Fabricantes de aeronaves executivas devem terminar 2022 em alta, com ressalvas, aponta analista de mercado, em 02.12.22
Após aumento contínuo pós-pandemia na aviação privada, o setor de aviação executiva espera fechar o ano em alta, de acordo com o analista de mercado Rolland Vincent, que é o fundador e diretor da provedora de pesquisa trimestral JetNet iQ.
Falando, no mês passado, na Conferência da Aviação Executiva da NATA (National Air Transportation Association, ou Associação Nacional do Transporte Aéreo), Vincent falou: “Acho que este será um quarto trimestre muito movimentado e talvez ainda mais movimentado do que no ano passado”.
Conforme artigo da AIN, o último trimestre do ano costuma ser o maior em termos de entregas. Como exemplo, a fabricante brasileira EMBRAER é conhecida por anunciar mais da metade de suas entregas anuais apenas no quarto trimestre.
Vincent, entretanto, observou que outros fatores estarão em jogo neste ano para fornecer um impulso no setor. “Vamos ver o fim da depreciação de bônus de 100% [incentivo fiscal que permite que uma empresa deduzir imediatamente uma grande porcentagem do preço de compra de ativos elegíveis, como máquinas, em vez de eliminá-los durante a vida útil do ativo] neste ano no EUA, que é de longe o maior mercado de aeronaves”. Por isso, Vicent vê clientes ansiosos para receber suas aeronaves até o final do ano. Além disso, o analista acrescentou, os resultados das eleições de meio de mandato no EUA podem injetar alguma incerteza em termos de políticas futuras.
Embora as fabricantes tenham visto seus índices book-to-bill [relação encomenda: entrega/faturamento] subirem para 2:1, o que significa que estão recebendo dois pedidos de aeronaves para cada uma entrega, Vincent espera que as entregas do quarto trimestre reduzam essa relação. “Vamos ver book-to-bill cair para cerca de um até o final do ano”, Vicent disse, para acrescentar: “Não se preocupe se você ver cair, estamos esperando por isso há algum tempo”.
Embora as fabricantes de jatos executivos tenham uma carteira de encomendas que aumentou 20% nos últimos seis meses, para US$ 50 bilhões, Vincent espera que o volume de pedidos em recebimento não seja sustentável, pois todas as indicações apontam para uma recessão iminente.
Além disso, Vicent acredita que a espera atual também vai moderar o entusiasmo de alguns clientes. Com essas carteiras de pedidos estendendo-se por 30 meses (2,5 anos) para alguns modelos e sem necessidade de fabricantes oferecerem descontos nos preços, Vincent espera que alguns clientes decidam adiar seus pedidos até que a carteira de encomendas diminua e os preços caiam.
“As cadeias de suprimento estão nos impedindo”, acrescentou o analista. “As fabricantes gostariam de produzir mais aviões, mas não podem porque as cadeias de suprimento não estão acompanhando, então, de certa forma, isso ajuda as fabricantes crescer a carteiras de encomendas [backlog] e manter os preços em alta”, avalia Vincent.
A inflação também desempenhará um papel nas encomendas de aeronaves. “O índice de preços ao consumidor no Estados Unidos é de 8,2% agora”, disse Vincent, para prosseguir: “Não víamos números como esse desde o início dos anos 1970”.
Vicent explicou como a inflação combinada com os ‘gargalos’ persistentes da cadeia de suprimentos causados em grande parte pela Covid apresentam um problema duplo para o setor. “Se a inflação é de 8% no Estados Unidos agora, pode ser de 15% em nossa cadeia de suprimentos muito específica, então sim, veremos preços mais fortes, e isso por si só vai moderar um pouco a demanda”, ele sustenta.
Além disso, o recente aumento 0,75% na taxa de juros do FED (banco central americano) – com o espectro de novo aumento no ‘horizonte’ – também pode fornecer alguns “ventos contrários” ao ambiente de encomendas de aeronaves.
Embora prever as tendências do mercado nunca seja um exercício simples, Vincent observou que os indicadores econômicos tradicionais não são mais confiáveis. Embora tenha havido uma recessão induzida pela Covid em 2020, o mercado voltou a crescer ao ponto da indústria nem perceber que houve dois trimestres consecutivos de crescimento econômico negativo neste ano, que é tradicionalmente um dos precursores da recessão. “Tecnicamente não foi considerada uma recessão porque os mercados de trabalho não abrandaram, não vimos um pico de desemprego”, disse Vincent.
Para este ano, Vincent espera que as novas entregas de jatos excedam o total de 2021 em 5% e um aumento de outros 8% em 2023. O analista acredita que 2023 excederá o total de entregas de 2019, de 809 aeronaves. Na próxima década, a previsão de mercado de 10 anos é de aproximadamente 8.225 novas entregas de jatos com um valor de US$ 260 bilhões.
Para o presente, para o 4T22 a expectativa é de um grande aumento nas entregas de aeronaves.
No tórrido mercado de “segunda mão” (ou, de “usados”), o número de aeronaves à venda permanece em níveis historicamente baixos, de acordo com Vincent, que sintetiza o momento: “nunca vimos isso e fazemos isso há mais de 30 anos”. Vicent o ‘enigma’ de como houve 3.450 transações de aeronaves usadas no ano passado, contra apenas 950 aeronaves listadas no mercado. “O que está acontecendo é que os aviões estão saindo tão rapidamente do mercado [que] nem estão anunciados; dias no mercado [em oferta para negociação] – zero!”, Vicent enfatiza.
Esse ritmo de vendas ultrapassou tanto os bancos de dados tradicionais do setor que estes atualmente foram relegados a indicadores atrasados.
Mas Vincent observou talvez o início de uma tendência na base – “extremidade inferior” – do mercado, com o número de jatos leves disponíveis começando a aumentar. “Pense no que está acontecendo lá, as pessoas normalmente gastam seu próprio dinheiro com esse tipo de aeronave, estão sendo cautelosas, talvez estejam colocando o avião à venda”, disse Vincent. “Esse é um indicador precoce de mudança. Não estou dizendo que há algum incêndio acontecendo, mas observe. Coisas assim estão acontecendo na ponta inferior do mercado”, salienta o analista.
Vincent também compartilhou algumas das constatações da última pesquisa trimestral de mercado JetNet iQ.
Nos últimos 12 anos, a JetNet iQ se comunicou com milhares de proprietários e operadores de aeronaves executivas para entender o mercado e, nesta última edição, o clima destes é otimista.
“Quase 63% acreditam que já passamos do ponto mais baixo do atual ciclo de negócios”, disse Vincent. E embora tenha havido muita discussão sobre a “fixação” dos novos clientes que entram no mercado de aviação privada, os resultados da pesquisa mostraram que 77% dos entrevistados acreditam que a demanda desses novos usuários aumentará ou permanecerá a mesma nos próximos cinco anos.
Pela pesquisa, quando os entrevistados foram questionados sobre o que os impede de comprar outra aeronave, quase 18% indicaram que não precisam de outra aeronave, sendo seguidos de perto por aqueles que acreditam que os preços para compra estão muito altos. Enquanto os ciclos de negócios anteriores teriam um avião sendo trocado depois de apenas cinco anos, os proprietários/operadores agora mantêm seus jatos pelo dobro do tempo atualmente.
Também é sentida falta de pessoal, com 73% dos operadores norte-americanos sinalizando que tiveram alguma dificuldade em recrutar pilotos com as credenciais desejadas no ano passado.
“Acho que é porque as companhias aéreas se recuperaram mais rapidamente aqui do que em qualquer outro lugar e estão atraindo de nós talentos”, Vincent assim entende. A escassez de mecânicos aeronáuticos é global e ambos os déficits estão servindo para pressionar os operadores a atrair e reter talentos. [EL] – c/ fontes