Petrobras realiza testes inéditos de SAF – produção de querosene de aviação com conteúdo renovável em escala industrial – na REVAP, em 24.09.25


Em nota no 22, o Ministério de Portos e Aeroportos divulgou que o Brasil deu um passo importante rumo à aviação de baixo carbono.

Neste mês de setembro, a Petrobras realizou, na Refinaria Henrique Lage (REVAP), em São José dos Campos (SP), a primeira produção de querosene de aviação com conteúdo renovável em escala industrial. O novo combustível SAF (combustível sustentável de aviação) pode reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa e já está no centro das ações do governo federal, por meio do Ministério de Portos e Aeroportos (MPOR) e da ANAC.

Os testes da Petrobras
A Petrobras vem liderando no Brasil a produção experimental de SAF, com resultados inéditos em suas refinarias.

Na Refinaria Henrique Lage (REVAP), em São José dos Campos (SP), a empresa produziu pela primeira vez um lote de querosene de aviação.

O gerente geral da REVAP, Alexandre Coelho, explicou o processo realizado: “Durante os testes na REVAP, foi incorporado óleo vegetal ao processo tradicional de produção do querosene de aviação [QAv], atingindo um teor de até 1,2% de componente renovável. Este percentual, embora aparentemente pequeno, representa uma redução significativa na pegada de carbono do combustível final. Trata-se de uma abordagem de menor investimento para a produção de combustíveis com conteúdo renovável, pois utiliza ativos já existentes. Para alcançar esse resultado, foram realizadas análises detalhadas de engenharia de processo, ajustes nas variáveis de pressão e temperatura, além de rigoroso acompanhamento laboratorial para garantir o enquadramento do produto nas especificações técnicas exigidas”.

Alexandre Coelho também destacou a importância dessa iniciativa. “A consolidação desta rota tecnológica é especialmente relevante considerando que a REVAP é responsável por aproximadamente 50% de todo o querosene de aviação produzido no país. A refinaria possui interligação direta com o Aeroporto Internacional de Guarulhos, o que confere grande competitividade logística ao produto”.

Alexandre Coelho também detalhou os próximos passos. “A empresa está finalizando o relatório técnico para submetê-lo à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis [ANP] até o final de setembro. Na sequência, a Petrobras contratará uma certificadora para atestar a redução de emissões de carbono do produto. Com a aprovação regulatória e a certificação, o produto estará apto para comercialização, abrindo novos horizontes de mercado e sustentabilidade para a companhia e para o setor de aviação brasileiro”, finalizou Coelho.

 

O SAF é um querosene de aviação feito a partir de matérias-primas renováveis (óleos vegetais, resíduos gordurosos, etanol, entre outros). Por ter química compatível com o querosene de aviação (QAv) atual fóssil), pode ser usado misturado e nas aeronaves sem precisar adaptar motores ou infraestrutura, misturado em diferentes proporções.

No cenário internacional, o SAF está diretamente alinhado às metas climáticas estabelecidas pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), em especial pelo Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional (CORSIA), que prevê a compensação e redução das emissões de carbono, com o objetivo de alcançar emissões líquidas zero até 2050. O SAF é uma das principais vias para isso.

O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, destacou a importância dessa iniciativa. “O uso do SAF representa um passo decisivo para a descarbonização da aviação e para o fortalecimento da competitividade do Brasil no cenário internacional. Nosso papel no MPOR é criar as condições para que esse combustível sustentável ganhe escala, com segurança regulatória e previsibilidade”, disse Costa Filho.

Para a diretora de Sustentabilidade do MPOR, Larissa Amorim, “o Brasil reúne condições únicas para se tornar protagonista na produção e uso de combustíveis sustentáveis de aviação. Temos disponibilidade de matérias-primas, maturidade tecnológica e um conjunto de iniciativas em andamento, que fortalecem nosso compromisso com a descarbonização e, ao mesmo tempo, geram novas oportunidades de desenvolvimento socioeconômico”.

A adoção do SAF representa uma mudança estrutural para a aviação brasileira. Por ser produzido a partir de matérias-primas renováveis, tem grande potencial de reduzir emissões de CO₂ no seu ciclo de vida, ou seja, do processo de produção ao uso final nas aeronaves. Essa redução se conecta às metas globais da OACI/CORSIA e à política nacional estabelecida pela Lei do Combustível do Futuro. Com isso, o Brasil avança para consolidar uma aviação de baixo carbono, em linha com a agenda climática internacional.

A produção nacional de SAF abre espaço para novas cadeias produtivas ligadas à bioenergia, à indústria química e ao agronegócio, com estímulo à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Ao mesmo tempo, atrai investimentos de empresas aéreas, refinarias e novos players interessados no mercado de combustíveis sustentáveis.

O SAF também tem um papel estratégico para garantir que o Brasil mantenha e amplie sua participação em rotas internacionais. Com países e blocos econômicos exigindo metas mais rígidas de descarbonização para os próximos anos, o uso do combustível sustentável será decisivo para que companhias aéreas que operam no Brasil continuem competitivas nos mercados mais exigentes.

A ANAC atua para que a introdução do SAF no Brasil siga padrões internacionais de segurança, qualidade e sustentabilidade. Representando o país na OACI e em fóruns técnicos como o CAEP, a ANAC contribui para alinhar o setor aéreo brasileiro ao compromisso global de neutralidade de carbono até 2050.

No caso específico do SAF, esse alinhamento internacional é determinante: além de atender às mesmas especificações de segurança do querosene fóssil, o combustível precisa comprovar benefícios ambientais ao longo de todo o seu ciclo de vida. Por isso, a regulação brasileira adota metodologias e esquemas de certificação reconhecidos no âmbito da OACI, assegurando rastreabilidade e transparência nas reduções de emissões.

Com a Lei do Combustível do Futuro (Lei 14.993/2024), que estabelece percentuais graduais de uso obrigatório de SAF no transporte aéreo doméstico a partir de 2027, a ANAC terá o papel de fiscalizar as empresas aéreas e operar procedimentos de monitoramento, reporte e verificação (MRV).

O Ministério de Portos e Aeroportos (MPOR) entende que é preciso reduzir emissões na aviação, ao mesmo tempo em que se promove desenvolvimento socioeconômico, já que o Brasil tem vantagens comparativas, como variedade e quantidade de matérias-primas, infraestrutura instalada, base acadêmica e tecnológica e níveis de prontidão tecnológica (Technical Readiness Level) entre 8, 9 e 10, valores que indicam tecnologias já testadas, comprovadas em operação e prontas para produção em escala.

Entre as iniciativas hoje em andamento nesse tema, estão:

  1. FOTEA: o Fórum de Transição Energética na Aviação Civil é um espaço de coordenação criado pelo MPOR para convergir ações de descarbonização no setor, incluindo a adoção de SAF. A primeira reunião, em 21/11/2024, teve a participação de órgãos públicos, indústria, academia e entidades da aviação civil.
  2. Anúncio da criação de grupo de trabalho sobre temas como Combustível Sustentável de Aviação (SAF), no evento “Aviação do Futuro”.
  3. Resolução CNPE 10, de 26/8/2024: marco de política energética que orienta a transição em combustíveis, incluindo a aviação, e serve de base para harmonizar o arcabouço regulatório necessário ao avanço do SAF.
  4. Conexão SAF: fórum informal que reúne agentes públicos e privados para debater, de forma contínua e estruturada, como viabilizar o SAF no Brasil.
  5. Projeto-piloto São José dos Campos: em parceria com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) e órgãos reguladores, mapeia requisitos e adapta a cadeia de suprimento para viabilizar oferta contínua de SAF nesse aeroporto, criando um caso de uso replicável.
  6. TED SAC/UFJF: termo de execução descentralizada para apoio técnico e estudos aplicados relacionados ao SAF, com vigência de 24 meses e investimento de R$ 1,2 milhões para soluções práticas e formação de capacidades.
  7. TED SAC/ANP: investimento no Centro de Pesquisas e Análises Tecnológicas (CPAT/ANP) para desenvolver e validar métodos analíticos e metrológicos aplicados ao SAF, removendo barreiras técnico-regulatórias essenciais à consolidação dessa indústria no país.

Ao fortalecer a cooperação público-privada e integrar inovação, sustentabilidade e competitividade, o MPOR busca consolidar o Brasil como referência internacional em aviação sustentável, ampliando a presença do país na transição energética global e garantindo ganhos econômicos, ambientais e sociais para toda a sociedade.