CEO da Airbus vê pressão contínua da cadeia de suprimentos para o setor aeroespacial, em 30.11.22


A indústria européia da aeronáutica civil demonstrou sua resiliência durante o Covid-19, mas o aumento da produção pós-pandemia está se mostrando mais difícil do que o previsto devido a problemas persistentes na cadeia de suprimentos, de acordo com o CEO da Airbus, Guillaume Faury.

“Estamos operando nesta restrição [de oferta] e ambiente complexo, enquanto a demanda é muito forte”, comentou o executivo durante uma coletiva de imprensa nesta terça dia 29 organizada pela ASD Europe, o grupo do trade de negócios das indústrias européias aeroespaciais, de segurança e de Defesa, com sede em Bruxelas (Bélgica). “Acreditamos que estaremos operando neste ambiente de restrição de oferta por pelo menos um ano”, acrescentou Faury.

Mas, para ele, esse ambiente de restrição de oferta não é exclusivo da indústria aeroespacial. As cias. aéreas estão enfrentando o mesmo ambiente em que a demanda é maior do que a oferta.

“Eles têm que lidar com a escassez de mão de obra, escassez de mão de obra nos aeroportos, escassez de aviões”, observou Faury, alertando que as interrupções enfrentadas pelas cias. aéreas e passageiros neste verão provavelmente continuarão. “A boa notícia é que a demanda por viagens aéreas existe e essa demanda reprimida vai continuar”, Faury afirmou.

O líder executivo da Airbus reconheceu que a crise da cadeia de suprimentos se estenderá por mais tempo do que o projetado alguns meses atrás. “É mais desafiador e um ambiente mais difícil enquanto falamos”, disse Faury, embora ele tenha permanecido ambíguo em uma pergunta sobre se a situação da cadeia de suprimentos está se deteriorando ou melhorando: “Acho que não vai melhorar. Não acho que vai piorar também no curto prazo, ou seja, piorar ou vai melhorar no curto prazo, nos próximos seis meses”, respondeu.

Faury insistiu que se absteria de “citar e constranger” fornecedores específicos. “Ela [crise da cadeia de suprimentos com restrição de oferta em ambiente complexo] vem de todos os lugares, de pequenos fornecedores a grandes fornecedores de primeira linha. Não está vinculado a um país ou a uma commodity”, afirmou Faury.

As restrições de oferta se estendem por “muitas perspectivas”, explicou Faury, desde matérias-primas a peças e chips microeletrônicos, até a escassez de mão de obra qualificada. Elas decorrem da pandemia de Covid e também das complexidades decorrentes do efeito cascata da invasão da Ucrânia pela Rússia, especialmente no preço da energia, nas taxas de juros e na inflação. Além disso, as regras estritas contínuas da Covid na China estão dificultando o aumento da produção e o retorno ao normal. Não há nenhuma situação de evento totalmente nova. O ambiente continua muito complexo e é realmente o principal desafio que temos que enfrentar”, comentou Faury.

As preocupações de Faury com as dificuldades da cadeia de suprimentos ecoaram comentários feitos no mesmo dia por Kevin Craven, CEO do grupo industrial britânico ADS – Aerospace, Defense, Security and Space (Aeroespacil, Defesa, Securança e Espaço).

Craven disse em uma conferência da Royal Aeronautical Society (Sociedade Aeronáutica Real), em Londres, que o fornecimento de materiais e o aumento dos custos de itens como combustível estão se mostrando cada vez mais ‘dolorosos’ para suas empresas associadas.

Sem descartar o maior nível de tensão entre o Ocidente e a China, Faury rejeitou previsões recentes de alguns analistas de que isso poderia levar a uma dissociação das principais economias. “Não acredito em dissociação, dada a profundidade das interdependências econômicas e industriais da cadeia de suprimentos do Ocidente e da China”, avaliou Faury, reconhecendo que a Airbus “teria que olhar para os riscos [associados a ter parte de sua cadeia de suprimentos na China]”.

Faury declinou comentar se a Airbus cumprirá sua meta de entrega de aeronaves do transporte comercial – de “cerca de 700 aeronaves” – neste ano, ele dizendo apenas que terá uma imagem mais clara até o final de dezembro.

De acordo com os seus dados de entrega e pedido mais recentes, a Airbus entregou 497 jatos comerciais para 72 clientes nos primeiros 10 meses do ano.

Questionado por representante da mídia de aviação AIN se ele compartilha as preocupações regularmente expressas pelos executivos-chefes das cias. aéreas da Europa de que a multiplicidade de propostas legislativas destinadas a descarbonizar a economia e a aviação da União Européia (UE) prejudicará seu crescimento, competitividade internacional e capacidade financeira para investir em novos tecnologias e aeronaves, Faury respondeu: “A UE tem um forte compromisso com a agenda verde e nós compartilhamos esse compromisso. Por outro lado, é importante que a regulamentação [como as iniciativas Fit for 55 e ReFuelEU] mantenha a competitividade em relação ao resto do mundo e mantenha condições equitativas”.

A redução do impacto ambiental da aviação na UE “não deve sobrecarregar a indústria com camadas adicionais de regulamentação e impostos”, enfatizou Faury. “É aqui que nós, enquanto indústria e associação [ASD Europe], desempenhamos um papel para explicar, convencer, partilhar dados para mostrar qual será a consequência desta ou daquela legislação proposta. No geral, apoiamos [a atual onda de propostas da UE que impulsionam a descarbonização da aviação], mas vemos que em outras partes do mundo eles escolheram um caminho de incentivos”, Faury completou.

O secretário-geral do ASD Europe, Jan Pie, disse que todos os membros do órgão comercial estão comprometidos em alcançar zero emissões líquidas de dióxido de carbono (CO2) na aviação até 2050, observando que o impacto das indústrias aeroespacial e de defesa no produto interno bruto (PIB) e no emprego da Europa, “é muitas vezes esquecido e subestimado” ao avaliar sua “importante contribuição para a prosperidade da Europa”.

O PIB total suportado pela indústria aeroespacial e de defesa européia foi de € 240 bilhões (US$ 247 bilhões) em 2021, o que posiciona o setor no nível médio do PIB entre os países europeus. As receitas das indústrias aeroespacial e de defesa da Europa atingiram € 238 bilhões em 2021, um aumento de 10% em relação a 2020, mas ainda um pouco abaixo do nível recorde de 2019. O setor da aeronáutica civil representou 45% das receitas totais dos membros da ASD em 2021, com um aumento de mais de 30% em relação a 2020, para € 106,4 bilhões. [EL] – c/ fontes