Concorrência não afetará os planos da EMBRAER do seu avião turboélice convencional, em 16.07.22
A mídia AIN esteve com a EMBRAER às vésperas da feira aeronáutica européia Farnborough Airshow. Falando durante o último de uma série de briefings em suas instalações em São José dos Campos, no estado de SP, antes da feira, o CEO da aviação comercial EMBRAER Arjan Meijer falou dos planos de um avião turboélice convencional, entre outros temas.
Os planos recentemente anunciados pela ATR para equipar sua Família de turboélices com propulsão híbrida-elétrica para entrar em serviço até 2030 não afetaram a idéia da EMBRAER sobre um projeto totalmente novo equipado com motor turboélice convencional, de acordo com Meijer.
Meijer observou que as conversas da EMBRAER com potenciais operadores e fabricantes de motores não levantaram muitas dúvidas sobre a estratégia fundamental da fabricante brasileira.
“Fizemos RFIs [Request for Information – Pedido de informação], estamos em contato muito próximo com as fabricantes de motores”, disse Meijer. “Acreditamos que temos uma boa noção do que está lá hoje, o que está por vir e quais tecnologias podem vir no futuro … Também sabemos que trazer novas tecnologias realmente diferentes para o nosso mercado também traz algum risco para o operador”, Meijer prosseguiu.
Meijer acrescentou que levará mais tempo para que novas tecnologias de propulsão, como híbrido-elétrico e hidrogênio, avancem o suficiente para equipar com eficiência um turboélice maior e mais pesado, adequado para transportar entre 70 e 90 passageiros, como proposto pela EMBRAER.
Um chamado roteiro de sustentabilidade publicado recentemente pela EMBRAER apresenta a introdução de um turboélice movido a hidrogênio em 2045.
“Será um avanço massivo antes que os híbridos ou mesmo o hidrogênio sejam adequados para uma aeronave de 70 a 90 assentos, porque 70 a 90 assentos para todos nós soa como uma aeronave pequena, mas é muito peso que você tem que tirar do chão”, enfatizou Meijer, para emendar: “Então, acreditamos que precisaremos de mais tempo [e] mantemos o foco em nosso projeto [turboélice]”.
Agora, esperando lançar o novo turboélice 100% compatível com SAF no início e meados de 2023, a EMBRAER já fez algumas mudanças fundamentais no design proposto desde que revelou pela primeira vez a renderização artística em outubro de 2020. Mais notavelmente, a EMBRAER mudou a posição dos motores, inicialmente sob as asas para a parte traseira da fuselagem, um movimento destinado a facilitar as tarefas de manutenção, mitigar o ruído e simplesmente melhorar a estética do avião. A EMBRAER optou por usar uma fuselagem metálica baseada na fuselagem desenvolvida originalmente para o jato comercial EJet, hoje na segunda geração.
A EMBRAER estabeleceu uma meta de certificação para o final de 2027 para uma das duas capacidades em número de assentos em seus planos, embora ainda não tenha decidido qual virá primeiro.
A EMBRAER realizou testes em túnel de vento em março passado para determinar as características aerodinâmicas das hélices e iniciou uma série de testes para todo o avião em junho. A EMBRAER espera concluir essa fase de testes no próximo mês (agosto).
Também falando no briefing em São José dos Campos, o chefe de engenharia da EMBRAER Luis Carlos Affonso estimou que existe uma “janela” de 15 anos entre a introdução de um turboélice de propulsão convencional e um propulsionado por novas tecnologias.
“Existe uma oportunidade [para um motor convencional] em termos de novos materiais, nova aerodinâmica e tudo isso”, disse Affonso. “Então, uma das coisas que perguntamos [aos fabricantes de motores]: quão eficiente e moderno um motor você pode fornecer em termos de eficiência de combustível e custo de manutenção? A segunda parte é em termos das novas tecnologias que estão surgindo – híbrido-elétrico, hidrogênio e coisas assim. Então, quais são as opiniões [dos fabricantes de motores] para agora e para o futuro?”.
Com a substituição dos motores sob as asas para a parte traseira da fuselagem, a EMBRAER ao mesmo tempo já começou a considerar a adaptabilidade de seus planos atuais a futuros desenvolvimentos de propulsão. “Nosso turboélice inicialmente tinha os motores nas asas, e evoluímos [o design] colocando os motores na parte de trás, para que a plataforma – a arquitetura do projeto básico do avião – pudesse ser adaptada para o derivado com uma tecnologia [de combustível] inovadora, talvez hidrogênio com tanque de combustível na fuselagem e tendo, por exemplo, hidrogênio queimando em turbinas a gás sem ter que redesenhar completamente o avião”, explicou Affonso.
Em termos de onde, entre as ofertas de aeronaves comerciais da EMBRAER, o turboélice se encaixará, dada uma aparente sobreposição de nicho de mercado com os atuais EJets, Affonso acrescentou que não vê risco de ‘canibalizar’ o mercado dos EJets com o novo projeto de turboélice. Embora planeje projetar o menor dos dois modelos para acomodar 70 assentos numa configuração de classe única, a EMBRAER vê as companhias aéreas escolhendo uma aplicação “multiclasse” com cerca de 50 assentos, principalmente no EUA, disse Affonso. A variante de 90 assentos encontrará um mercado em regiões como a Ásia, onde características como uma melhoria de velocidade de 20% em relação aos atuais ATR e maior capacidade de assentos ajudarão a corroer a posição dominante da fabricante franco-italiana, líder dominante do mercado turboélice, segundo a EMBRAER.
Affonso também descartou as preocupações sobre a rejeição de passageiro por turboélices no EUA, argumentando que a seção transversal relativamente ampla da cabine e o baixo ruído da cabine negam a percepção negativa que os passageiros têm de qualquer coisa com uma hélice.
“E, é claro, em termos de CO2, será pelo menos 30% menos – até 40% menos – do que um jato, e o mesmo com despesa [fluxo de caixa] de custo operacional”, Affonso observou. “Assim, acreditamos que um turboélice de nova geração será visto como moderno … Com a seção transversal e os compartimentos superiores desta configuração – um por passageiro – acreditamos que haverá um lugar [para o produto] e nossos clientes estão nos dizendo isso”, completou Affonso. [EL] – c/ fontes