Transição para registros de aeronaves digitalizados acontecendo lentamente, em 10.10.21


Em artigo no AIN, Jerry Siebenmark descreve cena do momento em que, apesar da muita atenção destinada na indústria da aviação executiva para o advento da digitalização de registros de manutenção de aeronaves, inclusive levando ao surgimento de empresas especializadas nesta atividade, muitos operadores do transporte aéreo regido pelos regulamentos PART-91 e PART-135 ainda seguem mantendo seus registros em papel, incluindo Diários de Bordo.

No seu artigo, Siebenmark aponta que muitos proprietários/operadores de aeronaves, incluindo departamentos de vôos, sofreram perdas financeiras e operacionais devido a práticas inadequadas de registros aeronáuticos, de acordo com a Foundation for Business Aircraft Records Excellence (Fundação pela Excelência no Registros de Aeronaves Executivas). Na maioria dos casos, essas situações eram evitáveis, acrescenta a entidade.

“É hora de tomarmos o mesmo cuidado com os registros da aeronave como tomamos com a aeronave em si”, disse o diretor executivo da fundação, Larry Hinebaugh. “Até que mudemos a forma como as coisas são feitas na indústria da aviação, o estado dos registros das aeronaves não deve melhorar. A inércia está do lado do status quo”, disse Hinebaugh, no seu diagnóstico quanto ao padrão da ordem prática.

A conscientização em educação e tecnologia, argumentou Hinebaugh, vai melhorar o estado da dos registros de aeronaves, começando com a “introdução de programas de treinamento e instrução em aviação em universidades, faculdades e escolas técnicas”.

O Diário de Bordo de uma aeronave é um registro que proprietário/operador não deseja que seja incompleto ou perdido porque pode afetar “severamente” o valor de uma aeronave, pontua Jared Hasty, diretor de vendas e escrituras principais da corretora de aeronaves Ogarajets, com sede em Atlanta, na Georgia (EUA).

“Poderíamos dar exemplos extremos em que você está falando que 10, 20, 30, 50% do valor do seu avião está vinculado aos Diários de bordo e cadernetas”, disse Hasty durante um recente webinar de ATP. “Acho que se as pessoas fossem lembradas disso com mais frequência, provavelmente cuidariam melhor deles [registros de aeronaves], armazenando-os melhor, mantendo-os mais organizados”, falou Hasty.

Quando chega a hora de vender um jato executivo, seu Diário de bordo e os registros associados devem estar completos, caso contrário, a transação pode estar em perigo, aborda Philip Rushton, presidente da consultoria internacional de vendas de jatos Aviatrade, com sede em Mendham, em Nova Jersey (EUA): “Você quer ter certeza de que tudo está atualizado e rastreável”.  Durante a fase de pré-compra e diligência-auditoria conjunto da aquisição de um jato executivo, uma inspeção de seus registros “se torna um exercício forense … [esse] é o melhor termo para isso”, disse Rushton: “Você não está procurando o que está lá. Você está procurando o que não está lá”.

Os fundadores da Bluetail, uma provedora de plataforma de digitalização de registros de aeronaves executivas lançada há quase dois anos, sediada em Phoenix, no Arizona (EUA), dizem que a ‘apatia’ (passividade) em relação à manutenção dos de aeronaves é provavelmente uma dos maiores missões e batalhas da empresa. Ainda assim, a empresa agora apóia aeronaves executivas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão e arrecadou mais de US$ 2,1 milhões em uma rodada de investimentos de Série A que terminou neste verão.

“Acho que talvez seja não estar ciente de que seus registros, ao contrário do seu avião, não são segurados”, disse Stuart Illian, que junto com o CEO Roberto Guerrieri fundou a Bluetail. “As pessoas que mantêm seus registros em uma estante … são provavelmente nosso maior desafio em educar o mercado sobre por que você realmente precisa disso”, completou Illian.

Geralmente, a Bluetail recomenda que os clientes digitalizem os Diários de bordo da aeronave, Certificados de Tipo Suplementar, Diretrizes de Aeronavegabilidade e Boletins de Serviço, bem como documentos de entrega, de manutenção (como cadernetas, Fichas e etc), de alfândega, de ordem jurídica e financeira e “qualquer coisa para a segurança, conformidade ou operação dessa aeronave, disse Illian. Ele sugeriu até mesmo digitalizar registros e fichas de Peso e Balanceamento e “antigos 8130” – Certificado de Liberação Autorizada FAA/Etiqueta de Aprovação de Aeronavegabilidade.“Digitalizar não custa muito e o armazenamento [digital] é muito barato”, disse Illian. “E com as ferramentas que estamos desenvolvendo em torno da pesquisa e da organização automática, por que você não teria tudo em um só lugar? Porque você nunca sabe quando vai precisar daquela informação de 12 anos atrás. E em vez de procurar pastas ou arquivos, por que não deixar tudo lá, especialmente se for fácil de encontrar?”, destaca Illian.

No Bluetail, o processo de digitalização de registros começa com uma assinatura. Os planos começam em US$ 69 por mês por aeronave para proprietário/operador e US$ 99 por mês por aeronave para departamentos de vôo.

O Bluetail avalia quantos registros existem para digitalizar – uma caixa-box, por exemplo, pode incluir entre 1.700 e 2.500 “imagens” – e então permite que os clientes decidam como enviar os registros para um dos 120 centros de digitalização dos EUA com os quais a Bluetail tem contratos. Todos esses centros são compatíveis com padrão SOC 2, o critério para gerenciar dados de clientes com base na segurança, disponibilidade, integridade de processamento, confidencialidade e privacidade.

A empresa pode fornecer um correio alfandegado para o transporte dos registros ou o cliente pode levá-los diretamente ao centro de digitalização mais próximo. “Tentamos escolher locais próximos às grandes cidades ou pontos críticos da aviação executiva”, disse Illian. Ele estima que 80% dos clientes da Bluetail escolhem a opção do correio. O restante pede que seus registros sejam digitalizados em sua empresa por uma “equipe móvel” composta por técnicos de célula e motores da Bluetail. “Algumas pessoas, sob nenhuma circunstância, deixarão esses registros saírem do hangar”, explicou Illian. “Obviamente, isso vai custar um pouco mais [fazer a digitalização lá para o cliente]”, salientou.

Normalmente, a Bluetail leva cerca de quatro semanas para digitalizar algumas caixas-box, disse Illian, acrescentando que, embora forneça aos clientes uma estimativa de quanto tempo levará para digitalizar e processar os registros de suas aeronaves, a Bluetail tenta consistentemente bater (não chegar) essa estimativa.

Guerrieri observou que, como em outros setores, a mudança para a manutenção de registros digitais na aviação executiva levará tempo. “Embora eu não seja da área de aviação, mas já percorri um longo caminho em dois anos, estive com várias empresas no mundo [software como serviço] e, na verdade, fiz parte de algumas grandes transformações digitais”, disse Guerrieri. “Vejo as transformações digitais acontecendo no âmbito de registros da aeronave e um ponto de inflexão está chegando”, acrescentou ele. “Não sei onde ou quando, mas estamos começando a ver uma onda de interesse. A transformação está acontecendo … então é isso que nos encoraja todos os dias”, completou. [EL] – c/ fontes