencial de capturar novos mercados com a EVE, já que o projeto se trata de um passo estratégico da companhia sobre mobilidade urbana aérea, com certificação prevista para 2027.
O Itaú BBA destaca que a companhia estuda ainda novos projetos, incluindo jatos maiores ou menores, novas asas de próxima geração e aeronaves movidas a SAF (Combustível Sustentável de Aviação), eletricidade ou hidrogênio. Os analistas pontuam que as iniciativas da EMBRAER reforçam a diversificação de receita, o que consolida a posição competitiva da companhia.
A EMBRAER mantém também esforços em serviços e suporte. No Dia do Investidor, foi informado que a expectativa é que o segmento supere US$ 3 bilhões em receitas até 2030, impulsionado tanto pela frota própria quanto a de terceiros, criando uma fonte recorrente de receita e margem.
Perspectiva nas ações
Boa parte dos analistas recomenda a compra das ações da EMBRAER.
Mesmo após a forte valorização das ações no ano, o Itaú BBA afirmou que “continuamos vendo um retorno de 13,2% em três anos”. Os analistas recomendam a compra das ações da EMBRAER (NYSE: ERJ), com potencial de valorização 14% na estimativa de 2025, a US$ 69.
O Bradesco BBI manteve recomendação de compra e preço-alvo de US$ 72, observando que “a projeção da empresa de receita de dois dígitos em bilhões de Dólares e margem EBIT também de dois dígitos até o fim da década parece factível e alinhada às nossas estimativas”.
O Goldman Sachs baseia o preço-alvo de 12 meses em US$ 67, em dois pontos principais: um múltiplo de Valor Empresarial/EBITDA de 13,3 vezes para 2026, e a participação da companhia na EVE.
Por fim, a XP observa que o valuation atual ainda apresenta potencial de valorização, principalmente caso as entregas superem as estimativas ou os projetos estratégicos se consolidem.