Distribuidora de combustíveis VIBRA anuncia programa de inovação para SAF junto com a fabricante de celulose Suzano e empresa do setor de energia portuguesa Galp, em 20.04.24


A maior distribuidora de combustíveis e lubrificantes do Brasil, a VIBRA marcou presença na 2ª edição do Web Summit, o maior evento de inovação e tecnologia do país, que aconteceu os dias 16 e 18, no Riocentro, no Rio de Janeiro. Uma das patrocinadoras do evento, a VIBRA teve participações nas mesas oficiais sobre os temas Inteligência Artificial, Inovação e Energia.

Durante seminário, a VIBRA anunciou um programa de inovação para combustível de aviação sustentável (SAF), junto à fabricante de celulose Suzano e à empresa portuguesa de energia Galp.

Com uma estrutura logística que garante sua presença em todas as regiões do país, a VIBRA conta com um portfólio de mais de 18 mil grandes clientes corporativos, em segmentos como aviação, transporte, indústrias mineração, produtos químicos e agronegócio. Com a marca BR Aviation, a companhia abastece 6 em cada 10 aeronaves, abastecendo aeronaves em mais de 90 aeroportos brasileiros. Em lubrificantes, é líder de mercado com a marca Lubrax, top of mind, e possui a maior planta industrial para produção de lubrificantes da América Latina.

A Suzano é a maior produtora mundial de celulose, uma das maiores produtoras de papel da América Latina e referência no desenvolvimento de soluções sustentáveis e inovadoras de origem renovável.

A Galp reúne empresas no setor de energia – detendo a Petrogal e a Gás de Portugal, sendo hoje um grupo integrado de produtos petrolíferos e gás natural, com atividades que se estendem desde a exploração e produção de petróleo e gás natural, à refinação e distribuição de produtos petrolíferos, à distribuição e venda de gás natural e à geração de energia elétrica), criando um “cluster” de propósito específico As três empresas estiveram juntas no Web Summit Rio, , no dia 17, para anunciar formalmente o negócio.

Por enquanto, há pouca definição sobre qual será o resultado final da parceria – que ainda pode contar com novos membros. Ainda está em aberto quais serão os limites da contribuição técnica que cada companhia deve fazer dentro dos acordos de confidencialidade.  A expectativa é que até o fim de 2024 haja decisões sobre a colaboração de cada uma na iniciativa. Em 14 de maio, começam os primeiros encontros entre executivos e técnicos para avançar os termos para as pesquisas. O cluster voltado ao SAF ainda está aberto e deve receber pelo menos mais uma empresa de grande porte nas próximas semanas.

De toda forma, numa parceria inédita, a VIBRA, a Suzano e a Galp estão se juntando numa investida com o objetivo de trocar informações e estudar um modelo para viabilizar em escala o uso do combustível sustentável de aviação (SAF). As empresas vão fazer parte de um cluster criado pela Bolder, uma consultoria de inovação corporativa. A idéia foi reunir empresas de diferentes elos da cadeia de valor do combustível: uma produtora de combustível – a Galp, uma produtora de biomassa – a Suzano, e uma distribuidora de combustível, a VIBRA.

Em um primeiro estágio, com duração prevista de um ano, as três empresas vão se reunir a cada 15 dias para trocar informações sobre o estágio em que estão no estudo do SAF dentro de suas próprias estruturas e pensar em soluções futuras. “Vamos descobrir quão sustentável e escalável é produzir SAF a partir de etanol, sebo de boi ou florestas de eucaliptos,” disse Hector Gusmão, CEO da Bolder, para o Brazil Journal.

Enquanto as empresas levam sua expertise para o cluster, a Bolder aportará informações sobre startups e iniciativas em torno do SAF mundo afora.

Em um segundo estágio, o de inovação, a ideia é “prototipar” formas de viabilizar a produção.

Em uma terceira fase, a expectativa é fazer acordos entre as empresas para aporte de inteligência, investimento em startups ou até mesmo formar juntas uma empresa de VC (venture capital – empresa com atuação em segmentos inovadores, como fintechs, biotecnologia e outras áreas que envolvam tecnologia avançada). Outras empresas ainda podem se juntar ao cluster, desde que não sejam da área de atuação dos atuais participantes. Será etapa de “negócios”, com uma rota de produção do biocombustível.

De acordo com o Brazil Journal, uma das mais entusiasmadas com o projeto é a VIBRA, motivada em se transformar numa referência internacional em distribuição de SAF e acreditando que o cluster será uma maneira de atrair a atenção de diferentes “atores”, startups e empresas.

“Queremos ser protagonistas e a criação do cluster com essas grandes empresas mostra que a VIBRA vai botar os melhores esforços, os melhores recursos e as pessoas certas para de fato isso acontecer e para que não seja somente um projeto,” Juliano Prado, o vice-presidente de B2B (Comercialização de combustíveis líquidos, óleos lubrificantes, ARLA 32 (Agente Redutor Líquido Automotivo – 32 referindo-se ao nível de concentração da solução de uréia) e prestação de serviços associados aos clientes do mercado consumidor) da VIBRA, disse ao Brazil Journal.

“Conforme essas conversas avancem, vamos discutir qual é o modelo de negócio que podemos ter lá na frente. Se faremos uma joint venture, uma dinâmica de que uma empresa forneça e outra venda. Tudo vai fazer parte do estudo”, disse Ernesto Pousada, CEO da VIBRA, ao IM Business.

A matéria do Brazil Journal aponta que o grande desafio de escalabilidade do SAF é o preço. A depender do mercado, o SAF e pode custar de duas a cinco vezes mais que o querosene de aviação tradicional-fóssil (QAv). Mesmo assim, o consumo do SAF, por conta das metas das cias. aéreas para reduzir a emissão de CO2, tem crescido exponencialmente.

De acordo com dados da VIBRA, foram consumidos 300.000 m³ (300 milhões de litros) de SAF no mundo em 2022. Este número saltou para 600.000 m³ em 2023 – um volume puxado por mandatos da União Européia. A expectativa é que sejam consumidos 1,8 milhões de m³ em 2024 – o que implicará um aumento de 6 vezes em 3 anos. Mas, mesmo todo este aumento representará apenas 3% da demanda global de combustível. Para atingir as metas de descarbonização, terá que chegar a 50% em 2050.

Conforme matéria da mídia “Mercado e consumo” (com informações do “Estadão”), o vice-presidente executivo de operações, logística e sourcing da VIBRA, Marcelo Bragança, destacou que 15% das emissões globais de gases do efeito estufa resultantes de transporte vêm do modal aéreo e são consideradas de difícil substituição. Por isso, o mundo já trabalha com mandatos ou previsão de mandatos para SAF, caso do Brasil a partir de 2027. Com isso, a demanda pelo biocombustível deve escalar no fim da década.

“O mundo consome 100 milhões de barris de petróleo por dia. Desses, 7 milhões vão para combustível de aviação. E as emissões da aviação são de difícil abatimento por vários motivos, como as longas distâncias percorridas. O SAF tem o potencial de ser a alternativa mais viável e está crescendo exponencialmente”, Bragança disse.

Para a matéria do Brazil Journal, Bragança disse que a VIBRA olha de forma “bem aberta” para oportunidades em biocombustíveis e que, se fizer sentido, pode participar também da produção de SAF, expandindo para dar um passo atrás na cadeia, já que hoje a VIBRA atua focada na distribuição e comercialização de combustível de aviação.

A VIBRA já estuda investimentos junto à INPASA para erguer uma unidade de produção de metanol “verde”, combustível que pode ser usado por navios. Segundo Bragança, uma decisão final de investimento será tomada ainda em 2024. A VIBRA também detém participação na Zeg Biogás. Seria um passo natural, portanto, entrar em negócios relacionados ao SAF, combustível de alto valor agregado e com demanda crescente nos próximos anos graças a mandatos crescentes na mistura do querosene de aviação.

“A palavra-chave aqui é cooperação, unir forças com empresas de referência. O Brasil tem um potencial enorme para não ser apenas um exportador de matéria prima para SAF. Temos muita biomassa e um custo de fabricação de combustíveis renováveis muito competitivo”, disse Bragança.

Bragança disse para o Brazil Journal que a VIBRA está apenas fazendo testes de distribuição de SAF, mas que não há consumo do combustível no Brasil. Para Bragança, a matéria-prima e a tecnologia de conversão devem ser os grandes diferenciais que o cluster (das três empresas – com a Suzano e a Galp -, criado pela Bolder) poderá oferecer. “A gente tem que almejar que o Brasil não seja apenas um exportador de matéria-prima para produção de SAF”, observou Bragança. E é neste ponto da matéria-prima que a Suzano entra.

A Suzano quer expandir sua atuação para além do papel e celulose, e por isso tem buscado soluções na bioeconomia. A sua lógica é simples: ela entende de plantar eucalipto em larga escala e de forma competitiva.

“Fazer tudo sozinho é custoso e demorado, e junto com outras empresas que entendem do assunto o aprendizado é acelerado exponencialmente,” disse Miguel Sieh, o diretor de inovação da Suzano. “E não existe biocombustível sem biomassa, que é a nossa expertise”, completa Sieh.

Nesse sentido, a diretora de novos negócios da Suzano, Alessandra Carazzato, disse que a companhia quer fazer parte da solução e citou como “rota” (processo) possível a produção de biocombustíveis por meio de biomassa, que no caso da Suzano, seria, sobretudo, resíduo de madeira.

O novo cluster de SAF não é a primeira expedição da Suzano no mundo da pesquisa colaborativa, aponta o Brazil Journal. Em janeiro, a Suzano anunciou uma parceria com a japonsesa Mitsui & Co. para o estudo e desenvolvimento de bioprodutos e biocombustíveis.

Conforme notícia no dia 31 (jan.), a Suzano firmou um Acordo de Colaboração Conjunta com a Mitsui & Co para estudar o desenvolvimento de bioprodutos de próxima geração utilizando biomassa de eucalipto de cultivo sustentável e derivados residuais do processo de produção de celulose da Suzano. O acordo, sem cláusula de exclusividade, prevê as duas empresas trabalhando em conjunto para estudar a viabilidade técnica e comercial de escalar potencias novas iniciativas com o objetivo de produzir mais alternativas ecologicamente corretas em substituição aos compostos de origem fóssil, como biomateriais e biocombustíveis. De acordo com a Suzano, o acordo potencializará o conhecimento global da Mitsui em áreas como produtos químicos, materiais de performance e energia, bem como a experiência da Suzano na produção sustentável de biomassa em larga escala, a partir do cultivo de eucalipto. Conforme o acordo, as duas empresas criarão equipes para colaborar durante um período de três anos, a fim de conduzir estudos de viabilidade e due diligence em várias oportunidades promissoras em todo o novo cenário da bioeconomia. O Acordo de Colaboração Conjunta não prevê nenhum compromisso de investimento.

Conforme matéria da mídia “Mercado e consumo” (com informações do “Estadão”), a engenheira de desenvolvimento de projetos da Petrogal Brasil (subsidiária da Petrogal, detentora da Galp), Heloisa Althoff, a Galp já produz combustível de aviação e já tem como objetivo misturar ao QAv 5% de SAF, chegando à totalidade renovável em 2050. Ela destacou as três rotas de fabricação de SAF de maior interesse da Petrogal, a partir do [1] etanol, do [2] metanol e do [3] processo químico Fischer-Tropsch, que faz o hidrotratamento de óleos vegetais para gerar diesel verde ou SAF.

Em 2023, a linha de querosene para aviação (QAv) representou cerca de 10% da receita bruta de vendas da VIBRA.

Em março deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei que obriga companhias aéreas a reduzirem suas emissões de gases do efeito estufa. Elas deverão reduzir suas emissões em 1% em 2027 e elevar esse percentual no decorrer dos 10 anos seguintes, até chegar em 10% em 2037. O texto agora corre no Senado, e a utilização misturada de SAF com QAv e substituição do QAv pelo SAF é uma das principais apostas para o atingimento da meta.

Em meio a anúncios de investidas em energia sustentável, a distribuidora de combustíveis VIBRA acredita que ainda há um longo caminho para a migração da matriz energética de combustíveis fósseis no Brasil.

Ao IM Business, o CEO Ernesto Pousada disse que a companhia seguirá o ritmo da demanda dos clientes por fontes renováveis e avalia que a energia fóssil deve perdurar por mais tempo no Brasil, em comparação a países desenvolvidos. “O Brasil é um país em desenvolvimento, com outras necessidades básicas a serem atendidas. Temos que equilibrar todos os pratos”.

Na avaliação de Pousada, eventos como a guerra da Ucrânia têm impactado até mesmo a velocidade em que pares de países europeus empregam sua agenda de descarbonização. “Eles precisaram repensar algumas coisas, ficaram preocupados com segurança energética”, aponta. “Haverá momentos em que se acelera mais, momentos em que se reduz a velocidade. É difícil afirmar em que posição o Brasil vai ficar em relação aos outros [nessa agenda]”, completa.

“A VIBRA está aqui para servir os clientes. Não adianta acelerar. A energia que ele quiser eu estarei lá para oferecer, e hoje o mundo precisa de combustíveis fósseis”, aponta Pousada.

Ele entende que, no Brasil, haverá uma transição gradual na matriz energética, até em função de o país já possuir uma grande disponibilidade de fontes renováveis de energia, como o etanol, diferentemente de países desenvolvidos com maior dependência de diesel e gasolina.

Embora esteja segura sobre sua estratégia de distribuição baseada em combustíveis fósseis e renováveis, a empresa tem investido em parcerias e M&As que visam novas iniciativas de inovação em descarbonização.

Entre 2021 e 2022, os investimentos em transição energética feitos pela VIBRA somaram R$ 4 bilhões, com aportes como a aquisição de 50% da geradora de energia solar e eólica COMERC e da produtora Zeg Biogás. A empresa assinou ainda um memorando de entendimento com a produtora de etanol Inpasa para estudar a manufatura de uma opção de metanol verde capaz de substituir o combustível para navios de transporte.

Em outra ponta, a empresa tem um CVC (corporate venture capital) com R$ 150 milhões disponíveis para alocação em startups menos atreladas ao negócio principal da empresa, como o carregamento elétrico. “Separando aquilo que temos mais certeza, mais próximo ao nosso core business, lançamos mão de um veículo como o CVC para fazer apostas”, diz o vice-presidente de Gente e Tecnologia, Aspen Andersem. “[No caso dos veículos elétricos] ninguém consegue dizer com certeza como vai ser o futuro, mas nós precisamos estar ali, dar os primeiros passos”, diz Pousada.