Honeywell revela sua nova plataforma aviônica Anthem, com níveis de conectividade sem precedentes, em 05.10.21

A Honeywell revelou sua plataforma de aviônicos de próxima geração, designada Anthem, nesta terça dia 05, em um evento na cidade de Nova Iorque, no EUA. É a primeira suíte aviônica “conectada à nuvem” projetada para atender a todos os segmentos da aviação, desde aeronaves leves, jatos executivos e as maiores aeronaves de transporte aéreo, e extensivamente veículos de mobilidade aérea avançada/urbana.
A fabricante planeja fazer demonstrações da nova plataforma na próxima semana na agenda da feira de aviação executiva NBAA-BACE, embora em uma sala de conferências no Centro de Convenções de Las Vegas, ao invés de estande da Honeywell.
Com conectividade em tempo integral, a plataforma aviônica Anthem oferece a operadores, e pilotos, muitos novos recursos, incluindo a capacidade de criar e carregar por upload um plano de vôo fora da aeronave, mesmo que a aeronave não esteja com sistema já acionado (com a aeronave energizada). Outros recursos, como personalizar o layout das telas também podem ser feitos remotamente. O foco principal, no entanto, é melhorar a interface de usuário para os pilotos, e isso significa não apenas controle intuitivo por gestos de telas sensíveis ao toque, mas também controle de voz, bem como a manutenção de um dispositivo de controle por cursor para os pilotos que preferem essa interface.
A plataforma Anthem não é a próxima versão do sistema aviônico de base da Honeywell, o Epic, que é apresentado em monomotores turboélice (como Apex) ou em jatos executivos de cabine larga como Gulfstream, como Plane View, e Dassault Falcon equipado com suíte EASy. “Esta é uma mudança transformacional em comparação com a [suíte] Epic, não uma versão incremental ou de crescimento”, disse Vipul Gupta, vice-presidente e gerente geral de aviônica da Honeywell Aerospace. “É drasticamente novo, mas estamos reutilizando alguns elementos de software. O sistema de visão sintética da Honeywell é um dos melhores que existem, por isso estamos reutilizando-o para se adequar a esta arquitetura”, disse Gupta.
A suíte aviônica Epic foi projetada 20 anos atrás, com muitas capacidades, mas a Anthem está focada em novas interfaces e tecnologia que a Honeywell queria trazer para os decks de vôo, explicou Gupta. “É quase 50 por cento de redução de tamanho e peso em comparação com o hardware atual”, revelou. “Observamos como interagimos com nossos dispositivos de consumo, pegamos essa experiência e a trouxemos para cabine de comando. Quando olhamos para telas sensíveis ao toque, é mais amigável, mais intuitivo para o piloto, assim como telefones celulares e tablets. Esse é o nosso foco”, disse Gupta.
Em outras palavras, a Honeywell está finalmente “dizendo adeus” à unidade de exibição de controle (CDU) do sistema de gerenciamento de vôo tradicional (FMS), cujo design tinha mais a ver com acomodar as limitações de hardware e software do que com tornar a operação fácil e intuitiva para os pilotos.
Obviamente, essa transição das CDU de FMS já começou com outras fabricantes de aviônicos e a Honeywell, por exemplo, com os controladores de tela sensível ao toque nos jatos Gulfstream G500/G600 e nos próximos modelos G400, G700 e G800.
Na cabine de comando da Anthem, os pilotos usarão a unidade de exibição da interface do piloto (PIDU – Pilot Interface Display Unit) junto com as telas no painel de instrumentos totalmente sensível ao toque. A PIDU tem uma tela de nove polegadas (22,86 cm) com um scratchpad (bloco de notas) “inteligente”, de acordo com Gupta. Em vez de ter que mudar de uma página de planejamento de vôo ou outra página FMS e selecionar uma página de ajuste para alterar as frequências, no PIDU o piloto simplesmente insere a frequência no scratchpad e o sistema oferece lugares onde essa frequência pode ser necessária – por exemplo, o rádio de comunicação ativo – e o piloto seleciona isso.
Isso não é muito diferente da tendência de alguns fabricantes de aviônicos, mas é uma mudança para a Honeywell e apenas uma das melhorias na interface.
O design da plataforma da Honeywell também é diferente, pois a PIDU é apenas mais uma tela da cabine de comando que pode mostrar qualquer informação, a mesma que as telas do painel, mas que também incorpora recursos de interface do piloto.
“Não queremos impor uma [maneira de fazer as coisas]”, explicou Gupta. “Queremos dar escolhas. Isso permite que eles [pilotos] tenham uma ideia do que desejam para seus aviônicos”, esclarecendo.
Por outro lado, as fabricantes de aeronaves também terão mais opções no design e layout da cabine de comando de seus projetos. Gupta aponta que, em geral, uma aeronave pequena pode vir ter uma ou duas PIDU, enquanto um jato executivo até quatro.
A história por trás da nova plataforma Anthem não é apenas sobre a interface de usuário, mas também a arquitetura do hardware e software subjacentes. Ao contrário dos atuais aviônicos baseados em rack, onde cada função principal reside dentro de um conjunto de placa de circuito eletrônico que é encaixado em racks em ‘armários’ de aviônicos ou baias em aeronaves maiores, a plataforma Anthem é incorporada em uma arquitetura do tipo “rede” (network).
De acordo com a Honeywell, o problema com os aviônicos do estilo Epic é que os mesmos não podem ser aproveitados para aeronaves menores, pelo menos não de uma forma econômica. Isso explica em parte por que a Honeywell não teve sucesso em penetrar no mercado dos modelos da Família King Air com sua cabine de comando AeroVue, que pode ter sido muito cara para atrair clientes. “O que podemos fazer com a redução da escala é limitado”, explicou Gupta. “Você não pode diminuir de grande para pequeno. A Anthem concentra-se nos sistemas menores e mais restritos e, em seguida, é ampliada”. A arquitetura é baseada em módulos de processamento distribuído, cada um deles do tamanho de um livro. Se mais potência de processamento for necessária, mais módulos serão adicionados. “É por isso que podemos trabalhar em todos os segmentos de mercado”, disse Gupta.
Para a Honeywell, a grande mudança para a próxima geração de aviônicos é a conectividade baseada em “nuvem” em tempo integral da Anthem. “Nós nos concentramos na experiência do usuário e na interface do usuário para reduzir a carga de trabalho do piloto”, disse Gupta, “e trouxemos conectividade para isso”.
O que isso significa é que a Unidade de Servidor de Rede Integrada da Anthem pode usar quase qualquer método de conexão com a internet, incluindo comunicação por satélite (satcom), celular e – quando dentro do alcance de acesso – acessos e conexões Bluetooth e Wi-Fi. “Podemos fornecer dados relevantes para todos, especialmente para o piloto durante o vôo. Isso nos permite planejar o futuro”, disse Gupta.
Por exemplo, aeronaves autônomas precisarão de conectividade em tempo integral para orientação e recuperação, se algo der errado. E as aeronaves do futuro provavelmente incorporarão alguma forma de operação de veículos simplificada, exigindo tripulações de vôo menores, de veículos de mobilidade aérea urbana a, eventualmente, aeronaves de transporte de carga e passageiros.
“A Epic tem conectividade agora”, disse Gupta, “mas ela tem comunicação bidirecional com tudo conectado? Projetamos a Anthem pensando na conectividade; é integral”.
A plataforma de aviônica Anthem se baseia no conjunto de recursos da Epic, com recursos encontrados nos jatos executivos mais avançados da atualidade. A ideia é disponibilizá-los em todos os segmentos de mercado para que mais pilotos e operadores possam tirar proveito de todos os recursos de segurança normalmente disponíveis apenas em aeronaves maiores, e isso é possível devido à potência dos módulos de processamento distribuído. Esses recursos incluem um sistema de alerta e consciência para excursão de pista em 3D, mapas/cartas em 3D dinâmicas de aeroportos, visão sintética, mapa/carta de navegação integrada e uma exibição de situação vertical.
As fabricantes de aviônicos há muito prometem designs de “arquitetura aberta” viabilizando novos recursos de outros fornecedores por meio de software, o que nem sempre teve sucesso. Com a Anthem, a Honeywell está prometendo abrir seu Secure Cockpit Browser (navegador de cockpit de proteção para desenvolvedores terceirizados, permitindo que aplicativos desenvolvidos por outras empresas sejam executados no ambiente da plataforma Anthem.
A Honeywell cita, como um exemplo, um aplicativo que encontra imagens de câmeras meteorológicas do aeroporto de destino – por meio da conexão sempre ativa da Anthem com a internet. O piloto poderá optar por duas janelas lado a lado, uma com a alimentação da câmera ao lado da outra com a imagem do radar de destino, seja de satélite ou por informação de meteorologia ADS-B IN ou por radar meteorológico de bordo. “Ter mais desse tipo de informação na ponta dos dedos de um piloto os ajuda a tomar melhores decisões com mais frequência”, divulga a Honeywell.
Por fim, a plataforma Anthem se integra perfeitamente ao Honeywell Forge, o serviço de gerenciamento de frota baseado em “nuvem”, que ajuda os operadores e tripulações a otimizar a rota antes e durante o vôo para reduzir os custos de combustível e também lidar de forma proativa com problemas de manutenção.
“Quando você combina conectividade sem precedentes e novos recursos com nossa interface de usuário totalmente nova e intuitiva que pode ser adaptada para parecer e sentir exatamente como um piloto deseja, você tem um sistema verdadeiramente revolucionário”, disse Gupta. “Isso nos deixará mais próximos de nosso objetivo comum da indústria de vôo autônomo e não exigirá altos níveis de habilidade do piloto ou do operador para estarmos seguros”, finalizou Gupta. [EL] – c/ fontes