Ameaça de tarifário pelo EUA se espalha por toda a indústria da aviação, em 09.03.25


A editora da revista mensal AIN Kerry Lynch, em postagem no dia 05 na plataforma online da mídia, repercute desdobramento da prometida política do governo do presidente Donald Trump de imposição de novas tarifas sobre produtos importados no EUA.

Lynch escreveu que a comunidade da aviação continua a determinar a extensão das ramificações da implementação de tarifas no EUA e ações retaliatórias de outras nações, mas as preocupações se espalharam globalmente por toda a indústria.

As tarifas recentemente implementadas incluíam uma taxa adicional de 25% sobre a maioria dos produtos provenientes do Canadá e México e uma tarifa de 10% sobre produtos de energia do Canadá. Além disso, o EUA impôs outra tarifa de 10% sobre certos produtos da China, juntamente com os 10% anteriores já impostos sobre produtos como eletrônicos. Todas as três nações – Canadá, China e México – estão retaliando. Separadamente, o EUA impôs e/ou aumentou as tarifas sobre importações de alumínio e aço para 25%.

Apesar dos acordos comerciais anteriores que protegeram a indústria aeroespacial de tarifas então vigentes, as aeronaves e seus componentes parecem estar cobertos pela rodada mais recente, acreditam grupos da indústria. Ainda não está claro os efeitos compostos dos componentes que podem cruzar de um lado para o outro entre as fronteiras à medida que são concluídos e/ou reparados.

Lynch também escreveu que, ainda sim, grupos industriais estão alarmados devido à natureza complexa e global da indústria, onde as aeronaves são projetadas para capacidades e certificadas com vários componentes grandes, e fazer uma mudança não é uma opção possível de curto prazo — ou mesmo de longo prazo, em alguns casos.

As fabricantes de aeronaves executivas americana Textron Aviation e francesa Dassault Aviation exemplificaram isso quando cada uma foi forçada a arquivar novos projetos de aeronaves depois que o motor Silvercrest, da fabricante de motor francesa Safran (ex-SNECMA), teve problemas no seu programa de desenvolvimento e testes.

A Safran Aircraft Engines opera duas joint ventures com a americana GE Aerospace: a CFM International, a principal fornecedora mundial de motores para aeronaves comerciais, e a CFM Materials.

Na divulgação de seus resultados financeiros (4T24 e 2024), nos primeiros dias do mês de fevereiro, a fabricante canadense Bombardier adiou o anúncio de seu guidance (metas) para 2025, pois aguarda clareza sobre a extensão total do novo quadro de tarifas. Segundo Lynch, iniciando março a Bombardier ainda estava avaliando a situação — que várias fontes observam como seguindo de forma fluida — e reiterou seus comentários iniciais de que as (novas) tarifas prejudicariam ambos os lados da fronteira. “Há muito em jogo para nossa indústria”, alertou o presidente e CEO da Bombardier, Éric Martel, observando que a Bombardier tem 2.800 fornecedores baseados no EUA, em 47 Estados, que criam dezenas de milhares de empregos no EUA. “Ao longo dos anos, a Bombardier criou uma balança comercial recíproca com o EUA que pode ser demonstrada onde nós e os EUA temos uma vitória igual. Esta indústria foi construída por meio de décadas de colaboração”, disse Martel.

Enquanto isso, o  presidente da IAM – International Association of Machinists and Aerospace Workers (associação internacional de trabalhadores de maquinaria e aeroespaciais) Brian Bryant e o vice-presidente geral canadense David Chartrand, conjuntamente, condenaram, no dia 04, as tarifas, chamando a decisão de seguir em frente com as mesmas de imprudente. “Esta ação prejudicial ameaça empregos, aumenta os preços e prejudica a parceria econômica de longa data entre o EUA e o Canadá”, disseram os líderes, chamando a ação de um ataque injustificado a um aliado confiável.

Do outro lado do Atlântico, na Europa, líderes da Dassault e da Airbus expressaram preocupações de que essas tarifas poderiam se espalhar para a Europa.

O CEO da Airbus, Guillaume Faury, disse anteriormente à CNBC que a empresa francesa pode priorizar fornecedores não americanos, enquanto o presidente e CEO da Dassault Aviation, Éric Trappier, alertou na no dia 05, pela manhã, que está reavaliando os planos de contratação em todo o grupo porque “não sabemos o que acontecerá em termos de tarifas e o que pode acontecer [para as entregas dos jatos Falcon] no EUA”.

A GAMA – General Aviation Manufacturers Association (associação de fabricantes da aviação geral) também alertou: “Dada a natureza global da indústria de fabricação de aviação, essas tarifas propostas, bem como potenciais tarifas recíprocas, podem ter um impacto enorme com muitas consequências não intencionais na indústria”. Sediada no EUA, a GAMA divulga que as fabricantes de aeronaves de asa fixa exportaram 490 aviões a pistão, turboélice e jato em 2024, avaliados em US$ 4,8 bilhões, e que isso representou 31,2% de todos o faturamento das fabricantes da aviação geral do EUA.

“Crítico para esta indústria essencial é uma cadeia de suprimentos global complexa e altamente regulamentada, apoiada por uma série de acordos bilaterais que são necessários para atender a padrões de segurança rigorosos, ao mesmo tempo em que garante o fluxo confiável de produtos altamente especializados”, já apontou a NBAA (associação da aviação executiva americana), inicialmente.  A NBAA planejou um webinar para se aprofundar no assunto.

Enquanto isso, no Canadá, a Aéro Montréal (núcleo da indústria aeroespacial canadense em Quebec) está pesquisando seus membros para avaliar o impacto total das tarifas. [EL] – c/ fonte