Bombardier chega à convenção/exposição NBAA-BACE na nova condição de fabricante de aviação executiva “pura”, em 13.10.21


A canadense Bombardier regressou à convenção de aviação executiva americana, a NBAA-BACE 2021, na nova condição de fabricante de aeronaves executivas “pura”, como uma empresa mais focada, em uma posição mais sólida e com uma atualização de produtos em mãos. A fabricante com sede em Montreal abandonou a última de últimos negócios fora da aviação, com a venda do seu negócio de trem ferroviário para a Alstom – e emergiu, finalmente, como uma empresa de aviação executiva “pura”.

Essa venda, que resultou em receitas líquidas de US$ 3,6 bilhões, seguiu-se a uma série de outras alienações envolvendo os negócios de aviões do transporte comercial e de aeroestruturas e até mesmo suas unidades de treinamento. Essas mudanças foram necessárias devido a uma “montanha” de dívidas que pesava sobre a empresa e turvava seu futuro.

Mesmo após a última venda da Alstom, a Bombardier relatou dívida líquida pro forma de US$ 4,7 bilhões, levando alguns analistas a questionar se suas dificuldades continuariam, dada sua posição financeira e sem diversos negócios para se equilibrar. E, na época, a pandemia parecia exacerbar a situação com restrições de viagens e questões de saúde e segurança sanitária, tornando mais difíceis as entregas de aeronaves, ações de vendas e uma cadeia de fornecimento/suprimento estável.

Mas o CEO da Bombardier, Eric Martel, que assumiu seu cargo em abril de 2020, traçou um plano que envolvia algumas escolhas difíceis, incluindo demissões e a decisão de fechar a linha da Família do jato leve Learjet da empresa. Ele também criou uma abordagem disciplinada e focada em seus custos, gerenciamento de dívidas e visão.

No final das contas, o momento parecia certo. Como as pessoas se afastaram das cias. aéreas, se voltaram para a aviação executiva para viajar. Martel sustentou, no segundo trimestre de 2020, que via uma vantagem à frente e o fortalecimento das viagens. Isso foi logo depois que a pandemia atingiu a indústria da aviação.

Para matéria da AIN, pela articulista Kerry Lynch, por ocasião da NBAA-BACE, Martel disse que as pessoas duvidaram dessa opinião, mas que ele já está ouvindo sinais encorajadores dos fornecedores de frotas. Martel admitiu que não esperava que os negócios voltassem com tanta força tão rapidamente, mas não ficou surpreso com a recuperação geral.

Martel citou estudos que mostram que menos de 1/5 (20%) das pessoas de elevado poder aquisitivo, que podiam se dar ao luxo de voar a bordo de um jato executivo, estava aproveitando a oportunidade. Com a pandemia, a mudança de viajantes/passageiros para a aviação executiva “acelerou claramente” e, particularmente, para os fornecedores de frotas, quase todos reportaram problemas de tráfego, disse Martel.

Tudo isso beneficiou a Bombardier e ajudou a fortalecê-la. Embora o acúmulo de pedidos tenha sido afetado durante a pandemia – bem como devido a um aumento nas entregas de seu produto-chefe, o jato de cabine larga de alcance ultralongo Global 7500 – as vendas mudaram significativamente, aproximando-se de uma relação book-to-bill (encomenda/fatura na entrega) de quase 2:1 até o final do segundo trimestre deste ano. Além disso, os preços se firmaram nos últimos quatro a cinco meses, acrescentou Martel.

Martel resumiu o segundo trimestre para os analistas como “muito melhor, melhor receita, melhor lucratividade, melhor geração de caixa, melhor receita de serviço e, talvez, o mais importante, melhores vendas de aeronaves”.

Com isso, a Bombardier elevou sua projeção para o limite superior de sua previsão anual inicial: 120 entregas de aeronaves para 2021. E Martel mostrou-se animado com a continuidade das vendas fortes. “Estamos bem posicionados com os provedores de frotas”, observou Martel. Esta tem sido uma parte central das vendas da fabricante canadense, particularmente para sua venerável linha do jato supermédio Challenger, Martel acrescentou, observando que uma versão do Challenger 300/350 é encontrada com muitos dos principais operadores de frotas.

Com base e trabalhando nesse sucesso, especialmente à medida que o segmento de jato supermédio fica um pouco mais disputado, a Bombardier lançou recentemente o mais novo ‘pacote’ de melhorias para a Família Challenger, com muitos aditivos que refletem as expectativas atuais dos viajantes, como recursos para um sistema de gerenciamento de cabine controlado por voz, menor altitude da pressurização da cabine e a incorporação dos assentos de última geração da fabricante Nuage. Adicionalmente, a nova versão foi redesignada para Challenger 3500, com esta nomenclatura em numeral aproximando o modelo ao padrão adotado na Família Global (nos modelos 5500/6500 e 7500). A atualização é importante, disse Martel, porque envia “uma forte mensagem de que o Challenger é muito importante para nós”, e acrescentou que a nova aeronave demonstra que a empresa está ouvindo seus clientes. “Queríamos preservar essa posição de liderança nesse segmento de mercado”.

Para a exposição na NBAA-BACE 2021, a Bombardier trouxe um mockup do Challenger 3500.

Martel disse que a atualização do Challenger 3500 estava sendo bem recebida – na verdade, o fabricante chegou à convenção NBAA0BACE com um pedido firme em mãos de um cliente não divulgado para 20 jatos Challenger 3500, com valor de US$ 534 milhões, sua maior venda isolada no ano.

O lançamento do Challenger 3500 também ocorreu quando a Bombardier tomou uma decisão estratégica de manter baixo seu dispêndio com pesquisa e desenvolvimento (PeD/R&D) e recomendou para comunidade de analistas não esperar aeronaves de novo projeto (“folha limpa”) nos próximos anos.

No entanto, conforme evidenciado pela atualização Challenger 3500, a Bombardier está continuando seus esforços de pesquisa e desenvolvimento. Martel enfatizou que a Bombardier está em uma posição forte com sua linha de aeronaves por enquanto, tendo trazido o Global 7500, 5500 e 6500 ao mercado nos últimos três anos, mas que está olhando para onde quer estar no futuro.

Uma das principais áreas em que a Bombardier está focada é a sustentabilidade. Esta foi uma parte importante do lançamento do Challenger 3500, com uma EPD (Environmental Product Declaration, ou Declaração Ambiental do Produto), a a primeira para essa categoria de aeronave, novas opções de interior sustentáveis, testes de voôo usando combustível de aviação sustentável (SAF) e um aplicativo para ajudar os pilotos otimizar planos de vôo para economizar combustível. Segundo Martel, os esforços vão muito além do Challenger 3500, no entanto. Martel disse que a Bombardier está gastando mais em pesquisa e desenvolvimento em áreas de sustentabilidade do que qualquer outra. Isso inclui a busca por novos meios de fornecer energia às aeronaves, incluindo a otimização elétrica, bem como a aerodinâmica e outros aprimoramentos que podem chegar a futuras aeronaves. “Existem maneiras de obtermos, agora, uma porcentagem bastante significativa de redução nas emissões”, disse ele. “Não posso dizer mais do que isso hoje, mas eventualmente o faremos. Mas tenho coisas muito interessantes acontecendo”, completou no assunto.

Enquanto contempla o futuro, a Bombardier está focada em cumprir suas “promessas” financeiras a seus investidores. Desde que se tornou uma empresa de aviação executiva “pura”, a Bombardier identificou a maior parte de uma meta de redução de custos de US$ 400 milhões e, no final de julho, pagou três quartos (75%) de seus vencimentos até 2023. E foi capaz de garantir US$ 1,5 bilhão em novas dívidas de detentores de títulos com vencimento entre 2026 e 2034. Martel disse acreditar que as melhorias no mercado de jatos executivos ajudaram nessa frente e que agora há mais investidores e credores interessados em liberar financiamento.

Ele também contestou as alegações de que ser uma empresa “pura” coloca a Bombardier em desvantagem, dizendo que sua linha de produtos é equilibrada.

A Bombardier tomou a decisão estratégica de se concentrar em três áreas – jatos executivos de médio e grande porte e serviços. A fabricante já está no meio de uma expansão de serviços de 10 anos e viu essas receitas crescerem de forma incremental como resultado.

A fabricante canadense decidiu sair do segmento de jato leve, de margem inferior, e encerrar a produção da linha Learjet, com o último Learjet 75 saindo da montagem no início do próximo ano. Embora Martel tenha considerado essa uma decisão difícil, mas estratégica, ele destacou que outras linhas de produtos responderam por 90% da receita, e que as vendas dessas linhas de produtos resistiram à recessão de 2008/2009 e foram resilientes, numa observação do executivo.

Uma ação importante de ressaltar foi que a Bombardier trabalhou e lidou com os custos iniciais de fabricação com o Global 7500, com a produção do centésimo aparelho da linha seriada em andamento, e Martel foi incentivado pela força do interesse (demanda), já que a carteira de pedidos se estendeu por dois anos, com plano de produção de pelo menos 35 jatos por ano durante nos próximos anos. A Bombardier deve gerar receitas crescentes e mais lucratividade como resultado, disse Martel. [EL] – c/ fontes