Em seu seminário de segurança, FAA divulga que identificou recentemente uma “alta” de incidentes aeronáuticos no EUA, em 31.03.23
Citando o que chamou de um “aumento” nos recentes incidentes aeronáuticos, no EUA, o secretário federal de Transportes (DoT) do EUA Pete Buttigieg convocou os participantes da cúpula de segurança da FAA, que aconteceu no último dia 15 (de março), para investigar e abordar as “causas básicas” de uma série de eventos em referência de incursão de pista e de “quase-colisão” que ocorreram em vários aeroportos do EUA desde o início de 2023. E destacou: “Estamos particularmente preocupados porque vimos um aumento de sérias aproximações excessivas [perdas de separação]”.
Reunida em McLean, na Virgínia, com a presença de mais de duzentos profissionais representando diversas áreas da indústria aeroespacial, a cúpula da FAA abordou questões relacionadas à segurança da aviação, desde tripulantes (pilotos e comissários de bordo) estressados até tecnologia inadequada de controle de tráfego aéreo.
Um porta-voz da FAA declarou: “Pilotos e comissários de bordo expressaram preocupação de que continuam a sentir estresse no local de trabalho, incluindo longas jornadas de trabalho em condições adversas. Uma preocupação principal foi a experiência e desgaste da força de trabalho”.
A primeira do gênero desde 2009, a recente cúpula da FAA marcou o início de uma ampla revisão de segurança que a agência de aviação civil americana empreendeu após sete incidentes de quase perda de separação (aproximação excessiva) no EUA que ocorreram desde 1º de janeiro (deste ano).
A ocorrência mais recente ocorreu no dia 07 (março), no Aeroporto Nacional Reagan (KDCA), de Washington DC, envolvendo uma aeronave (EMB-175) da Republic Airways, no vôo 4736, cruzando sem autorização de controlador uma pista da qual uma aeronave (A319-00) da United Airlines, no vôo 2003, estava decolando. Quanto ao evento, a FAA declarou: “Um controlador de tráfego aéreo notou a situação e cancelou imediatamente a autorização de decolagem do vôo da United”.
A FAA divulgou que está buscando “maneiras de abordar áreas onde o sistema de segurança existente pode ser reforçado”. E que, atualmente, está se esforçando para identificar novas tecnologias pelas quais os controladores de tráfego aéreo possam ser alertados com mais ênfase e urgência sobre o desenvolvimento de conflitos de tráfego de aeronaves tanto no solo quanto no ar.
Um representante da agência comentou: “A FAA fez um apelo à indústria para ajudar a identificar tecnologias que possam aumentar as capacidades existentes de equipamentos de vigilância de superfície e implantar essa tecnologia em todos os aeroportos com serviços de controle de tráfego aéreo”.
No final de março, a FAA realizará um workshop durante o qual os participantes examinarão a mitigação dos riscos de tráfego aéreo nos duzentos aeroportos comerciais mais movimentados do EUA.
O administrador interino da FAA, Billy Nolen, afirmou: “Não há dúvida de que a aviação é incrivelmente segura, mas a vigilância nunca pode tirar dia de folga. Devemos nos fazer perguntas difíceis e às vezes desconfortáveis, mesmo quando estamos confiantes de que o sistema é sólido”.
Possuidor de pouco conhecimento e experiência em operações aéreas e em aeroportos, Buttigieg, secretário federal de Transportes (DoT), encarregou as partes interessadas da aviação de identificar “um diagnóstico muito concreto e etapas de ação específicas” para reduzir o número de quase colisões”. Mas ele apontou para um aspecto crucial: “Seria uma coisa se encontrássemos uma certa peça de tecnologia em um cockpit ou numa certa torre de controle onde houvesse muitos problemas; mas, em vez disso, o que estamos descobrindo é que pilotos, equipes de solo e controladores parecem estar experimentando esse aumento [de problemas]. Alguns o descreveram como uma espécie de enferrujamento”. E concluiu: “Não vamos esperar que algo ainda pior aconteça para agir agora”. Buttigieg sugeriu que os esforços que ele havia descrito retoricamente deveriam “garantir que possamos salvar vidas nos aeroportos de todo o país”.
Em seu discurso da abertura da cúpula da FAA (no dia 15), Buttigieg – além de apontar que a reunião era “sobre todo o sistema, o que significa que é sobre todos nós” – afirmou que a reunião seria a primeira de uma série de eventos coordenados, que a FAA oficializará com o objetivo de determinar quais práticas atuais de aeroporto e tráfego aéreo se mostraram eficazes e quais “novas medidas” precisam ser tomadas para garantir a segurança das operações de aeronaves comerciais e privadas.
Buttigieg disse que o espaço aéreo nacional, tráfego aéreo, e os sistemas aeroportuários do EUA funcionaram historicamente com o mínimo de incidentes e apenas recentemente foram afetados por erros e descuidos repetidos e flagrantes, sugerindo uma série de possibilidades preocupantes, entre as quais sendo as principais:
– escassez de conhecimento em todo o sistema, e,
– degradação da cultura do local de trabalho conducente a uma diminuição de profissionalismo e práticas de contratação baseadas em noções de identidade e equidade, em vez de qualidades e qualificações individuais.
A presidente do NTSB, Jennifer Homendy, informou aos participantes da cúpula que o Conselho de Segurança no Transporte identificou um problema comum com seis dos sete incidentes de incursão de pista sob investigação. Em cada caso, um ou ambos os gravadores de voz de cockpit (CVR) das aeronaves envolvidas foram substituídos – uma condição que impedia a investigação dos dados gravados pelos dispositivos. Homendy comentou: “Todas as agências federais aqui hoje precisam se perguntar: Estamos fazendo todo o possível para tornar nossos céus mais seguros? Temos nos feito essa mesma pergunta no NTSB”.
Pelo lado da indústria, de operador do transporte aéreo, o presidente e CEO da A4A – Airlines for America, Nick Calio, afirmou durante a programação da cúpula: “Não quero especular muito sobre o que aconteceu lá, porque estão todos sob investigação. E todos estamos tentando determinar o que está acontecendo. Isso é uma tendência? Isso é um padrão?”.
O presidente do NATCAU – National Air Traffic Controllers Association Union (Sindicato da Associação Nacional de Controladores de Tráfego Aéreo), Rich Santa, comentou: “Infelizmente, temos um problema de pessoal agora, como controladores de tráfego aéreo. Somos 1.200 controladores profissionais certificados a menos agora do que há dez anos. É hora de nós adequarmos e acurarmos pessoal nas instalações [aeroportuárias]”. [EL] – c/ fontes