Dados da IATA apontam turboélices como o elo mais fraco no desempenho de segurança do transporte comercial (“linha aérea”) em 2022, em 11.03.23
Dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA – International Air Transport Association), revelados em relatório anual nesta terça dia 07, mostram que a indústria do transporte aéreo comercial teve um desempenho de segurança misto em 2022, em meio a um processo de recuperação de tráfego após a pandemia Covid-19.
Reporte de Segurança Operacional IATA – ano 2022 – Edição 59:
https://www.iata.org/en/publications/safety-report/
https://www.iata.org/contentassets/a8e49941e8824a058fee3f5ae0c005d9/safety-report-executive-and-safety-overview.pdf
A indústria sofreu 39 acidentes, um aumento de 29 em 2021, em um cenário de atividade com aumento de 25% do número de vôos em relação ao ano anterior, para pouco mais de 32 milhões.
77% dos acidentes de transporte aéreo comercial em 2022 envolveram operação de vôo de passageiros.
Os acidentes fatais (05) foram três (03) de causa desconhecida ou causa estranha, com 138 fatalidades, de um (01) pouso em pista, com 19 fatalidades, e mais um (01) de excursão de pista, com apenas uma fatalidade.
Os acidentes não-fatais, 34 eventos, foram assim classificados:
– por trem de pouso – 8 ocorrências (23,5%)
– excursão de pista – 6 ocorrências (17,7%)
– contato de cauda (tail strike) – 6 ocorrências (17,7%)
– danos no solo – 3 ocorrências (8,8%)
– danos em vôo – 3 ocorrências (8,8%)
– danos de pista – 2 ocorrências (5,9%)
– causa desconhecida ou causa estranha – 2 ocorrências (5,9%)
– pouso “duro” (hard landing) – 1 ocorrência (2,9%)
– pouso fora da pista – 1 ocorrência (2,9%)
– perda de controle em vôo (LoC-I) – 1 ocorrência (2,9%)
– pouso fora de aeroporto/amerissagem – 1 ocorrência (2,9%)
A taxa de todos os acidentes resultando danos substanciais e acidentes com perda de “casco”, para jatos e turboélices, medidos na relação ocorrências por um milhão de vôos, aumentou de 1,13 em 2021 para 1,21 em 2022, embora esse número caia para 0,49 acidentes por milhão de setores para membros associados da IATA e 0,70 para companhias aéreas que passaram na Auditoria de Segurança Operacional da IATA (IOSA – IATA Operational Safety Audit). Por outro lado, a taxa de todos os acidentes sobe para 2,82 por milhão de setores para companhias aéreas não certificadas pela IOSA (ante a taxa de 0,49 acidentes por milhão de setores para membros associados da IATA).
Atualmente, 409 operadores aéreos estão no Registro IOSA, incluindo 107 não-membros IATA.
A participação na IOSA, que a IATA introduziu há 20 anos, é um requisito para ser membro do órgão comercial global de companhias aéreas.
A taxa média de acidentes de 2018 a 2022 das companhias aéreas IOSA versus companhias aéreas não IOSA foi mais que o dobro: 0,88 contra 2,19.
A associação/inscrição na IATA e a acreditação IOSA versus condição de transportadora não-membro IATA e e não-certificada IOASA continuaram uma forte correlação com o desempenho de segurança aprimorado. A taxa de acidentes para transportadoras registradas na IOSA em 2022 foi menor do que a taxa para transportadoras não IOSA – de 0,70 x 2,82 (diferença de 4,03).
“Com as transportadoras com Registro IOSA tendo um registro de segurança agregado que é quatro vezes melhor do que as transportadoras não IOSA, isso claramente continua fazendo a diferença”, comentou o diretor-geral da IATA, Willie Walsh.
Dos 39 acidentes registrados em 2022, cinco (05), ou 12,8%, foram acidentes resultando mortes, em comparação com sete em 2021. Como resultado, a taxa de acidentes fatais melhorou de 0,27 por milhão de setores em 2021 para 0,16 em 2022, o que também superou a taxa de acidentes fatais de cinco anos de 0,20.
Apesar da redução no número de acidentes fatais (de 7 para 5), o número de vítimas fatais subiu de 121 para 158 (mais 37 mortes, ou 30,6%). A taxas foram de 17,29 mortes/acidente em 2021 e de 31,6 mortes/acidente em 2022, um aumento de 83%.
A maioria das fatalidades, 132 (84%), ocorreu no acidente com um B.737-800NG da China Eastern Yunnan Airlines, em 21 de março (de 2022). A China Eastern Yunnan Airlines é uma subsidiária da China Linhas Aéreas do Leste, e está no Registro IOSA.
Foram computados como acidente com fatalidade o atropelamento de um motocilclista e seu acompanhante, após invasão da pista, no pouso de um jato A320 da TAP em Conakry, na Guiné (África), a colisão de um A320 da LATAM na corrida de decolagem (autorizada) com um carro de bombeiro que ingressou na pista sem autorização em Lima, no Peru, matando dois brigadistas, e a ingestão de uma agente de rampa por um motor de um jato EMBRAER E175 da Envoy Air, na recepção do jato para o parqueamento e desembarque e re-embarque após chegada em Montgomery, no Alabama (EUA).
Operadoras em três regiões – América Latina/Caribe LATAM-CAR), África (AFI) e norte da Ásia (NASIA) – tiveram acidentes fatais em 2022, um dos quais envolvendo aviões a jato na NASIA (norte da Ásia) e 4 dos quais envolvendo turboélices.
A África também foi a região com maior índice de acidentes no ano passado, com 8,70 acidentes por milhão de setores (um aumento expressivo de 53,7% sobre a taxa de 5,66 por milhão de setores em 2021 e também acima da média de 5 anos de 5,68 acidentes por milhão de setores), seguida da América Latina e Caribe com 4,07 acidentes por milhão de setores (um aumento expressivo de 284% sobre a taxa de 1,06 acidentes por milhão de setores em 2021 e também bem acima da média de 5 anos de 2,24 acidentes por milhão de setores).
As operadoras norte-americanas e européias tiveram taxas de acidentes de 0,74 e 0,84 em 2022, respectivamente. Com apenas 0,56 acidentes por milhão de vôos, a Ásia-Pacífico foi classificada como a região com a menor taxa de acidentes no ano passado.
No comportamento oposto, a indústria testemunhou uma redução de 50% no número de acidentes envolvendo operadores da Comunidade de Estados Independentes (CIS), de 04 acidentes em 2021 para apenas dois em 2022, e nenhum com fatalidades. A região sofreu 3 acidentes fatais, dos quatro acidentes registrados, em 2021. A taxa de fatalidade melhorou com relação à marca anterior de 2,29 em 2021.
A taxa acidentes de jatos com “perda de casco” por milhão de setores em 2022 piorou para 0,17 contra 0,13 em 2021. As operadoras do Oriente Médio e Norte da África (MENA) não registraram acidente com perda de casco de jato desde 2015. A taxa de fatalidade em acidentes com jatos de operadores do norte da Ásia (NASIA) passou de zero em 2021 para 0,23 em 2023.
Os acidentes de turboélices representaram 36% do total de acidentes, embora os setores operados por turboélices representem apenas 10,6% do total. E quatro (04) dos cinco (05) acidentes fatais globais com perda de vida de passageiros e tripulantes, representando 80%, envolveram aeronaves turboélice, e responderam por 16% das fatalidades em 2022.
A taxa de acidentes de turboélice com perda de “casco” por milhão de setores em 2022 foi de 1,47 contra 1,77 em 2021.
Seis regiões apresentaram melhora ou nenhuma piora na taxa de acidentes de turboélices com perda de “casco” em 2022 quando comparada com a média de cinco anos. As únicas regiões que observaram aumentos em comparação com a média de cinco anos foram América Latina/Caribe e a África subsaariana.
Os operadores europeus (EUR) e do norte da Ásia (NASIA) registraram zero acidentes com perda de “casco” turboélice desde 2014 e 2015, respectivamente. Operadores da Comunidade de Estados Independentes (CIS), tiveram taxa de acidentes com turboélice com perda de “casco” por milhão de setores em 2022 de zero contra 42,53 em 2021.
A taxa de fatalidade em acidentes de turboélices para América Latina/Caribe (LATAM-CAR) LATAM/CAR aumentou de zero em 2021 para 0,17 em 2022. Os operadores da África (AFI) observaram uma melhora na taxa de fatalidade em acidentes com turboélice de 7,15 em 2021, para 5,74 em 2022.
“Tanto a África subsaariana quanto a América Latina registraram aumentos nos acidentes com turboélices no ano passado. A introdução e adesão aos padrões globais – incluindo IOSA – são fundamentais para reverter essa tendência”, disse Walsh. “A prioridade para a África continua a ser a implementação dos padrões relacionados à segurança e práticas recomendadas [SARPS] da Organização Internacional de Aviação Civil [ICAO/OACI]”, apontou Walsh.
Ao considerar o Gerenciamento de Ameaças e Erros, os fatores contribuintes mais comuns citados para os acidentes de 2022 foram:
1 – condições meteorológicas adversas foram um fator contribuinte em 31% dos acidentes (12 acidentes em 39). A condição meteorológica mais citada como fator contribuinte (18%) foi vento/Tesoura de vento/rajadas e trovoada.
2 – não-conformidade/não-aderência com os Procedimentos Operacionais Padrão (SOP) foi um fator contribuinte em 26% dos acidentes (10 de 39 acidentes).
3 – erros de pilotagem manual e controle de vôo, fator contribuinte em 21% dos acidentes (8 acidentes em 39).
4 – problema técnico de aeronave – mau funcionamento da aeronave – foi citado em 21% dos acidentes (8 acidentes em 39).
5 – comando de controle de aeronave abrupto e desvios de trajetórias vertical e lateral e de velocidade, foram fatores contribuintes em 15% dos acidentes (6 de 39 acidentes).
6 – falha no trem de pouso/pneu foi citada em 15% dos acidentes (6 de 39 acidentes).
7 – execução de aproximações desestabilizadas (não-estabilizadas) e pouso “longo” (long landing), foram um fator contribuinte em 13% dos acidentes (5 de 39 acidentes).
8 – desempenho geral da tripulação e a falta de monitoramento e verificação cruzada (cross checking) contribuíram para 13% dos acidentes (5 de 39 acidentes).
9 – Processo de “Tomada de decisão” em vôo foi um fator contribuinte em 11% dos acidentes (4 de 39 acidentes).
10 – falta ou inadequação de decisões gerenciais, incluindo decisões regulatórias, foi um fator contribuinte em 10% dos acidentes (4 de 39 acidentes). Deficiências na operação de manutenção também foram citadas em 10% dos acidentes. [EL]