CENIPA lista incidente de perda de separação entre dois bimotores no tráfego de aeródromo em Chapecó/SC, de um King Air C90 decolando e de um Cessna C401 ingressando no circuito para pouso, em 28.10.22
O painel SIPAER, do CENIPA, lista uma ocorrência de incidente de “Perda de Separação / Colisão em vôo” (MAC) e “Manobra Abrupta” (AMAN), registrado no dia 05 de agosto passado, no Aeroporto Serafin Enoss Bertaso (SBCH), em Chapecó/SC, envolvendo um bimotor turboélice King Air C90 em decolagem (para Florianópolis) e um bimotor a pistão Cessna C401 em chegada (procedente de Foz do Iguaçu).
No tocante da investigação aeronáutica pela CENIPA, os aviões foram liberados para os operadores. Os trabalhos do CENIPA relativos à ocorrência foram encerrados logos após o registro inicial, com coleta de dados.
No dia 05 de agosto (6ª), o bimotor turboélice Beechcraft King Air C90GTi de matrícula PS-TAH decolou do Aeroporto Serafin Enoss Bertaso (SBCH), em Chapecó/SC, com destino do Aeroporto Hercílio Luz (SBFL), em Florianópolis/SC (à distância de 220 MN, a leste-sudeste – RM 117º), aproximadamente às 17:22Z (14:22LT). O Beechcraft King Air C90GTi executava vôo de transporte de enfermo, com seis ocupantes, sendo quatro passageiros e dois pilotos.
NA FIR Curitiba (SBCW), jurisdição do CINDACTA-II, o Aeroporto Serafin Enoss Bertaso (SBCH), em Chapecó/SC, em elevação de 2.154 pés, tem pista (11/29 – 114º/294º) de 45 x 2.063 m., de asfalto, com resistência de pavimento PCN 45 e resistência de subleito média. O aeródromo é público, operado pela VOA XAP (concessionária SPE), com homologação para operação VFR diurna/noturna e IFR diurna/noturna; conta com serviço de informação de tráfego aéreo de aeródromo (AFIS), no expediente de 12:00-14:00Z (09:00-11LT), de 2ª até 6ª, não sendo um aeródromo controlado. Para operação no aeródromo, não há carta VAC, e nem regra específica para circuito de tráfego (implicando, pois, operação por circuito de tráfego padrão, com altitude mínima de 1.000 pés AAL para aeronaves com motorização à hélice), enquanto a operação IFR conta com procedimentos de saída para cabeceira 29 (do tipo OMNI e por navegação por satélite) e com procedimentos de aproximação por navegação por satélite para as duas cabeceiras.
O Beechcraft King Air C90GTi de matrícula PS-TAH, registro de produção sn LJ-1864, ano de fabricação 2008, é propriedade da empresa (RBAC-135) Hércules Táxi-Aéreo, operado via arrendamento pelo Corpo de Bombeiros do Estado de SC, estando registrado na categoria de transporte da Administração Pública Direta Estadual (ADE). O avião é aprovado para até sete passageiros e MTOW de 4.756 kg. O Certificado de Aeronavegabilidade (CA) foi emitido em agosto de 2021, o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) tem validade até fevereiro de 2023.
A tripulação do King Air C90GTi fez uma decolagem corrida da pista 29 uma vez que um outro avião, o bimotor Cessna C401A de matrícula PR-XFR, do transporte privado, procedendo de Foz do Iguaçu/Cataratas (SBFI), no Paraná/PR (a cerca de 135 MN a noroeste – RM 151º), reportara posição na perna-base da pista 29, para pouso.
O Cessna C401A (C402) de matrícula PR-XFR, registro de produção sn 401A0059, ano de fabricação 1960, é propriedade de uma Pessoa Jurídica (com sede em Resende/RJ), registrado na categoria do transporte privado (RBAC-91), com último registro de compra/transferência em fevereiro de 2021. O avião (motorização convencional) é aprovado para até sete passageiros e MTOW de 2.858 kg, para operação IFR diurna/noturna. O Certificado de Aeronavegabilidade (CA) foi emitido em agosto de 2020, o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) tem validade até setembro de 2023 (com IAM posterior à ocorrência).
Ao momento da operação, o aeroporto de Chapecó (SBCH) tinha tempo bom, em condição VMC, com visibilidade de 10 km ou superior, céu esparso com base a 2.500 pés, vento sudoeste (240º) fraco, temperatura do ar estável de 17ºC e QNH estabilizada de 1.017 hPa.
METAR SBCH 051600Z 22008KT 9999 SCT020 16/11 Q1018=
METAR SBCH 051700Z 24008KT 9999 SCT025 17/14 Q1017=
METAR SBCH 051800Z 18008KT 9999 SCT025 17/09 Q1017=
METAR SBCH 051900Z 24008KT 9999 SCT020 17/11 Q1017=
Não havendo aerovia para vôo entre Chapecó e Florianópolis, e com Chapecó operando em condição VMC, na decolagem da pista 29, o avião (King Air) poderia curvar à esquerda, para seguir paralelamente à pista (voando no RM 114º) e na sequência curvar para interceptar rota direta para Florianópolis (sendo RM 117º, a partir do ARP SBCH), ou uma rota alternativa de fixos de aerovias cruzando a rota, ou por navegação por rádio-auxílio VOR de Florianópolis (FLN), em curso direto. Ou, seguir o perfil do procedimento da saída OMNI, com instrução de, após decolagem, manter proa 296º até 2.700 pés (546 pés AAL) e curvar para interceptação de rota.
Procedendo de Foz do Iguaçu/Cataratas (SBFI), a chegada do Cessna C401, naturalmente, seria pelo setor noroeste (voando com RM 331º, de rota direta), para ingressar numa perna do vento (pela esquerda) – setor sul – para a pista 29. O bimotor executava vôo do transporte privado, com dois ocupantes, sendo um passageiro e um piloto.
Após a decolagem, a tripulação do King Air verificou que o Cessna estava voando no perfil da base para a pista 11 (após a informação prestada pelo piloto do Cessna de posição na perna-base da pista 29, para pouso), a tripulação do King Air julgou que ambas as aeronaves estariam em rota de colisão e realizou manobra evasiva para livrar o tráfego. A tripulação do King Air relatou que o Cessna passou a ser identificado no TCAS “como tráfego no status amarelo” e que houve o acionamento do alerta sonoro “TRAFFIC” – o que sugere a informação no sistema quanto à presença do Cessna na condição de TA – Traffic Advisoy (Alerta de tráfego), para um tráfego (aeronave) em posição e deslocamento para um potencial risco de conflito.
O restante do vôo do King Air ocorreu sem mais anormalidades.
Conforme a súmula factual inicial pelo CENIPA, pode-se supor que, na decolagem da pista 29, a tripulação do King Air, ao verificar que o Cessna estava voando no “perfil da base para a pista 11”, o Cessna estaria à direita e à frente, numa trajetória perpendicular convergente para a trajetória no eixo da decolagem da pista.