Atraso do motor turbofan russo e as restrições de componentes por sanções à Russia (pela invasão da Ucrânia) atrasando e colocando risco no programa sino-russo do jato comercial widebody CR-929, em 26.08.22


A escassez de financiamento atrasará em até três anos o desenvolvimento de um motor turbofan de elevado empuxo com que a indústria russa espera equipar o prospectivo jato comercial de fuselagem larga (widebody), de projeto binacional sino-russo, designado CRAIC CR-929. Isso de acordo com Alexander Inozemtsev, o responsável de projeto da fabricante de motor Aviadvigatel, integrante do conglomerado russo United Engine Corporation.

Ainda assim, os líderes do programa esperam montar um demonstrador do motor (designado PD-35) totalmente funcional até 2024.

Inozemtsev transmitiu sua mensagem enquanto falava com jornalistas no Fórum Técnico-Militar Internacional das Forças Armadas 2022, realizado em Kubinka (Rússia), de 15 a 21 de agosto.

“Sem dúvida, montaremos um motor de demonstração completo e o testaremos até 2024. Mas os próximos passos serão dados dependendo das condições”, falou Inozemtsev.

Enquanto isso, a joint venture de composição 50%-50% CRAIC, entre a UAC, da Rússia, e a COMAC, da China, não escolheu oficialmente um motor CR-929.

O agravamento da situação geopolítica entre o Ocidente e a Rússia e a China tornou cada vez mais difícil para as fabricantes General Electric (americana) e Rolls-Royce (britânica) concorrerem a um posto de fornecedora no programa, com os seus motores GEnx-1B76 e ​​Trent 1000, respectivamente.

A liderança do programa remarcou o primeiro vôo do CR-929, anteriormente previsto para 2023, para 2025, mas atingir essa meta parece irreal sem motor de fabricantes ocidentais.

O esforço de projeto do turbofan AECC CJ-2000, da China, para produzir um motor adequado na classe de empuxo de 77.000 lbf. usando tecnologias ucranianas parou, deixando o motor PD-35, da russa Aviadvigatel, como a única solução plausível.

“A Airbus e a Boeing dominam este mercado hoje”, disse certa vez o ministro russo da Indústria e Comércio, Denis Manturov, a seus colegas chineses. “Nosso projeto widebody oferece uma alternativa, que dificilmente os deixará felizes. Quando estivermos prestes a concluir o trabalho, poderemos ser informados de que seus grandes motores não estão disponíveis para nós por algum motivo. Tenho certeza de que eles dariam pelo menos dez explicações [ou desculpas] para isso”, Manturov completou.

Recentemente, Manturov tocou no assunto novamente no Fórum Econômico Internacional 2022, em St. Petersburg (Rússia), afirmando que as sanções ocidentais a Moscou e o agravamento das relações EUA-China por causa da disputa em relação a Taiwan exigem que o projeto CR-929 seja revisitado e reformatado. “Há um processo em andamento relacionado ao CR-929”, observou Manturov. “Mas, levando em conta os novos insumos e as restrições que estão presentes hoje, a cooperação industrial que formamos com nossos parceiros chineses e com a participação de fabricantes ocidentais é impossível hoje”, pontuou Manturov, para emendar: “Portanto, precisamos investir tempo para retrabalhar os princípios para contar apenas com fornecedores russos e chineses”.

Manturov acredita que os líderes do programa concluirão essa “reorganização de fornecedores” até o final do ano.

No final deste verão, o vice-presidente do governo russo, Yuri Borisov, reconheceu um declínio na participação de seu país no projeto CR-929. “Este projeto entre nós e a China vai em uma direção que não nos satisfaz”, disse Borisov. “A China, à medida que continua se transformando em uma gigante industrial, tende a se interessar cada vez menos por nossos serviços. Enquanto isso, temos a divisão de projeto trabalhando, [e] temos uma enorme experiência no TsAGI [Instituto Central de Aero-hidrodinâmica, da Rússia]. Por sua vez, os chineses têm um mercado maior. Nossa participação [no programa] vai caindo e caindo. Não quero fazer nenhum prognóstico para o futuro deste projeto – se o deixaremos ou não – porque, na verdade, ele continua avançando”.

Moscou e Pequim continuam a enviar sinais um ao outro sobre sua prontidão para trabalhar conjuntamente no projeto do CR-929, mas cada país quer que o outro parceiro faça concessões em vista da nova realidade que reflete as mudanças geopolíticas em curso.

A versão base de linha CR-929-600 transportaria 280 passageiros com um layout de três classes, com alcance de 12.000 km (6.480 MN). A Família também inclui a variante estendida CR-929-700, com capacidade de transportar 320 passageiros e alcance de 10.000 km (5.400 MN), e uma variante encurtada CR-929-500, para 250 passageiros e alcance de 14.000 km (7.550 MN). [EL] – c/ fontes