Airbus divulga sua linha de trabalho de conceitos de design de aviões do transporte comercial alimentados por fonte de energia de hidrogênio, que poderão entrar em serviço em 2035, em 21.09.20


A Airbus divulgou que está trabalhando em conceitos para possíveis aviões alimentados por fonte de energia de hidrogênio que, segundo a fabricante, poderão estar prontos para entrar em serviço em 2035. Anunciando planos para o que a fabricante aeronáutica francesa classifica como a futura primeira aeronave comercial de “emissão zero” do mundo, a Airbus revelou, nesta segunda dia 21, três designs de aviões sendo desenvolvidos sob um projeto denominado “ZeroE” (alusivamente à emissão zero).

De acordo com a diretora de tecnologia Grazia Vittadini, a Airbus tomará uma decisão final sobre a plataforma de tecnologia de hidrogênio em 2024 e preparará um demonstrador tecnológico para o primeiro vôo durante 2025. Sua equipe de engenharia espera em 2021 ter um demonstrador de hidrogênio pronto para auxiliar em resolver riscos de tecnologia complexos em torno do ecossistema para energia de hidrogênio, como o volume do combustível e características criogênicas (baixa temperatura).

O mais novo de três projetos mostra uma fuselagem de asa mista que a Airbus indicou que seria capaz de transportar até 200 passageiros em vôos de cerca de 2.000 MN. A fuselagem excepcionalmente larga, na qual a asa se funde com a seção principal da aeronave, forneceria espaço para cabine de passageiros, bem como para armazenamento e distribuição de células hidrogênio. O projeto se baseia no modelo Maveric no qual a Airbus vem trabalhando em modo furtivo desde junho de 2019.

A Airbus também apresentou um modelo de “corpo” (fuselagem) estreito mais convencional, que transportaria entre 120 e 200 passageiros em trechos de viagem de cerca de 2.000 MN. O sistema de propulsão seria baseado em um par de motores à turbina a gás modificados alimentados por hidrogênio líquido que seria armazenado e distribuído por meio de tanques localizados atrás da antepara traseira da cabine pressurizada. O projeto apresenta superfícies externas das asas inclinadas para trás.

O terceiro projeto é de um turboélice bimotor com capacidade de 100 assentos. O avião também teria motores à turbina a gás modificados alimentados por hidrogênio, com capacidade para voar uma distância de até 1.000 MN.

Jean-Brice Dumont, vice-presidente executivo de engenharia da Airbus, disse, numa coletiva de imprensa nesta segunda (21), que a configuração final do primeiro avião a hidrogênio a entrar em serviço ainda está para ser determinada. “São aeronaves-conceito. Não são demonstradores e não é um programa, porque ainda não podemos dizer qual é o mercado para essas aeronaves”, explicou, indicando que a Airbus terá como objetivo o trabalho de desenvolvimento antecipado agregando os aspectos mais adequados das tecnologias em avaliação e determinando como estes atendem aos principais parâmetros, principalmente segurança.

Embora possa fornecer a mesma energia do querosene, o hidrogênio (como fonte de energia para um motor) é cerca de um terço do peso do combustível fóssil. “O problema é que seu volume é quatro vezes maior do que o querosene”, explicou Vittadini. “Portanto, o design e a integração do tanque de combustível são itens de fundamental importância, e isso pode significar fuselagens mais longas e mais largas que têm impacto na aerodinâmica”, completou Vittadini.

O anúncio da Airbus confirma que agora a fabricante vê a propulsão baseada em hidrogênio como o principal viabilizador para o transporte aéreo de emissão zero. No final de abril, a Airbus anunciou o cancelamento de seu projeto E-Fan X, com a Rolls-Royce, para desenvolver um avião comercial híbrido-elétrico regional. Apenas alguns meses antes, os parceiros haviam dito que um demonstrador de tecnologia baseado em um avião Avro RJ100 iniciaria vôos de teste durante 2021. O programa havia recebido £ 58 milhões (US$ 75 mi) em financiamento do governo do Reino Unido por meio das entidades Aerospace Technology Institute e Clean Sky 2.

Nos últimos dois ou três anos, a Airbus testou um par de demonstradores de tecnologia totalmente elétrica para pequenas aeronaves eVTOL. Em 2019, concluiu o teste do modelo monoposto Vahana, e deve terminar a avaliação do vôo de um projeto CityAirbus, de quatro lugares, até o final de 2020. A Airbus ainda não confirmou se irá ou não prosseguir com o desenvolvimento de uma aeronave eVTOL para o chamado setor de mobilidade aérea urbana.

Glenn Llewellyn, vice-presidente da Airbus para aeronaves de emissão zero, disse que as baterias elétricas “têm um lugar” para aeronaves menores, como aquelas destinadas à mobilidade de curto alcance em áreas urbanas, mas que não podem suportar aeronaves comerciais maiores.

Dumont (vp-executivo de engenharia da Airbus) mencionou que a propulsão baseada em hidrogênio pode realmente encontrar seu caminho para um helicóptero Airbus antes que os aviões maiores estejam prontos para entrar em serviço.

Vittadini afirmou que a Airbus não desperdiçará o investimento em pesquisa e desenvolvimento nos projetos experimentais. “Todo o nosso aprendizado sobre eletrificação fluirá perfeitamente em qualquer um desses novos conceitos”, disse ela, acrescentando que a Airbus tem examinado novas ideias, como arquitetura modificada de turbina a gás, novos princípios de injeção de combustível, câmaras de combustão e motores elétricos incorporados.

Llewellyn disse que a propulsão de hidrogênio fornecerá significativamente mais energia por quilograma (kg) de peso do que as baterias elétricas. “Isso é o que [a aviação] precisa para cumprir as metas do Acordo de Paris [redução de carbono] e, à medida que a escala [do uso do hidrogênio] aumentar, os custos diminuirão”, afirmou.

A Airbus já começou a trabalhar com várias cias. aéreas não divulgadas, empresas de energia, operadoras aeroportuárias para tratar das necessidades de infraestrutura complexa para dar suporte ao uso da propulsão baseada em hidrogênio na aviação. “O ecossistema [para o transporte] inteiro terá de mudar”, disse Llewellyn.

O anúncio do ZeroE da Airbus veio apenas quatro dias depois que o grupo aeroespacial concorrente direto americano Boeing confirmou que está fechando sua divisão de inovação, a Boeing NeXt, há pouco mais de dois anos desde seu lançamento, em julho de 2018.

Vittadini disse que a Airbus está disposta a investir “bilhões” em tecnologia de hidrogênio e que seus esforços vão diminuir as barreiras de entrada para o uso do combustível. Questionada por repórteres por que a Airbus está aumentando os investimentos em um momento em que sofre reduções históricas de receita e lucratividade, Vittadini insistiu que o esforço é fundamental para garantir a sustentabilidade de longo prazo da indústria de transporte aéreo. “Por que estamos fazendo isso agora em uma crise?”, ela perguntou retoricamente: “Não temos escolha”. [EL] – c/ fontes