Em ambiente de trabalho multigeracional, explorar maneiras de diminuir a diferença de idade para reforçar o ambiente de trabalho da aviação e a comunicação são essenciais para a segurança, apontam painelistas no seminário de segurança da Bombardier, em 26.11.24
A editora da revista mensal de aviação AIN Kerry Lynch postou no dia 19 um artigo relativo a um painel de discussão realizado no dia 14 moderado por Jennifer Pickerel, presidente da API – Aviation Personnel International, de Savannah (Georgia/EUA), uma agência de recrutamento de pessoal de aviação, durante o Safety Standdown (seminário de segurança) da Bombardier, que aconteceu em Wichita entre os dias 12 e 14.
O ambiente de trabalho está cada vez mais complexo e abrange várias gerações, mas diminuir a diferença entre as gerações é essencial para a cultura de uma empresa e, portanto, sua missão de segurança, concordaram os painelistas.
“Reconhecemos que ter cinco gerações na força de trabalho acrescenta complexidade – acrescenta uma complexidade tremenda às vezes”, disse Pickerel. No entanto, Pickerel sugeriu que os trabalhadores “invertam esse paradigma” ao analisar as várias gerações. “Nunca tivemos um conjunto de habilidades mais amplo na força de trabalho. Nunca tivemos tantos profissionais talentosos, apaixonados e qualificados em nossa força de trabalho”, Pickerel falou.
Pickerel apontou para outras discussões durante o Safety Standdown em torno do papel crítico que as comunicações desempenham na segurança. “A segurança de nossa indústria e de nossa comunidade depende literalmente de nossa capacidade de nos comunicarmos efetivamente uns com os outros”, disse Pickerel.
Mas para que seja eficaz, a comunicação tem que ser de qualidade e respeitosa, destacou Pickerel, e postulou: “O que pode ser possível se recorrermos uns aos outros como recursos, se assumirmos boas intenções, se elevarmos nossa influência liderando pelo exemplo e, nas palavras de Ted Lasso, se formos curiosos e não críticos?”.
Pickerel abriu o painel discutindo as diferentes gerações e os atributos que muitas vezes se acredita que estas diferenças:
- “Tradicionalistas”, aqueles nascidos em 1945 ou antes que preferem encontros “cara a cara”, têm uma forte ética de trabalho, são leais a uma empresa, respeitam a autoridade e valorizam o trabalho em equipe e a estrutura;
- geração “Boomer”, aqueles nascidos entre 1946 e 1964 que são otimistas, competitivos, disputam o avanço na carreira e o reconhecimento por conquistas, são workaholics e valorizam o trabalho em equipe;
- geração “X” (Generation X), que nasceu entre 1965 e 1980 e é independente, autossuficiente, cética, prioriza a flexibilidade e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e também conhecida como a latchkey Generation (geração de crianças com chaves na mão);
- geração “Millennial”, nascido entre 1981 e 2000, é experiente em tecnologia, colaborativo, prioriza oportunidades e valoriza propósito, desenvolvimento de carreira e significado em seu trabalho; e,
- geração Z (Generation Z), nascido entre 2001 e 2020, os “nativos digitais”, jovens altamente adaptáveis à tecnologia, empreendedorismo, socialmente consciente e que prioriza a diversidade e a inclusão no ambiente de trabalho.
Uma pesquisa com o público no terceiro dia do Safety Standdown revelou uma amostra representativa de quatro dessas gerações — ninguém pareceu alegar ser tradicionalista – com os participantes das gerações “X” e “Millennial” representando a maioria dos participantes.
Pickerel reuniu um painel com membros de várias gerações para fornecer suas visões de seus pontos de vista geracionais. Apesar de suas diferentes origens, temas comuns de comunicação, transferência de conhecimento e respeito surgiram.
Brandon NeSmith, um comandante da Coca-Cola Bottling Consolidated Co., destacou as percepções entre as gerações: os Boomers podem ser vistos como muito focados na missão e os Millennials podem ser vistos como mais preocupados consigo mesmos.
Chamando a si mesmo de “velho millennial”, o cmte. NeSmith observou o quão importante é a apreciação entre as gerações. Não só pode ser uma ferramenta de retenção essencial, mas também promove a colaboração entre as gerações. “Ajuda a preencher a lacuna, especialmente de uma pessoa mais jovem, mostrando apreciação a uma pessoa mais velha”, opinou o cmte. NeSmith.
Isso inclui admitir quando você não sabe tudo. “A única coisa que posso fazer é mostrar apreço por estar cercado por outras pessoas que têm experiência e me submeter a elas … Isso reduz tremendamente a lacuna”, disse NeSmith, para acrescentar: “Quando alguém da minha geração não demonstra esse tipo de apreço, isso não é muito bem recebido”.
Além disso, NeSmith acrescentou, as comunicações percorrem um longo caminho simplesmente desde o interesse surgido em alguém e respeitando o seu tempo, mostrando que você não está preocupado apenas consigo mesmo – “fazendo algumas dessas coisas adicionais, indo além, que se misturam a todas as gerações”.
O equilíbrio entre vida pessoal e profissional continua importante, mas é preciso haver um desejo sincero de contribuir, NeSmith disse. Ele observou que isso se torna especialmente notável à medida que os benefícios mudam em um ambiente de trabalho competitivo. “Um dos pontos de discórdia, quando fui contratado pela primeira vez por esta empresa em particular, é que ganhei – logo de cara – três semanas de férias”, disse NeSmith, observando que as gerações mais velhas “achavam que isso era simplesmente absurdo. Eles trabalharam por anos e anos e anos para obter essa quantidade de férias. E eu não pedi isso na época”.
Pickerel concordou, observando que 25 anos atrás, três semanas de férias podem nem ter sido pensadas. “Mas conforme as coisas evoluem e se tornam mais competitivas, sabemos que estamos em uma escassez de pilotos, uma escassez de manutenção, essas coisas precisam ser aumentadas, não por culpa das pessoas que as estão recebendo”.
Martin “Marty” Grier, diretor de manutenção do departamento de aviação da The Home Depot, presidente do Comitê Consultivo do Safety Standdown e que se descreveu como um Boomer, também concordou com NeSmith. “Tudo começa com a liderança, a comunicação que você tem com sua equipe e a transparência que você está disposto a compartilhar com eles”, disse Grier. “Eles precisam estar a bordo, então eles precisam entender o mercado com o qual você está trabalhando”, Grier falou.
Ele observou que o mercado tem subido e descido e “em todo lugar” nos anos em que ele está na indústria. “Agora, estamos todos cientes do fato de que a indústria está faminta por novos talentos e, portanto, as regras de oferta e demanda … Nos últimos dois anos, tem sido apenas uma dinâmica fora do comum”, disse Grier. “Se eu incluir minha equipe no entendimento de que posso ter que fornecer um pouco mais de incentivo para essa pessoa vir a bordo de nossa empresa, eles estarão muito mais propensos a entender e apoiar isso”, Grier falou.
Grier também enfatizou a importância da cultura em tudo isso. “Se você tem uma boa cultura, e eu fiquei muito feliz em dizer que tivemos uma ótima cultura, as pessoas não vão embora”, disse Grier. Mesmo que a rotatividade seja baixa, “você ainda tem que ficar em sintonia com o mercado”, observou Grier.
Quanto a trazer pessoas mais jovens, Grier observou a importância da transferência de conhecimento. “Provavelmente um dos estereótipos dos Boomers é que queremos manter [ou] reter nosso conhecimento e não necessariamente compartilhá-lo, porque acho que às vezes as pessoas são ameaçadas por pessoas mais jovens e enérgicas”, Grier opinou, mas acrescentando na sequência: “Todos nós temos algo a oferecer. E então acho que é fundamental que você cultive essa atitude, que é de cima para baixo, de baixo para cima, todos trabalhando juntos para construir a equipe e compartilhar conhecimento”.
Grier acrescentou que, como um Boomer, “quero que a energia, as perguntas e as ideias das gerações mais jovens sejam incorporadas à nossa operação … Todos podem trazer idéias”.
As gerações mais antigas precisam transferir conhecimento à medida que saem da indústria, Grier disse, observando que a indústria está vendo uma riqueza de conhecimento sair. “Vejo isso em muitos MRO para onde vamos. Agora você tem essa situação desequilibrada em que há tantos [trabalhadores] menos experientes e isso está produzindo condições e fugas de qualidade. Então, como administramos tudo isso?”.
A mentoria é um dos principais caminhos para essa transferência de conhecimento, disse Emma Rasmussen, estudante graduada na ERAU – Embry-Riddle Aeronautical University, da Robertson Fellow & Safety Science. “Acho que uma das coisas mais valiosas para minha carreira na aviação e minha vida pessoal é ter mentores realmente fantásticos, pessoas que são mais de 50 anos mais velhas do que eu”, disse Rasmussen. “E acho que é muito importante para as gerações mais jovens encontrarem esses mentores”, completou Rasmussen.
Ter essa troca de informações é uma das melhores maneiras para os trabalhadores mais jovens mostrarem respeito pelas gerações que os antecederam, acrescentou Rasmussen, observando que, em sua experiência, as gerações mais velhas estão ansiosas para mostrar seus aviões e levar as pessoas para voar quando vêem interesse na aviação.
“A maior maneira de diminuir a diferença entre as gerações é respeitar as gerações mais velhas, mas também elevar as novas gerações que estão entrando na força de trabalho”, Rasmussen apontou.
Rasmussen observou acusações de que a Geração Z é preguiçosa ou arrogante e tem tudo fácil, mas acrescentou: “Cada geração tem seus próprios desafios únicos que todos nós simplesmente não entendemos, a menos que tenhamos passado por eles”.
Rasmussen disse que uma coisa que aprecia em sua geração é a mente aberta. Ela disse: “Sinto que posso trazer meu eu mais autêntico para a mesa e, se vamos tornar nossa indústria mais forte e melhor para o futuro e deixá-la melhor do que a encontramos, acho que temos que trazer nosso eu mais autêntico para a mesa”.
Rasmussen também destacou que sua geração é extremamente preocupada com a segurança, um ponto com o qual Pickerel concordou. Nesse sentido, emergiu que os profissionais da Geração Z cresceram com cintos de segurança e capacetes de bicicleta, diferentemente das gerações mais velhas.
Enquanto isso, Cullen Gahagan, um jovem de 26 anos que entrou para o mundo corporativo como piloto e diretor de operações da CSM Companies depois de pouco mais de um ano numa cia. aérea, discutiu como a tecnologia influencia, especialmente porque as gerações mais jovens são mais adaptáveis a cockpit digital, enquanto as gerações mais velhas podem ter mais destreza e habilidades manuais para a pilotagem – de manche e leme, ou “pé e mão”. “Na verdade, tudo se resume ao treinamento”, disse Gahagan, observando que não importa se uma pessoa cresceu com máquinas de escrever ou computadores. “Obviamente, você tem as gerações mais velhas, onde essas pessoas voavam com indicadores anlógicos por anos e anos e agora tiveram que fazer a transição para um cockpit de telas e usar visores HUD e todas buzinas e campainhas. Isso tem sido uma transição”, apontou Gahagan.
Agora, os alunos aprendem em um cockpit digital. “Quando você obtém agora uma habilitação Tipo no piloto-automático, você não aprende as habilidades de manche e leme”, Gahagan acrescentou. “Acho que tentar encontrar um equilíbrio entre os dois para ambas as gerações, seja aprendendo inicialmente coisas novas ou aprendendo como uma transição para coisas novas, é importante”, apontou Gahagan.
Os pilotos precisam dessas habilidades básicas iniciais desde a formação, mas também devem ser capazes de gerenciar os avanços tecnológicos. “É importante abordar o treinamento de um ponto de vista fundamental primeiro – aprender o avião, como pilotá-lo, como ele se sente, como ele funciona, quais são suas limitações – mas então acolher a tecnologia”, Gahagan opinou.
Gahagan também reiterou as opiniões dos outros painelistas. Ele observou que, como uma pessoa mais jovem, “às vezes, ficamos intimidados em nos elevarmos porque vocês têm muita experiência. Mas eu quero aprender com essa experiência e essa lacuna é apenas preenchida pela comunicação”. [EL] – c/ fonte