O imbróglio envolvendo a interrupção da operação da provedora de compartilhamento americana Jet It e o jato Honda Jet HA-420, em 17.06.23


No dia 19 de maio, o CEO da Jet It, provedora americana de operação compartilhada de aeronaves, Glenn Gonzales, anunciou o início da suspensão da operação da frota Honda Jet da Jet It, por questão de segurança, com alusão a um evento de excursão de pista ocorrido à véspera (em 18 de maio), em Summerville, na Carolina do Sul, envolvendo um operador de Honda Jet do transporte privado.

A Jet It operava uma frota de 21 jatos Honda Jet HA-420.

Gonzales atribuiu, para medida do fracasso de sua empresa, culpa exclusivamente ao modelo Honda Jet HA-420, alegando que o jato é inerentemente defeituoso. Em um esforço para substanciar suas alegações sobre deficiências do Honda Jet, Gonzales apresentou um relato de ocorrências de excursão e incursão de pista envolvendo o modelo desde a introdução e entrada no mercado.

As alegações de Gonzales foram sumariamente refutadas pela Honda Aircraft e impugnadas pela HJOPA – HondaJet Owners & Pilots Association (associação de pilotos e proprietários de Honda Jet), um grupo que representa os proprietários de jatos Honda Jet.

Especialistas do setor da aviação alegam que a paralisação por segurança da Jet It foi “encenada” com o objetivo de mascarar problemas reais da empresa, de ordem financeira, mais exatamente de fluxo de caixa que, nos meses anteriores, retiveram em hangares do centro de manutenção quase metade da frota de 21 jatos Honda Jet HA-420, com a falta de pagamento e pendências de remuneração relativamente às aeronaves.

Conforme post da mídia AeroNews, em 23/05/2023, numa carta aos membros da HJOPA, a diretora executiva da associação, Julie Hughes, escreveu: “Houve vários incidentes de escape e excursão de pista do Honda Jet. Embora ainda estejamos coletando dados sobre esses incidentes, estamos tomando medidas imediatas para resolver essa significativa preocupação de segurança. À luz dessas ocorrências, iniciamos o planejamento de uma iniciativa importante – uma discussão de segurança. Prevemos este evento como uma oportunidade fundamental para aprimorar nossas práticas de segurança coletivamente”.

Em um vídeo junto com a carta, Hughes afirmou que oito ocorrências de escape e excursão de pista de Honda Jet ocorreram nos 12 meses, explicando que ela procurou apenas abordar “o recente aumento de incidentes e acidentes” envolvendo as aeronaves Honda Jet.

Na carta, Hughes continuou: “É fundamental que não tiremos conclusões precipitadas ou façamos suposições infundadas. Em vez disso, estamos permitindo que os dados nos informem sobre essa tendência preocupante em nossa plataforma”.

Hughes afirmou que ficou surpresa ao saber do email do CEO da Jet It Glenn Gonzales, com a posição crítica ao Honda Jet e justificativa para a interrupção da operação do modelo na empresa. Hughes registrou: “Não nos comunicamos com a Jet It sobre este assunto e ficamos surpresos ao vê-los caracterizar incorretamente nossa posição. Não queremos parquear o avião [modelo]. Acreditamos que o avião é seguro. Queremos usar os dados dos incidentes como base para aprimorar o treinamento de pilotos e a tomada de decisões. De forma alguma achamos que o Honda Jet deva ser parqueado”.

Em uma declaração por escrito abordando o conflito, um portavoz da Honda Aircraft, pelo programa Honda Jet, afirmou: “A decisão da Jet It de parquear sua frota Honda Jet foi feita independentemente pela Jet It. É importante ressaltar que nem a Honda Aircraft Company nem nenhuma autoridade de aviação recomendaram esse parqueamento. Portanto, não temos comentários sobre a decisão da Jet It de imobilizar sua frota”. A declaração segue: “A Honda Aircraft Company está apoiando ativamente a investigação de um recente acidente de uma aeronave cliente em 18 de maio de 2023, no Aeroporto de Summerville (DYB), em Summerville, Carolina do Sul. O acidente não resultou em feridos, mas como a investigação está em andamento, não temos mais detalhes para compartilhar no momento. A Honda Aircraft Company mantém a segurança e a confiabilidade de nossas aeronaves como nossas principais prioridades, e nossa equipe dedicada está trabalhando em estreita colaboração com o NTSB e a FAA para determinar a causa dessa ocorrência e implementar as medidas necessárias”. A declaração do portavoz para o Honda Jet concluiu: “Em todas as investigações fechadas de eventos anteriores na pista, os investigadores não encontraram fatores causais do design da aeronave ou qualquer mau funcionamento do sistema. Nossa engenharia e análise apóiam nosso produto como uma aeronave segura para operar. Como resultado, a Honda Aircraft Company continuará todas as suas atividades de vôo em operação normal”.

O post da Aero News historia que a Jet It (Glen Gonzalez) e a Honda Aircraft (“Honda Jet”) estão em “desacordo” desde outubro de 2022, quando a Jet It divulgou suas intenções de adotar a plataforma EMBRAER Phenom 300.

Em um email de novembro de 2022 para proprietários fracionários sobre chamadas de vendas de cotas referentes à nova oferta de EMBRAER Phenom 300, pela Jet It, Gonzalez criticou a Honda e o Honda Jet, alegando que a aeronave HA-420 não era confiável e caracterizando o suporte da fabricante ao jato como “grosseiramente inadequado”.

Segundo a Aero News, vários proprietários-cotistas de aeronaves pela Jet It teriam, agora, questionado Gonzales em relação à suspensão da operação por alegada razão de segurança, perguntando pela possibilidade desta medida ter sido decretada, de fato, por razões financeiras; um proprietário-cotista teria chegado a afirmar: “Parece para mim que você está falido”.

Solicitado a comentar e responder às suspeitas e acusações de que problemas financeiros, e não questões de segurança, teriam precipitado o parqueamento e a suspensão das operações da frota da Jet It de aeronaves HJ compartilhadas, o Gonzales declinou e não se pronunciou.

As concorrentes de mercado (na operação de aeronaves compartilhadas Jet Tokem e Volato – ambas operadoras de Honda Jet HA-420 – permanecem confiantes no modelo e continuam a operar como uma questão de convenção.

Em meio as repercussões quanto ao caso da Jet It (nas razões alegadas, de ordem técnica ao modelo) e o reconhecimento da HJOPA pela recente estatística de incidentes de excursão de pista, as duas provedoras se manifestaram, na salvaguarda de suas operações e negócios.

Numa declaração por escrito, o chairman da Jet Token Mike Winston comentou: “Estamos confiantes no histórico de segurança bem estabelecido do Honda Jet; operamos a aeronave há anos sob PART-135 da FAA 135 com grande sucesso (e sem incidentes). Na Jet Token, colocamos a segurança em primeiro lugar e não poderíamos pedir um parceiro mais comprometido com a segurança do que a Honda Jet”.

O CEO da Volato, Matt Liotta, afirmou numa declaração por escrito: “A Volato está confiante na plataforma Honda Jet e em nossa capacidade de operar a aeronave com segurança. Nossos padrões e procedimentos de segurança são projetados para reduzir o risco. Operamos sob os padrões de voo do PART-135 da FAA, que são mais restritivos e fornecem uma margem extra de segurança em relação ao regulamento PART-91 de alguns operadores”.

A declaração de Liotta registra: “A Volato operou mais de sete mil vôos sob condições climáticas variadas com segurança e acredita que seu rigoroso treinamento de pilotos e padrões operacionais profissionais continuarão a definir o padrão para operações seguras e confiáveis do Honda Jet. O recente incidente envolvendo uma excursão de pista do Honda Jet no aeroporto de Summerville, em 18 de maio, levou a conjecturas que questionam a segurança e o desempenho da aeronave. A Volato usa uma abordagem conservadora [em processamento de performance de pista, em pouso] para cálculo de comprimento de pista requerido e teria assumido que esta pista estava contaminada com água acumulada (parada), o que exigiria mais distância para parar com segurança para todas as aeronaves. Por esse motivo, pousar no aeroporto de Summerville nessas condições não atenderia aos padrões de segurança da Volato”. Na declaração, concluiu: “Reconhecendo nosso papel de liderança na comunidade Honda Jet, a Volato agora convidará participantes terceirizados para nosso encontro anual de segurança, concedendo acesso a nossos sistemas, padrões e currículo exclusivos de segurança”.

Nas primeiras informações do acidente, o jato (com seis ocupantes, regressando do Condado de Wilkesboro-Wilkes/KUKF, na Carolina do Norte, a cerca de 194 MN NW-N) pousou na madrugada do dia 18 na pista 24 (de 1.524 m., por 23 m. de largura, pavimento de asfalto em boa condição, sem ranhura) do aeroporto de Summerville (KDYB), em altitude de 56 pés, após aproximação direta de com procedimento RNAV (GNSS). Por METAR, a visibilidade era de 6 SM (9,65 km/5,2 MN), com tempo presente de bruma (névoa úmida), céu com poucas nuvens com base a 200 pés e céu nublado com Teto a 3.200 pés, com vento calmo. Não havia precipitação, após reporte de chuva fraca no boletim de 40 min. antes, mas sendo informado no METAR vigente acumulado de chuva na última hora de 0,02 pol. (0,51 mm). Boletins METAR antecedentes – entre 05h e 04h20m antes do pouso – informaram chuva fraca e leve, tendo sido acumulado de chuva na última hora de 0,03 pol. (0,76 mm).

De acordo com a NBAA – Associação Nacional de Aviação Executiva (do EUA), “as excursões de pista continuam sendo uma das preocupações mais significativas do setor, atormentando novatos e profissionais”.

Especialistas do setor da aviação alegam que a paralisação de operação da frota HJ da Jet It por segurança foi “encenada” com o objetivo de mascarar problemas reais da empresa, de ordem financeira, mais exatamente de fluxo de caixa que, nos meses anteriores, retiveram em hangares do centro de manutenção quase metade da frota de 21 jatos Honda Jet HA-420, com a falta de pagamento e pendências de remuneração relativamente às aeronaves.

De acordo com o post da Aero News, não obstante as alegações do CEO Glen Gonzales, em negação, os sintomas de ‘males’ financeiros da Jet It são inúmeros e convincentes.

Pagamentos de aluguel no principal hangar da Jet It em Greensboro, na Carolina do Norte, no qual a empresa arquiva os documentos técnicos de suas aeronaves, estão supostamente muitos meses atrasados. Comentários revelam que os proprietários do imóvel bloquearam a Jet It fora das instalações enquanto aguardando o pagamento de regularização de aluguel. Gonzales refutou esta informação, no entanto, afirmando: “O acesso ao aeroporto foi devolvido ao proprietário do hangar em conjunto com a licença, pois os aeroportos são áreas controladas”.

Um outro indício seria a situação das aeronaves HJ da frota da Jet It, de 21 jatos HA-420. Informações que circulam dão conta que pelo menos 10 jatos estariam fora de utilização, não-operacionais, com manutenção “aberta”, enquanto outros três jatos teriam ressalvas e registros de dívida por falta de pagamento por serviços de manutenção. Uma organização de manutenção de identificação não-revelada teria retido um jato na falta de pagamento pela Jet It de conta de US$ 24.000.

Informações que circulam também dão conta que a Jet It deveria à Honda Aircraft um montante de US$ 1,6 milhões. Além do mais, dois executivos da área comercial, de vendas de aeronaves, da Jet It supostamente devem mais de US$ 200.000 cada pela empresa.

Falando sobre a interrupção de operação de modo ostensivo da Jet It, o advogado de aviação David Hernandez afirmou para a Aero News: “Uma situação de crise requer uma análise imediata e abrangente. Infelizmente, a maioria dos proprietários simplesmente acredita que uma crise nunca ocorrerá e, francamente, muitos nunca leram completamente seus contratos de programa. Como resultado, a maioria dos proprietários simplesmente não está preparada para lidar com a maioria das crises quando elas surgem”. O advogado seguiu com um conselho: “Determine todas as opções disponíveis com base nas circunstâncias relevantes, crie um plano de resolução e execute o plano imediatamente. Aja rápido porque os direitos e remédios disponíveis evoluem rapidamente em uma situação de crise, e aqueles que atrasam podem ficar sem nada”. E alertou contra a dependência de corretores de aeronaves, com a sua opinião: “Corretores e consultores … [sua] principal preocupação não é proteger seus direitos sob os contratos de um programa”. [EL] – c/ fontes