Em acordo de arbitragem, Boeing pagará US$ 150 mi à EMBRAER pela desistência de negócio da aquisição da unidade de aeronaves comerciais da fabricante brasileira, em 16.09.24


A EMBRAER anunciou, nesta segunda dia 16, que a Boeing lhe pagará cerca US$ 150 milhões (R$ 835 mi) após a conclusão de um processo de arbitragem entre as duas fabricantes de aeronaves, conforme Fato Relevante – “Procedimentos de Arbitragem”, de 16/09/2024.

No documento, assinado por Antônio Carlos Garcia, vice-presidente executivo financeiro e relações com investidores (RI), em atendimento à Resolução CVM nº 44/2021, a EMBRAER informa aos seus acionistas e ao mercado em geral que os procedimentos de arbitragem pendentes entre a EMBRAER e suas afiliadas, de um lado, e The Boeing Company (“Boeing”) e suas afiliadas, do outro lado, foram concluídos. Conforme o “Collar agreement” (acordo de arbitragem) celebrado recentemente entre as partes, a Boeing irá pagar o valor bruto de USS 150 milhões para EMBRAER.

O acordo marca a conclusão de um processo iniciado depois que a Boeing desistiu de um acordo para aquisição da unidade de aeronaves comerciais, a principal divisão, da EMBRAER, por US 4,2 bilhões, em 2020. Na época, a Boeing argumentou que a EMBRAER não cumpriu condições para a conclusão da transação, enquanto a fabricante brasileira divulgou que a Boeing desistiu do negócio por causa de problemas financeiros mais amplos. A discussão iniciou o processo arbitral.

A EMBRAER não informou quando o pagamento deverá ser feito.

A Boeing informou em comunicado que “está satisfeita” por ter concluído o processo de arbitragem com a EMBRAER. “De forma mais ampla, temos orgulho de nossos mais de 90 anos de parceria com o Brasil e esperamos continuar contribuindo para a indústria aeroespacial brasileira”, acrescentou a fabricante norte-americana.

Na Bolsa paulista, nos primeiros negócios do “pregão do dia, as ações da EMBRAER (EMBR3) recuaram 3,7%, a R$ 50. Os papéis da fabricante (EMBR3)  fecharam em queda de 5,30%, cotados a R$ 49,18.

Para o Itaú BBA, as expectativas do mercado pareciam de valores maiores, considerando cifras entre US$ 250 a US$ 300 milhões e, por isso, a reação negativa para os papéis era esperada. Mesmo assim, ainda há fatores para apostar na ação, de acordo com os analistas.

A EMBRAER pode se beneficiar de novos pedidos da divisão de aeronaves comerciais e de Defesa e da melhoria na rentabilidade e potencial de alta para margem (de acordo com o apresentado no guidance, as orientações para 2024 fornecidas pela fabricante). O BBA também cita como fator de otimismo o fluxo positivo de investidores internacionais, que antes não cobriam a ação, e o ambiente competitivo mais favorável. As principais concorrentes, Airbus e a própria Boeing, enfrentam desafios de entrega há algum tempo.

Assim, a expectativa do BBA é que o momentum da fabricante brasileira continue, o que justifica a recomendação outperform (performance acima da média, similar à compra), com preço alvo de US$ 40,00 para o ADR (American Depositary Receipt) ERJ, ação na Bolsa americana, da EMBRAER.

O Bradesco BBI também avalia que a indenização veio abaixo da expectativa do mercado de US$ 300 milhões. O banco, contudo, não esperava nenhuma reação importante do mercado porque o valor líquido a ser recebido pela EMBRAER deve ser de US$ 85 milhões (US$ 0,49/ERJ) ajustado para PIS/Cofins (9,25%) e impostos de renda (34%). O banco também cita que a diferença em relação ao consenso de mercado representa um impacto menor de 1% no valor de mercado da companhia e continua a prever que a EMBRAER zerará as perdas acumuladas no patrimônio líquido no segundo semestre de 2024, o que permitiria à empresa retomar a distribuição de dividendos em 2025.

O BBI mantém classificação de equivalente à compra para os ADR da EMBRAER, com um preço-alvo de US$ 40,00.

O BTG Pactual também aponta que o acordo foi abaixo das expectativas, mas que “é melhor do que nenhum acordo”. “O fato da arbitragem ter sido conduzida em sigilo deixou o mercado sem informações claras sobre o valor potencial de reembolso, levando a uma ampla gama de expectativas, com uma média de US$ 200 a US$ 300 milhões. Esse intervalo estava alinhado com os US$ 241 milhões de despesas que a EMBRAER teve para separar e reintegrar sua divisão de aviação comercial após o fracasso do acordo com a Boeing. Assim, o valor de US$ 150 milhões está abaixo dessa expectativa implícita. No entanto, como muitos investidores, não havíamos incluído nenhum pagamento em nosso modelo, então qualquer pagamento deve ser considerado um upside”, avaliou o banco.

Para os analistas do BTG, a arbitragem foi apenas um dos eventos que os investidores estão acompanhando na EMBRAER. Outros fatores importantes incluem o sucesso das campanhas comerciais, participação em feiras aéreas e anúncios de parcerias, entre outros. “Acreditamos que o setor de aviação oferece um ambiente positivo em todos os seus principais segmentos:
(i) o segmento comercial está se beneficiando da falta de capacidade de fabricação, ajudando a EMBRAER a ganhar terreno globalmente;
(ii) o segmento executivo tem um recorde de pedidos em carteira;
(iii) no segmento de defesa, o foco é a promoção da aeronave militar KC-390; e,
(iv) o segmento de serviços e suporte deve acelerar o crescimento com a abertura de uma nova unidade de manutenção pela OGMA em Portugal”, aponta o banco.

A EMBRAER está negociando a um desconto de 23% em relação aos seus principais pares globais, o que os leva a manter nossa visão otimista sobre a empresa.