Presidente do EUA Donald Trump assina ordem que implementa tarifa de 50% sobre importações no país de produtos do Brasil, com várias exceções, incluindo aeronaves e peças-componentes aeronáuticos, em 31.07.25


No dia 31, o presidente do EUA Donald Trump assinou ordem executiva que implementa tarifa total de 50% sobre produtos brasileiros exportados para o país. A medida foi justificada como resposta a uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança nacional, política externa e economia norte-americana. A nova alíquota entra em vigor em um prazo de sete dias, e traz diversas exceções, entre as quais aeronaves e peças-componentes aeronáuticos, suco de laranja e outros produtos agrícolas, petróleo e derivados e alguns metais.

Segundo comunicado da Casa Branca, a decisão foi tomada com base na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional, de 1977, e mira “políticas e ações” do governo brasileiro que, na visão dos EUA, prejudicam empresas e cidadãos norte-americanos.

O texto cita diretamente o julgamento do ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), classificando o processo como “perseguição politicamente motivada” e acusando autoridades brasileiras de cometer “abusos graves de direitos humanos”.

“Ao impor essas tarifas para enfrentar as ações imprudentes do governo do Brasil, o presidente Trump está protegendo a segurança nacional, a política externa e a economia do Estados Unidos de uma ameaça estrangeira”, diz o comunicado.

A Casa Branca afirma que a decisão também busca “preservar e proteger a liberdade de expressão” de cidadãos americanos e “defender empresas do EUA de censura forçada”.

O anúncio intensifica a já tensa relação entre os dois países, que desde julho enfrentam uma disputa comercial e diplomática.

Decreto de Trump adota longa lista de produtos isentos, incluindo aeronaves e componentes aeronáutico, e adia por sete dias implementação de tarifas de 50% sobre o Brasil
O presidente Donald Trump adiou a implementação de tarifas de 50% sobre as exportações brasileiras por sete dias, ao mesmo tempo em que adotar uma lista de muitos produtos da pesada taxa.

A decisão de Trump de “tarifaço” sobre as exportações brasileiras para o EUA veio com uma longa lista de exceções, incluindo suco de laranja, castanha, metais preciosos, estanho e alguns tipos de alumina derivados de petróleo, os setores de energia, fertilizantes e madeira, e aeronaves civis e componentes-peças aeronáuticas. A lista de isenções, no entanto, não se estendeu a outros grandes produtos brasileiros, apontando para riscos contínuos para o gigante agrícola. Havia expectativa de que café, manga e cacau fossem incluídos na lista de exceções, o que não ocorreu. Além desses produtos, carne bovina, frutas, pescados, açúcar e etanol serão taxados em 40%, que se somam aos 10% já existentes.

A isenção sobre aeronaves e peças-componentes aeronáuticos preservou a fabricante brasileira EMBRAER, que trabalhou para explicar o impacto que as tarifas teriam em suas operações no EUA, onde emprega mais de 2.000 pessoas.

A seguir os (694) principais produtos que ficaram isentos da nova tarifa de até 50% imposta ao Brasil:

Tipo                                                           n° itens
Suco e derivados de laranja                         4
Castanhas e nozes                                       1
Celulose e madeira                                       22
Aeronaves e peças                                       164  [24%]
Petróleo e derivados                                     55    [8%]
Ferro-gusa                                                     3
Fertilizantes                                                   3
Silício metálico                                               3
Metais preciosos                                            2
Outros                                                            437  [63%]
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A lista de produtos do Brasil isentos da tarifa de 50% do EUA inclui petróleo e derivados. No documento divulgado pela Casa Branca, 22 classes de itens relacionados à matéria-prima receberam exceções da sobretaxa.

Entre os itens estão óleos de petróleo e óleos de minerais betuminosos, brutos, testados abaixo de 25 graus API, além de combustível de aviação do tipo querosene.

“O mercado já estava precificando a tarifa de 50%, então as isenções são uma surpresa, o que na verdade dilui o impacto das tarifas”, disse Marco Oviedo, estrategista sênior da XP Investimentos. “No futuro, dependerá da resposta do governo brasileiro”.

“A comida continua sendo um problema sério, pois café, carne, mangas e todas as frutas terão tarifas”, disse Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior do Brasil.

Desde a semana passada, o governo brasileiro tem trabalhado em um plano de contingência para mitigar o impacto potencial das tarifas. Com a EMBRAER e suco de laranja excluídos da taxação de 50%, e passou a ver situação como menos ameaçadora porque menos setores-chave precisarão de apoio, segundo um terceiro oficial, que, como os outros, pediu anonimato para discutir assuntos internos. Mas o governo permanece cauteloso, vendo a combinação da ordem tarifária e das sanções contra Moraes como parte de uma campanha de pressão mais ampla que ainda pode aumentar à medida que o julgamento de Bolsonaro avança, disse uma das pessoas.

Isenção de tarifas de Trump abrange 43% das exportações brasileiras (de US$ 42,3 bi), afirma AMCHAM
g1 – 30/07/2025
O decreto assinado por Donald Trump nesta quarta-feira (30) que impõe uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras deixou de fora 694 produtos. Segundo cálculo da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (AMCHAM), os itens protegidos da nova tarifa representam US$ 18,4 bilhões em exportações do Brasil para o EUA em 2024. O valor corresponde a 43,4% do total de US$ 42,3 bilhões exportados pelo Brasil para o EUA, de acordo com a análise da entidade.

A AMCHAM afirma que a exclusão desses itens atenua parte dos efeitos do tarifaço, mas mantém impacto relevante sobre a competitividade de setores estratégicos da economia brasileira.

“Produtos que ficaram de fora da lista continuam sujeitos ao aumento tarifário, o que compromete a competitividade de empresas brasileiras e, potencialmente, cadeias globais de valor”, divulga o comunicado da entidade.

A lista de exceções, incluída no anexo da ordem executiva assinada por Trump, abrange setores estratégicos. Entre os principais produtos isentos da nova alíquota estão:

  1. Aeronaves civis e peças;
  2. Veículos de passageiros e caminhões leves;
  3. Suco e polpa de laranja;
  4. Petróleo, carvão, gás natural e derivados;
  5. Celulose, ferro-gusa, fertilizantes e metais industriais;
  6. Smartphones, eletrônicos e bens pessoais;
  7. Produtos agrícolas como castanha-do-brasil e madeira tropical; e,
  8. Donativos, livros, obras de arte e material jornalístico.

No caso das aeronaves, a EMBRAER foi a maior beneficiada. O mercado do EUA responde por 45% das vendas de jatos comerciais e 70% das de jatos executivos da fabricante brasileira.

A tarifa de 50% imposta pelo EUA deve atingir em cheio alguns dos principais setores exportadores do Brasil.

Entre os não isentos, estão alguns dos produtos mais vendidos pelo Brasil para o EUA, como:

  1. café;
  2. calçados;
  3. carne bovina;
  4. frutas;
  5. máquinas agrícolas e industriais;
  6. móveis; e,
  7. têxteis.

EMBRAER se livra do “tarifaço” Trump (de 50%) e defende tarifa zero; ao todo, 565 artigos de aviação civil entraram na lista de itens que não sofrerão aumento no imposto de importação no EUA
Em post no dia 31 na mídia de negócios online InfoMoney, Iuri Santos, repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney, repercutiu o beneficiamento da fabricante brasileira EMBRAER pela decisão do governo Trump pela exclusão de seus itens de taxação de 50% sobre a importação de produtos brasileiros no país.

La lista de isenções de 694 itens, de longe, um setor teve o maior número de itens excluídos: são 565 (81,4%) artigos de aviação civil incluídos na lista. Quem mais se beneficia disso foi a EMBRAER, é claro, mas a fabricante ainda defende o retorno à regra de tarifa zero para a indústria aeroespacial.

A produtora brasileira de aeronaves seria uma das principais afetadas pelo aumento no imposto, já que o EUA é o destino da maior parte das vendas. Agora, as exportações da fabricante brasileira permanecem com uma tarifa de 10%.

Veículos aéreos representaram 5,9% das exportações totais do Brasil para o EUA em 2024. Os americanos foram responsáveis por comprar 63,2% dos US$ 3,8 bilhões de aeronaves exportadas no último ano. Basta dizer que cerca de 60% das vendas da EMBRAER são destinadas ao EUA para entender como a fabricante brasileira reflete o impacto na balança comercial.

O documento assinado por Trump destaca quais exceções incluem apenas artigos de motores, peças e componentes de aeronaves civis. A lista com mais de 500 itens vai de tubos, dutos e mangueiras de polímeros de etileno até turbinas e as aeronaves em si.

Nas últimas semanas, o CEO da EMBRAER, Francisco Gomes Neto, esteve com autoridades do alto escalão do governo americano para argumentar sobre a aplicação de tarifas prometidas por Trump no início de julho.

A EMBRAER calculava que um aumento de 40% sobre as tarifas de 10% já anunciadas anteriormente por Trump significaria um custo adicional de US$ 9 milhões por aeronave exportada.

Em comunicado, a EMBRAER declarou que a exclusão dos seus itens de exportação da lista “confirma o impacto positivo e a importância estratégica” das suas atividades para as economias de Brasil e EUA. “Continuamos acreditando e defendendo firmemente o retorno à regra de tarifa zero para a indústria aeroespacial global”, consta a nota.

A carteira de pedidos de jatos comerciais mais recente da EMBRAER anota 336 pedidos firmes, dos quais 181 (53,9%) vêm de operadoras do EUA basicamente obrigadas a comprar aeronaves da linha E1 para rotas regionais curtas.

Analistas do mercado financeiro têm forte otimismo após EMBRAER escapar do “tarifaço” Trump
Em post no dia 31 na mídia de negócios online InfoMoney, a editora de mercados Lara Rizério repercutiu a reação do mercado financeiro decreto dos EUA aumentando tarifas comerciais para produtos do Brasil excluir aeronaves e peças-componentes aeronáuticos de taxação para 50%, que fortemente prejudicaria a fabricante EMBRAER.

Com uma queda de 15% desde 9 de julho até o fechamento da última terça-feira (29), as ações da EMBRAER na Bolsa brasileira (EMBR3) tiveram um movimento de forte euforia na última quarta (30), após o decreto dos EUA. Assim, após um momento inicial de queda na última quarta com um primeiro anúncio da taxação em 50%, os papéis EMBR3 fecharam com ganhos de 10,93%, a R$ 76,25, em uma virada que começou quando o mercado tomou conhecimento das exceções às tarifas que incluíam os produtos exportados pela fabricante de jatos. O ADR (recibo de ações negociado em Nova York) ERJ saltou 10,54%, a US$ 54,83.

A ação vinha sofrendo com tal perspectiva, dado que os EUA são o principal mercado da fabricante de aviões.

Em nota, a EMBRAER destacou que as suas exportações para o mercado americano permanecem com 10% de tarifa, em vigor desde abril.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a EMBRAER era uma das empresas mais óbvias de que não era possível manter essas tarifas, porque o maior prejuízo seria sobre as companhias áreas americanas pela falta de opções em termos de substituto e também por questão de segurança – uma vez que o sindicato de pilotos que não autoriza nenhum tipo de troca se não for aprovado por eles. “Era muito difícil, era o caso mais específico, mais complicado de se trocar”, apontou.

Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, também ressaltou que, nessa hora, o lobby corporativo falou mais alto. “Grandes companhias de tecnologia e indústria fizeram barulho e conseguiram o que queriam, manter o custo dos seus insumos controlados para não travar a máquina produtiva americana. Foi uma decisão pragmática, que mostra que, mesmo com o discurso protecionista, o governo Trump sabe onde pode e onde não pode apertar sem causar um colapso interno”, avaliou.

Neste cenário de alívio, a EMBRAER deixou de ser uma das maiores vítimas do “tarifaço” e voltou para o rol das empresas mais promissoras da Bolsa brasileira, inclusive com analistas reforçando projeções ainda mais otimistas para as ações da companhia.

O JPMorgan, por exemplo, reforçou recomendação overweight (exposição acima da média) para as ações da companhia e destacou esperar que os papéis atinjam novas máximas históricas. Cabe ressaltar que os papéis EMBR3 bateram máxima histórica no último dia 4 de julho, chegando a serem negociados a R$ 83,71, justamente antes da relação entre EUA e Brasil começar a ficar turbulenta. Levando em conta o fechamento da véspera, o papel teria que subir cerca de 10% para ao menos igualar esta marca.

O banco vê novas máximas refletindo:
(i) o fim do overhang (excesso de ações no mercado) com o noticiário das tarifas, já que mesmo antes de 8 de julho houve discussões sobre uma tarifa adicional de 10% para os membros do BRICS,
(ii) a companhia relatou uma carteira de pedidos recorde no início da semana passada de US$ 29,7 bilhões para o 2T25, mas ofuscada pelo noticiário sobre tarifas;
(iii) fluxo de notícias recentes sugere que a LATAM Airlines está analisando o jato E2; e,
(iv) os lucros do 2T25 a serem divulgados na próxima semana (5 de agosto) devem ser fortes, refletindo entregas sólidas.

Já o Itaú BBA reiterou sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para EMBRAER, com preço-alvo de US$ 62 para os ativos (ADR) ERJ, e adicionou novamente a ação da companhia como sua preferida no setor, uma vez que “o evento binário relacionado às tarifas de importação adicionais impostas pelo governo dos EUA já passou”.

Para o banco, ainda há um potencial de valorização atrativo, também destacando que:
(i) o ativo ERJ ainda está 10% abaixo do preço em que era negociada antes do surgimento dessa discussão (3 de julho);
(ii) reporte de uma carteira de pedidos (backlog) recorde de US$ 29,7 bilhões na semana passada, que foi ignorada pelos investidores devido às expectativas tarifárias e implicaria uma valorização de 23% em relação aos níveis atuais para igualar a relação de múltiplo entre valor da firma (EV)/backlog anterior;
(iii) um 2T25 positivo é esperado na próxima terça-feira; e,
(iv) vôo experimental da EVE, previsto para o final de setembro, pode ajudar a diminuir sua diferença de avaliação em relação aos pares (a EMBRAER detém 83% da EVE).

O Bradesco BBI também ressaltou que a notícia foi muito positiva e seguiu com recomendação outperform para o ADR-ERJ, com preço-alvo de US$ 68.

Os analistas observam que, embora aeronaves militares não sejam isentas, a EMBRAER não possui o transportador militar C-390 ou os “caçadores” Super Tucanos em carteira para o EUA.

A visão era de que as tarifas de 50% impactariam o EBIT (Lucro antes de juros e imposto de renda) da EMBRAER em 35% em 2025 ou cerca de 60% em 12 meses.

E, desde o dia anterior ao anúncio das tarifas de 50% até o fechamento de terça, o ADR-ERJ havia caído 17%, precificando apenas uma parte do impacto total das tarifas de 50%.

“Acreditamos que, agora que as aeronaves da EMBRAER estarão sujeitas apenas a tarifas de 10%, a tese está novamente significativamente reduzida. Até o momento, a EMBRAER apresentou alta de 11%, deixando um potencial de alta de 9% em relação à avaliação pré-tarifa de 50%. Vale lembrar que estimamos que as tarifas de 10%, que estavam ativas desde abril, poderiam impactar o EBIT da EMBRAER em 2025 em cerca de 7%, ou 13% em 12 meses, principalmente devido aos jatos executivos, cujo impacto será direto sobre a EMBRAER”, avalia o Bradesco BBI.

A EMBRAER poderia, por sua vez, aumentar os preços das novas aeronaves, o que beneficiaria entregas futuras que atualmente não estão em carteira.

No caso do segmento de aviação comercial, os clientes são responsáveis pelo pagamento das tarifas, e a EMBRAER pode fornecer documentação referente ao conteúdo brasileiro, mitigando o valor pago. “Estimamos que cerca de 50% do conteúdo do E175 esteja sujeito a tarifas. O Bradesco BBI ressaltou que, no 2T25, a EMBRAER entregou 9 jatos E175 para clientes no EUA e, como as tarifas de 10% começaram em abril, os clientes receberam as aeronaves e pagaram as tarifas. Segundo o banco, isso reduz o risco de grandes revisões nos cronogramas de entrega ou cancelamentos de pedidos”, aponta.

O BBI espera que a EMBRAER aborde o tema das tarifas na teleconferência de resultados do 2T25, que será realizada na próxima terça-feira (5 de agosto).

Também para o BTG Pactual, com a remoção do risco tarifário, o foco dos investidores deve agora se voltar para os resultados do segundo trimestre da EMBRAER e os avanços em suas campanhas comerciais em andamento. “Esperamos um segundo trimestre sólido, sustentado pelas entregas recentes, pelo volume da carteira de pedidos e por uma melhora no mix de produtos. Na ausência de novas escaladas tarifárias, seguimos vendo a EMBRAER como uma tese atrativa de investimento, apoiada por um momento operacional positivo no curto prazo, modelo de negócios mais resiliente e diversificado, e perfil de geração de fluxo de caixa em recuperação gradual”, aponta o banco.