Os planos da PAX Aeroportos (da XP Investimentos) para o “Campo de Marte”, em SP, e Jacarepaguá, no RJ, em 13.08.23


Fonte: InfoMoney – 10/08/2023
Logo ao chegar em uma das entradas do Aeroporto Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, um pequeno detalhe já demonstra que a estrutura de pouco mais de 989 mil m² está em compasso de espera. No letreiro acima da guarita de segurança, o primeiro “o” da palavra “aeroporto” está tombado há alguns meses, aguçando o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) de quem o observa.

“Nós brincamos que, quando assumirmos, vamos colocar uma faixa – Sob nova direção”, diz Rogério Prado, CEO da PAX Aeroportos, empresa que terá o direito de explorar aeroporto por 30 anos a partir do dia 15 de agosto.

Novos sistemas para gestão aeroportuária e pagamentos, limpeza, segurança e execução de obras são algumas das mudanças que o novo gestor do “Campo de Marte” (SBMT) pretende entregar ao assumir o aeroporto.

Na parte de infraestrutura do local, há ainda o compromisso com a ANAC de melhorar a sinalização da pista e, eventualmente, a construção de uma nova, a depender da demanda nos próximos anos.

Mas a grande aposta da PAX está nas oportunidades comerciais que o terminal oferece. Localizado em uma área próxima ao Sambódromo e do centro de convenções do Anhembi, existem ali oportunidades para a abertura de lojas, serviços e restaurantes – atualmente, um shopping já é uma das fontes de receita do “Campo de Marte”.

Em um primeiro momento, a prioridade será para comércios que atendam a população em torno do aeroporto, o que exclui nesta fase projetos voltados ao mercado de luxo – nicho do público-alvo que utiliza o local para vôos.

Para aumentar a estimativa da receita, uma das premissas da PAX ao assumir o “Campo de Marte”, Rogério Prado projeta um remanejamento gradual dos hangares mais próximos às avenidas Braz Leme e Olavo Fontoura para ali alocar os projetos comerciais. “É como se fosse um Lego, temos contratos a serem respeitados e vamos fazer isso com muito diálogo com todos”, afirma.

A maior parte dos contratos deve vencer entre 2025 e 2028.

A PAX não abre seus números, mas estima-se que 80% das receitas do aeroporto virão da parte comercial – o que inclui também o aluguel de hangares –, enquanto o faturamento com tarifas de pouso e decolagens serão os 20% restantes.

No estudo de viabilidade financeira da ANAC para o terminal, a projeção é que o “Campo de Marte” deverá ter uma receita total de R$ 35,7 milhões em 2023 e R$ 50 milhões no próximo ano, um crescimento de R$ 14,3 mi, de 40%.

No negócio principal, aeroportuário em si, a PAX vê potencial de atrair empresas que atuam em Congonhas para o seu terminal.

“Congonhas enfrenta um problema de falta de slots [vagas em horários para pouso e decolagens] e vemos que é possível trazer alguns operadores para cá”, aponta Prado. Mas ele reconhece que terá a concorrência de aeroportos próximos da cidade, como Campinas e Jundiaí (SBJD, a 25 MN a noroeste), por esses vôos. Mas o Aeroporto Executivo-internacional São Paulo Catarina, iniciativa da JHSF, na cidade de São Roque (SP) – região perto de Sorocaba (SBJH – a 30 MN a oeste) – para ele não é um concorrente direto.

Com CAPEX estimado em pouco mais de R$ 320 milhões em 30 anos, a previsão da ANAC é que o número de passageiros no Campo de Marte avance de 171,4 mil para 219 mil por ano – um aumento de 28%.

Outra aposta da PAX para os próximos anos está na ascensão dos eVTOL, conhecidos popularmente como “carros voadores”. Com gigantes do setor investindo bilhões de Dólares no produto, como EMBRAER, Boeing e Jetblue, Rogério Prado quer deixar toda a infraestrutura do “Campo de Marte” pronta até 2026 para receber os veículos. “Estamos em todas as necessidades: espaços, infraestrutura elétrica necessária, por exemplo. Nossa meta é ser o local do primeiro vôo no Brasil”, estima.

Prado, executivo com passagem de mais de uma década pela gestão de aeroportos da CCR (CCRO), chega com a missão de provar que um fundo de investimento é capaz de tornar atraente um ativo pelo qual nenhuma administradora tradicional de terminais se interessou.

No leilão da 7ª rodada de concessão de aeroportos, promovido há quase um ano pela ANAC, o fundo XP Infra IV levou em lance único o lote do “Campo de Marte” e do Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro – ambos voltados à aviação geral-executiva – por R$ 141,1 milhões e o compromisso de investir R$ 560 milhões nas próximas décadas. Para cuidar desses ativos, o XP Infra IV montou a PAX Aeroportos, empresa que eventualmente será desinvestida com o andar da tese – o fundo da XP trabalha com prazo médio de oito anos.

“Com toda a modéstia, estamos fazendo história com esse investimento. Construímos do zero toda uma lógica de gestão do ativo, não existe nenhum modelo parecido com o nosso. O mercado todo está olhando para o que pretendemos fazer aqui e podemos nos tornar referência para outros investimentos desse tipo”, afirma Prado. Um dos primeiros ganhos de eficiência da operação conjunta, aponta o executivo, foi a redução do quadro de funcionários em quase 40%. Otimização do número de pessoas e a unificação de funções de gestão dos dois aeroportos são alguns dos exemplos.

Poucos dias após assumir o “Campo de Marte”, em 1º de setembro, a PAX passará também a administrar o Aeroporto de Jacarepaguá (SBJR), no Rio de Janeiro, terminal que deverá faturar algo em torno de R$ 67,3 milhões neste ano, com estimativa de R$ 96,5 milhões para 2024 (crescimento de R$ 29,2 mi, de 43%), segundo a ANAC.

O aeroporto de Jacarepaguá é financeiramente mais relevante para a PAX. O local tem fluxo de jatos de celebridades por conta de sua proximidade com a TV Globo, mas também é um importante hub para empresas de petróleo embarcarem seus funcionários alocados nas plataformas localizadas na Bacia de Santos. Cerca de 30% dos vôos no local são de helicópteros que prestam serviço para empresas como Petrobras (PETR), Equinor e Total – mercado que disputa a base de operações offshore do setor de óleo/gás com o Aeroporto de Macaé (SBME), cerca de 100 MN a nordeste.

Com estimativa de receber mais de 300 mil passageiros neste ano, a expectativa para Jacarepaguá é que, até o fim da concessão, 440 mil pessoas passem por ano pelo aeroporto, um crescimento de 47%.

Sob este cenário, uma das primeiras medidas da PAX no Aeroporto Jacarepaguá será uma obra emergencial no terminal de passageiros para oferecer mais conforto. Na parte comercial, Rogério Prado vê potencial para alavancar a oferta de lojas dentro do terminal. “Como o fluxo de funcionários offshore [que ficam quase um mês em alto-mar] é grande, podemos oferecer alguns produtos e serviços, como barbeiros e farmácia”, aponta.

Por fim, na parte operacional, está prevista uma ampliação da pista do aeroporto, com o objetivo de receber aeronaves maiores. Em elevação de 10 pés, o Aeroporto de Jacarepaguá/Roberto Marinho tem pista de 30 x 900m., de asfalto.

Outra iniciativa é tentar viabilizar uma Ponte aérea Rio-São Paulo para vôos executivos interligando Jacarepaguá e Campo de Marte. O objetivo da PAX é fazer com que a Azul Conecta, uma subsidiária da Azul Linhas Aéreas, que já faz o trajeto entre Jacarepaguá e Congonhas (com operação de monomotor turboélice Cessna Caravan, de nove passageiros) também crie uma linha para o “Campo de Marte”.

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https://aib-el.com.br/os-aeroportos-concessionados-dos-estado-de-sp-e-do-rj-para-servir-a-aviacao-geral-executiva-em-10-08-23/