Em meio à melhora do ambiente dos negócios, ação da EMBRAER engata “rota ascendente” após crise da Covid e rejeição pela Boeing, em 07.02.22


Fonte: Estadão/InfoMoney – 07/02/2022
A tormenta vivida pela EMBRAER em 2020 foi violenta. Poucas empresas sofreram tanto quanto a fabricante de aviões, que assistiu a demanda do setor despencar enquanto seus clientes estacionavam suas frotas em todo o mundo conforme países adotavam medidas de distanciamento social para conter a Covid.

Dois meses após o início dessa crise, a fabricante brasileira sofreu outro “golpe”, com a Boeing desistindo de comprar sua divisão de aeronaves para aviação comercial. O resultado foi uma queda de 55% nas ações da EMBRAER (EMBR3) e um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no ano.

Mas, tão rápido quanto afundou, a EMBRAER parece estar se recuperando. No ano passado, ainda em meio à pandemia, a fabricante registrou um lucro trimestral (entre abril e junho) – o que não acontecia desde o mesmo período de 2018; e ainda teve a maior alta da B3. Enquanto o Ibovespa caiu 12% em 2021, a ação da EMBRAER subiu 180%.

Apesar de, no início de 2022, o desempenho da fabricante na Bolsa ser negativo, com queda acumulada de 23,5%, o clima entre os analistas da empresa é de otimismo.

A XP vê espaço para as ações negociadas no Brasil se valorizarem 44%. Já para os papéis comercializados nos Estados Unidos, o Itaú vê potencial de alta de 47% até o fim do ano; o BTG, de 40% e o Citi, de 22%.

“O que me faz ficar positivo é que não vejo o preço atual da ação refletindo, ao mesmo tempo, a retomada da aviação comercial e a inovação com o carro voador. Talvez um desses fatores esteja no preço, mas não os dois”, diz o analista Lucas Laghi, da XP.

A recuperação da aviação comercial no mundo foi liderada pelo mercado regional, de aviões com até 150 lugares e no qual a EMBRAER é líder. Com capacidade para 88 assentos, o modelo E175 praticamente não tem concorrente hoje. Em 2020, pior ano da crise da pandemia, 73% dos aviões comerciais entregues pela EMBRAER eram desse modelo. Nos nove primeiros meses de 2021, essa fatia caiu para 47%.

“A EMBRAER tem grande exposição ao mercado regional e ela mantém liderança com o E175 nos EUA, que é um dos maiores mercados de aviação doméstica”, diz a analista Thais Cascello, do Itaú BBA.

A retomada global da aviação comercial beneficiou não só esse segmento da EMBRAER, que hoje é responsável por um terço (33%) das receitas, mas também a divisão de serviços da empresa, já que a necessidade de cias. aéreas fazerem a manutenção de seus aviões aumentou. A área de serviço e suporte da EMBRAER é a que tem a maior margem de lucro e sua participação na geração de receita passou de 22,5%, em 2019, para 28,5%, nos nove primeiros meses de 2021.

No segmento de Defesa, o bilionário projeto C-390 Millenium (um cargueiro militar, a maior aeronave já desenvolvida pela EMBRAER) foi concluído e parou de gerar gastos. Agora, a expectativa é de que traga receitas. O mercado, porém, prevê que essa divisão tenha uma participação cada vez menor na cia. – de janeiro a setembro de 2021, foi em 16,5%.

Já a área de aviação executiva tem tido um crescimento consolidado, sobretudo porque a EMBRAER acertou no portfólio de produtos. “A margem tem melhorado cada vez mais”, diz Thais, do Itaú. No último trimestre de 2021, a receita do segmento subiu 17%.

Além do “vento” favorável em todas as suas divisões, a EMBRAER ainda se tornou mais eficiente, ‘enxugando’ custos.

Neste ano, anunciou a venda de duas fábricas em Portugal, que, segundo o presidente da fabricante, Francisco Gomes Neto, eram ineficientes.

Antes, já havia renegociado contratos e demitido 2,5 mil funcionários (15,6% do quadro brasileiro).

Para “coroar” o cenário, o eVTOL (sigla em inglês para veículo elétrico de pouso e decolagem vertical, como é chamado oficialmente o “carro voador”) se tornou a grande aposta para o futuro da aviação, e a EMBRAER, umas das promessas na área.

Em junho passado, quando foi confirmada a notícia de que a EVE (empresa da EMBRAER que desenvolve o projeto) faria uma fusão com a americana Zanite para abrir seu capital na Bolsa de Nova York, as ações da EMBRAER “saltaram” 15,6% em um único dia.

“Como os negócios mais tradicionais estão indo melhor ou não estão causando tanta dor de cabeça para o investidor, o mercado se sentiu mais confortável para precificar o eVTOL. Talvez, se o negócio tradicional não tivesse indo tão bem, a turma não ficaria tão propensa a comprar um negócio novo que ainda precisa se provar”, acrescenta a analista do Itaú.

O presidente da EMBRAER avalia que, entre todos os fatores que impulsionaram a companhia, os projetos para torná-la mais eficiente e o do “carro voador” são os mais importantes. Gomes Neto diz que, para as ações da empresa subirem como o esperado pelo mercado, será preciso consistência no trabalho. “Precisamos entregar o que prometemos, como fizemos até o terceiro trimestre de 2021”. E a promessa não é pequena. Até 2026, o executivo quer quase dobrar o faturamento da EMBRAER, na comparação com 2020.