Na expectativa que os resultados deste ano serão ainda melhores do que de 2024, a estratégia da EMBRAER para seguir alta após rali de 150%: “vender, vender, vender [aeronaves civis e militares]”, em 19.01.25

Fonte: Bloomberg – 18/01/2025
A EMBRAER vem traçando um caminho diferente das suas maiores concorrentes, em que mantém as fábricas em funcionamento e o fluxo de entregas.
A fabricante brasileira começa 2025 em forte ritmo, após as entregas terem aumentado 14% no ano passado, e as ações (EMBR3) disparado 150% – a maior alta da Bolsa brasileira -, enquanto a nota de crédito atingiu grau de investimento pelas agências de classificação de risco. O desempenho ocorreu apesar dos sérios obstáculos macroeconômicos enfrentados pelo Brasil, incluindo uma taxa de juros em dois dígitos e a desvalorização cambial.
“Vamos continuar com o sell, sell, sell [vender, vender, vender], queremos encher os slots de produção nos anos seguintes, então vai ser um foco muito grande”, disse o CEO Francisco Gomes Neto, em entrevista à Bloomberg News. Gomes Neto acrescentou que os resultados deste ano serão ainda melhores do que os que a companhia divulgará para o ano fechado de 2024.
A terceira maior fabricante de aviões do mundo tem ambições de longo prazo para enfrentar o duopólio global de aeronaves comerciais da Boeing e da Airbus, mas as suas aeronaves menores e seu tamanho a transformam em uma concorrente distante – embora distinta.
Especialistas do setor dizem que a EMBRAER se beneficiou de uma reputação de excelência em engenharia e de um sólido histórico de projeto de novos aviões com orçamentos e prazos apertados.
Cinco (5) anos após a Boeing desistir do plano de comprar o ‘braço’ de aeronaves comerciais da fabricante brasileira, a EMBRAER prospera por conta própria no mercado global de jatos comerciais-regionais e executivos e tornou-se uma das maiores histórias de sucesso da América Latina.
O desempenho é muito contrastante com o de suas maiores rivais, à medida que a Boeing trabalha para se reconstruir após um ano brutal e as fábricas da Airbus enfrentam obstáculos persistentes na cadeia de fornecimento.
A dinâmica poderá abrir portas para a EMBRAER expandir seu portfólio.
Liderando a EMBRAER desde 2019, Gomes Neto disse à Bloomberg News que um novo programa de aeronaves não é uma prioridade no curto prazo. Mas em outubro passado deu a entender que a EMBRAER estava estudando um novo jato para competir com o B.737 da Boeing e o A320 da Airbus.
Por enquanto, a EMBRAER está concentrada em seu atual portfólio, ao mesmo tempo em que busca formas de estabilizar sua cadência de produção. Historicamente, as entregas tendem a atingir o pico no último trimestre do ano, mas Gomes Neto disse que quer equilibrar isso ao longo do ano. “Outra coisa em que nós vamos avançar neste ano é o nivelamento da produção”, principalmente após os primeiros três meses do ano, disse Gomes Neto, que acrescentou que os trimestres seguintes serão “muito mais equilibrados”.
Os analistas do setor estão confiantes de que a EMBRAER tem espaço para crescer ainda mais em todos os segmentos, com margens mais fortes vindas da aviação comercial e um aumento nas encomendas na frente de Defesa, beneficiada por um cenário geopolítico global desafiador.
A EMBRAER entregou 206 aeronaves em 2024, das quais mais da metade foram jatos executivos.
O Itaú BBA estima que a EMBRAER aumentará esse número em 2025, entregando até 220 aeronaves comerciais e jatos executivos. Os aviões militares também são um ponto positivo para a EMBRAER.
O seu avião de ataque “Super Tucano” recebeu encomendas de várias nações – do Paraguai a Portugal – e o transportador C-390 Millennium garantiu compradores na Europa e na Ásia, incluindo uma encomenda recente da Coréia do Sul. A EMBRAER espera ainda expandir seus negócios militares com o EUA.
“Os orçamentos de Defesa em todo o mundo estão aumentando, a geopolítica está mais complicada do que nunca e há uma margem muito boa para mais pedidos”, disse Stephen Trent, analista do Citi, que tem uma recomendação de compra para as ações da EMBRAER.
As importações da América do Norte – principalmente do EUA – representaram cerca de 56% dos componentes da EMBRAER nos últimos anos e a fabricante também exporta para o EUA. Essa relação comercial bilateral representa um risco se o presidente eleito, Donald Trump, aplicar novas tarifas e o Brasil retaliar na mesma moeda. Mas Gomes Neto minimizou a ameaça, dizendo que uma guerra comercial prejudicaria as empresas dos dois países. “Não podemos dizer o que vai acontecer, mas confiamos no bom senso de ambos os lados”, disse Gomes Neto.