FAA lança programa do governo americano visando a produção de AvGas sem adição de chumbo, em 28.02.22
O administrador da FAA, Steve Dickson, revelou uma nova iniciativa de política industrial do governo americano designada Eagle nesta quarta dia 23, em reunião anual com mídia da GAMA – General Aviation Manufacturers Association (Associação de Fabricantes da Aviação Geral). A designação Eagle presta-se para significado da “eliminação de emissões de chumbo da gasolina de aviação”, com “a intenção do programa de eliminar com segurança o combustível de aviação com chumbo até o final de 2030 sem afetar a operação segura e eficiente da frota de motores a pistão”, divulgou Dickson.
Dickson admitiu: “Este não é um problema novo, é algo com o qual a indústria está lutando há vários anos”.
Em artigo postado nesta quinta (24) pela AIN, o especialista de mídia da aviação Matt Thurber, escreveu que os esforços para eliminar o chumbo da AvGas estão em andamento há muitos anos. Em 2011, a FAA criou um comitê de regulamentação da transição para a aviação com AvGas sem chumbo (descarbonizada) e em 2014 lançou ao programa de indústria PAFI – Piston Aviation Fuel Initiative (Iniciativa de Combustível de Aviação para Pistão), com as duas ações não tendo gerado resultados significativos.
O novo programa – Eagle – se baseará no trabalho do PAFI, explicou Dickson. “Vamos acelerar nossas ações, investimentos e políticas para realizar e fazer a transição para uma frota de motores a pistão sem chumbo. Agora, para muitos, você pode estar pensando em Yogi Berra: deja vu, tudo de novo. Estou aqui para dizer que estamos em um ponto único. Temos os recursos, a energia e a vontade de fazer isso, e vamos fazê-lo”.
No EUA, a AvGas com chumbo (100LL, de Low Lead, ou baixo-chumbo, com designação por conter menos teor de chumbo tetraetila do que a AvGas de 100 octanas diretamente, não mais produzida) responde por mais de 350 toneladas de emissão de carbono na atmosfera a cada ano, disse Dickson. A agência de meio ambiente EPA (Environmental Protection Agency) anunciou que poderia editar um alerta de identificação de perigo para AvGas 100LL neste ano e emitir um alerta em caráter final em 2023.
A determinação de que as emissões do combustível com chumbo contribuem para a poluição do ar que põe em perigo o bem-estar e a saúde pública estabelece as bases para uma proibição total para uso do combustível com chumbo.
Dois aeroportos próximos a San Jose, na Califórnia – o Reid-Hillview e o San Martin – proibiram a venda de AvGas 100LL devido a preocupações ambientais com a poluição da atmosfera por chumbo.
O primeiro passo do programa Eagle é um simpósio de parcerias a ser realizado em março, no qual os agentes-participantes definirão um plano de trabalho detalhado. Os participantes do Eagle incluem muitos grupos representativos de aviação e até mesmo não-aviação, como a AOPA, a NBAA, a EAA, a GAMA, a HAI, a NATA e a Associação Americana de Executivos de Aeroportos, o Instituto Americano de Petróleo, entre outros.
Embora tenha delineado um plano de ação que inclui quatro “pilares” de trabalho a serem concluídos nos próximos oito anos, Dickson não reconheceu os combustíveis de aviação sem chumbo existentes que já foram aprovados pela FAA. Estes incluem o UL94, da Swift Fuels, que atende às necessidades de muitas aeronaves movidas por motores de baixa compressão (que operam satisfatoriamente com combustível de 80 octanas) e o G100UL, da GAMI, que foi testado e atende aos requisitos mais rigorosos de motores aeronáuticos de alta compressão, garantidos por gasolina de 100 octanas.
O G100UL foi desenvolvido pela General Aviation Modifications Inc. (GAMI) – Modificações da AViação Geral -, de Ada, no Estado de Oklahoma, e recebeu sua primeira aprovação para motores Lycoming (que equipam, entre outros modelos, o Cessna 172) da FAA em julho de 2021. Os testes já foram feitos e estão em andamento para fins de certificação para motores de alta compressão que exigem combustível de 100 octanas. A GAMI espera receber essas aprovações, na forma de Certificados de Tipo Suplementar de lista de modelos aprovados (AML-STC), ainda neste ano.
Trabalhando no G100UL há mais de 12 anos, a GAMI divulga que o novo combustível não apenas atende aos requisitos de octanagem de qualquer motor aeronáutico a pistão mas também é totalmente fungível – isso significando que pode ser misturado com gasolina 100LL, armazenado e transportado em tanques de combustível, caminhões e dutos existentes, e não requer modificações nas aeronaves ou na infraestrutura de transporte.
O programa Eagle se subordinará numa ação baseada em quatro “pilares”, que incluem [1] infraestrutura e implementação de negócios, [2] pesquisa e desenvolvimento, [3] teste e qualificação de combustível sem chumbo e [4] regulamentação e política.
Os agentes-parceiros da indústria serão responsáveis pelos dois primeiros “pilares” do plano de trabalho do Eagle, desenvolvendo uma infraestrutura de negócios e cadeia de suprimentos para o transporte de AvGas sem chumbo, continuando o trabalho em aeronaves elétricas e híbridas-elétricas bem como modificações e retrofit de motores a pistão que possam ser necessárias para alguns novo tipo não identificado de combustível sem chumbo.
A FAA será responsável pelo “pilar” [3] – teste e qualificação de combustível sem chumbo.
Dickson observou: “Através do programa PAFI, continuaremos nosso trabalho para avaliar e testar combustíveis sem chumbo de alta octanagem e trabalhar para autorizar combustíveis de baixa octanagem no curto prazo”.
Finalmente, a FAA também tratará do “pilar” [4] – de regulamentação e política -, em outro não-reconhecimento factual de que já existe um combustível fungível e sem necessidade de modificação, aponta Turber no seu artigo.
“O quarto pilar, envolve a atividade de regulamentos e políticas. Seguiremos as regras da EPA de emissões de chumbo com o suporte do programa necessário para modificações de motores a pistão, novos motores a pistão que não exijam combustível de aviação com chumbo e componentes de combustível para combustível de aviação”, disse Dickson.
A expectativa é que estes quatro “pilares” levem mais oito anos para serem cumpridos, com o ano de 2030 como meta para a implementação completa de AvGas sem chumbo.
Thurber reproduz manifestação de posicionamento de alguns agente frente ao anúncio por Dickson do programa Eagle.
“Estamos trabalhando em uma solução para o AvGas e tirando o chumbo da AvGas há mais de uma década”, disse Pete Bunce, presidente e CEO da GAMA, para emendar: “a solução tem sido ilusória. Não é um problema fácil de resolver. Temos algumas tecnologias promissoras por aí, mas também temos um relógio de ponto. E nós, como indústria, temos que trabalhar com nossos parceiros para poder traçar nosso próprio destino antes que ele nos seja imposto”.
O presidente e cofundador da GAMI, Tim Roehl, está tendo dificuldade de entender a razão da indústria da aviação e da FAA estarem apresentando que precisam de mais oito anos para resolver o problema de gasolina de aviação com chumbo. “Isso não é estranho?”, perguntou. “[Dickson] não mencionou que temos uma solução em mãos”.
“Somos uma pequena empresa, mas continuaremos nossos esforços de certificação. Contamos com o apoio de vários elementos da indústria. E acreditamos firmemente que temos o melhor combustível disponível que pode ser concebido e implementado a preços equivalentes. Manteremos a cabeça baixa, terminaremos nossa certificação e iniciaremos a implantação de nosso combustível”, afirmou Roehl.
Em outubro passado, a GAMI recebeu STC cobrindo mais de 600 modelos de motor a pistão, primariamente de motorização de baixa compressão e motores aspirados (não turbocomprimidos) que não requerem gasolina de 100 octanas. “Estamos prevendo a extensão adicional de fuselagem correspondente para esses motores do STC”, disse Roehl.
Para motores de alta compressão e turboalimentados (a pistão dotados de turbocompressor), o combustível G100UL (da GAMI) já demonstrou em testes que atende aos requisitos de detonação (combustão instantânea/explosiva) pertinentes a esses motores. “E a FAA aprovou esses testes”, Roehl ressalta. Até meados deste ano, a GAMI espera expandir o STC de motor e fuselagem (modelos de aeronaves) para cobrir esses motores.
A Avfuel já fez parceria com a GAMI para distribuir o G100UL. Esse acordo, explicou Roehl, inclui que a Avfuel disponibilizará o combustível a todos os outros distribuidores de forma equitativa.
O processo de mistura da formulação da GAMI com gasolina para obter o G100UL pode ser feito em uma refinaria ou em outros locais. “Como é sem chumbo, temos mais flexibilidade”, disse Roehl. “Discutimos a produção com produtores e eles não estão preocupados em [fabricar o G100UL]. Teremos seguro de responsabilidade do produto assim como [a indústria tem] para 100LL”, explicou Roehl.
A GAMI tem uma “lista significativa de FBO [base de serviços de logística em aeroportos] querendo ser os primeiros” a fornecer G100UL, incluindo alguns na Califórnia, de acordo com Roehl. “Aprovamos modelos [de aeronaves] dentro do escopo atual e podemos vendê-lo [G100UL] hoje. Estamos buscando uma maior expansão [de STC] e procurando produzir volumes significativos deste [combustível] ainda neste ano”. Roehl espera que a primeira venda de varejo do G100UL ocorra neste ano.
Os combustíveis de aviação são, convencionalmente, os obtidos da destilação do petróleo (sendo combustíveis fósseis, ou minerais). A gasolina (AvGas) se presta a motores a pistão, o querosene (QAv) para motores à turbina.
Propriedades mais importantes da AvGas (sendo uma mistura de hidrocarbonetos, entre outros o isoctano, líquido inflamável formado por carbono e hidrogênio, muito resistente à detonação, e o heptano, pouco detonável que impossibilita o funcionamento do motor) são o poder calorífico (quantidade calor liberada na queima da gasolina), volatilidade (capacidade de queima e geração calor/energia para partida em baixa temperatura) e poder antidetonante (resistência à detonação – fenômeno de combustão instantânea, e explosiva, que resulta danos e perda de eficiência de motor).
Na AvGas, o Índice de Octano (IO), ou índice octânico ou octanagem, é um número atribuído para cada variação de combustível para indicar o seu poder antidetonante – um baixo poder antidetonante causa detonação do motor. Um Índice de Octano (IO), ou octanagem, para a mistura de isoctano e heptano, de “100” significa para a mistura taxa de 100% de isoctano e 0% heptano. Para aumento do IO (um maior poder antidetonante), a gasolina recebe aditivo chumbo-tetratila (ou tetratil chumbo) – obtendo-se um IO maior e melhor do que o próprio isoctano, superior a 100. Uma baixa octanagem produz detonação e seuas consequências, uma alta octanagem, no uso prolongado, pode resultar formação excessiva e acumula de chumbo em velas (e consequentemente falhas de ignição) além de desencadear processos corrosivos.
Tirar o chumbo da AvGas não é apenas benéfico para o meio ambiente e para as pessoas que vivem perto de aeroportos, mas também para os motores. Depósitos de chumbo causam danos significativos aos motores, incluindo velas de ignição sujas e problemas significativos no interior de cilindros. Os testes da GAMI mostraram que a AvGas sem chumbo elimina esses depósitos e pode até levar a uma vida útil mais longa e a uma maior segurança de motor a pistão. “Os benefícios de um combustível sem chumbo são significativos”, disse Roehl. [EL] – c/ fontes