Governo russo revisa plano de produção industrial de aeronaves comerciais, com meta de fabricação de 1.000 aeronaves até 2030, para suprir a falta de produtos da indústria ocidental, em 17.06.22


O Ministério de Indústria e Comércio da Rússia emitiu um plano governamental de trabalho revisado com a meta de produção de 1.000 aeronaves da indústria aeronáutica nacional até 2030.

A política industrial, que faz parte de um esforço coordenado do Kremlin para superar a disrupção do transporte aéreo russo pelas sanções e retaliações econômicas do ocidente para importação de aeronaves e componentes (na esteira do conflito geopolítico Rússia-Ucrânia), objetiva a produção de 564 tipos de passageiros de maior porte, com a seguinte composição:
[1] 12 jatos de fuselagem larga Ilyushin IL-96-300
[2] 270 jatos de fuselagem estreita MC21-310
[3] 70 jatos de fuselagem estreita Tupolev TU-214
[4] 124 jatos de fuselagem estreita na nova versão do Sukhoi SSJ-100
[5] 70 turboélices Ilyushin IL-114-300

Para operadores de serviços/rotas de curta distância, fabricantes russas também estão incumbidas da produção dos modelos turboélices Ladoga, L-410 e Baika.

O Ministério também planeja a produção de 746 helicópteros, incluindo 201 aparelhos Ansat e 276 aparelhos Mi-8, sendo estes os modelos mais populares na Rússia.

Os planos foram divulgados pelo ministro da pasta Denis Manturov em evento com imprensa durante o Fórum Econômico Internacional que foi realizado em St. Petersburg, nesta semana.

A necessidade de corrigir os planos anteriores de produção aeroespacial russa surgiu no final de março, quando o presidente Vladimir Putin emitiu uma diretiva após a reunião governamental sobre fabricação de aeronaves e desenvolvimento da aviação civil. “Juntamente com o ministério dos transportes, o meu ministério montou um novo programa para o desenvolvimento da indústria da aviação até 2030. Este documento inclui um novo plano para a produção de aviões e helicópteros, otimizado para nomenclatura, ciclos de produção e cronograma de entrega”, Manturov explicou.

Tocando na questão dos compromissos dos clientes, Manturov disse que as transportadoras russas responderam ao questionário dos dois ministérios. “Nas condições das sanções e restrições ocidentais, as companhias aéreas nos garantiram que o plano que compilamos para a produção de novas aeronaves será totalmente atendido com sua demanda solvente”, disse o ministro.

Manturov não disse explicitamente países que poderão importar algumas dessas aeronaves previstas no plano de produção, mas mencionou Argélia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Índia e Índia, entre os países “amigos”, com os quais discussões detalhadas neste sentido estão sendo realizadas durante o fórum.

Além da produção de projetos nacionais, as fabricantes aeronáuticas russas também foram encarregadas “conforme necessário” de engenharia reversa e produção nacional de produtos análogos para itens de fornecedores (estrangeiros) que costumavam ser importados. Isso segue um movimento recente da agência regulatória de segurança aérea russa Rosaviatsiya para emitir certificados para cinco grupos aeroespaciais russos para desenvolver peças/componentes para aeronaves estrangeiras/importadas, incluindo modelos Airbus e Boeing amplamente utilizados por transportadoras aéreas russas. A Rosaviatsiya também dispensou os requisitos para as cias. aéreas russas e suas organizações de manutenção usarem apenas peças certificadas pela FAA e EASA.

As cias. aéreas russas estão sofrendo cada vez mais com as sanções econômicas impostas pelo Ocidente em reação ao conflito da guerra e invasão da Ucrânia pela Rússia. Como compensação parcial, o Governo russo prometeu para as transportadoras subsídios no valor de 110 bilhões de Rublos em atividades operacionais, disse o vice-presidente do governo russo Andrei Belousov. Depois que a Airbus e a Boeing pararam de fornecer suporte técnico para suas aeronaves na frota russa, as cias. aéreas russas alertaram que, sem ajuda governamental, o setor de transporte aéreo enfrenta degradação, perda de pilotos e técnicos profissionais e falências.

Para lidar com a escassez já existente de jatos que podem voar com segurança para o exterior sem risco de apreensão (por ordem judicial de lessores), o Governo russo ordenou que a indústria local retomasse a produção do modelo Tupolev TU-214.

No mês passado, Aleksei Pesochin, primeiro-ministro do Tartaristão, Estado-membro da Federação Russa, informou ao Conselho de Estado da República que a fábrica KAPO, na capital tártara Kazan, vai completar 3 jatos TU-214 no próximo ano (2023), 7 jatos em em 2024, e depois continuar a um ritmo de 10 aeronaves por ano (implicando 70 jatos TU-214 até 2030, inclusive). “Para garantir isso, precisamos construir uma cadeia de cooperação industrial”, disse Pesochin. “Apesar de grandes investimentos vindos do orçamento federal para a fábrica, ainda existem algumas zonas cinzentas e incertezas”.  Devido a essas dificuldades, as fabricantes locais poderiam, na melhor das hipóteses, produzir apenas cerca de 110 novos jatos até 2025 (ante uma meta de produção de 1.000 aeronaves da indústria aeronáutica nacional até 2030, pelo plano do Ministério de Indústria e Comércio).

Assim, a ROSTEC – corporação estatal que controla todos as fabricantes de aeronaves da Rússia – divulgou que continuará mantendo o Ilyushin IL-96-300 em produção em série limitada a uma taxa de dois jatos por ano, embora admitindo que o Tipo é impopular com as cias. aéreas. A ROSTEC vê essa abordagem como necessária para preencher a lacuna antes que a United Aircraft Corporation da Rússia possa obter versões revisadas do SSJ-100 e MC-21 em produção. Esses projetos tiveram que ser adaptados para levar em conta a indisponibilidade de sistemas ocidentais, incluindo motores. [EL] – c/ fontes