Brasil Biofuels adaptará nova biorefinaria em Manaus para também produzir SAF, em novo acordo com Vibra Energia (ex-BR Distribuidora), que contratou toda a produção por cinco anos prorrogável por mais cinco, para iniciar distribuição entre 2025 e 2026, em 16.04.22
A distribuidora de combustível Vibra Energia (ex-BR Distribuidora) e a Brasil Biofuels (BBF) anunciaram nesta quarta (13) que a biorefinaria da BBF a ser construída em Manaus vai produzir combustível sustentável de aviação (SAF) a partir principalmente de óleo de palma. A estimativa é a de que a planta em Manaus, a primeira do país a usar fontes renováveis para o produto, esteja em funcionamento em 2025 e custe R$ 2 bilhões para ficar pronta.
O SAF já tem tem produção no EUA e na Europa, e há projeção de forte crescimento de demanda por parte de cias. aéreas projetada para os próximos anos como resultado das estratégias empresariais para neutralizar emissões de carbono.
A BBF é produtora de óleo de palma e também operadora de 18 usinas termelétricas na região norte. A BBF já havia firmado uma parceria com a Vibra em novembro de 2021 para que a nova planta – biorefinaria – em Manaus fosse dedicada à produção de HVO (óleo vegetal hidrotratado), o chamado biodiesel “verde”.
Segundo Milton Steagall, presidente da BBF, após a Vibra ter sido procurada por cias. aéreas sobre a viabilidade de se produzir o SAF no Brasil, a produtora de óleo de palma decidiu investir em adaptações em seu projeto para conseguir, também, refinar o SAF além do HVO.
O investimento total na refinaria, antes projetado em R$ 1,8 bilhão, passou a R$ 2 bilhões a serem aportados pela BBF.
A Vibra Energia contratou toda a produção da futura refinaria em um contrato de cinco anos prorrogável por mais cinco e deverá fazer a distribuição e comercialização dos produtos. Líder no mercado brasileiro de combustíveis em geral, a companhia pretende começar a distribuir esses biocombustíveis entre 2025 e 2026.
“Consultamos as tecnologias disponíveis hoje no mundo [para a produção de SAF] e faremos um investimento para a implantação. Poderemos fazer SAF, biodiesel verde ou ambos. O processo será verticalizado, o combustível será produzido principalmente com o óleo de palma que já produzimos, o que diminui riscos”, afirma Steagall.
A Brasil Biofuels (BBF) possui plantações de palma no Pará e em Roraima. A refinaria será prioritariamente abastecida por óleo vindo de instalações da empresa em São João da Baliza, em Roraima, município distante 120 MN a sudeste de Boa Vista e 245 MN ao norte de Manaus.
No sul de Roraima, a terra custa até sete vezes menos do que em outros grandes polos de produção agropecuária do país. Existem áreas abertas, no meio do bioma Amazônia, há décadas que foram abandonadas por falta de recursos. A Brasil BioFuels (BBF) vai usar essas terras degradadas para cultivar palma e produzir óleo — que, posteriormente, se transformará de diesel verde (HVO) e combustível sustentável de aviação (SAF) na biorefinaria que está sendo construída na Zona Franca de Manaus.
A Brasil BioFuels optou por verticalizar a produção da palma em São João da Baliza (RR), município vizinho a São Luís (15 MN a oeste) e Roarainópolis (30 MN a oeste, na BR-174), e parcerias com agricultores familiares.
No sul de Roraima, a empresa plantará 20 mil hectares neste ano e pretende chegar a 120 mil até 2026. Com isso, a expectativa é capturar 600 mil toneladas de CO2 por ano.
O óleo de palma será transportado em caminhões movidos a biocombustíveis até a Zona Franca de Manaus, onde a indústria conta com isenções. A logística foi pensada para reduzir a emissão de CO2 em toda a cadeia e manter a competitividade.
A ligação terrestre de São João da Baliza (RR) e Manaus (AM) será pela rodovia BR-174, que une Boa Vista a Manaus.
A planta de biorefinaria da BBF ficará na Zona Franca de Manaus (ZFM) e terá capacidade de produção de 500 mil m³ (500.000.000 litros) de combustível ao ano. A proporção de SAF e biodiesel verde a ser produzida no local vai ser estabelecida pela Vibra de acordo com a demanda pelos produtos.
Tanto o biodiesel verde quanto o SAF da planta serão “drop-in”, isto é, podendo ser de uso imediato, sem necessidade de adaptações a motor – podendo ser misturados ao combustível de origem fóssil e substituir, parcial ou integralmente, o diesel tradicional e o querosene de aviação (QAv), sem necessidade de adaptações.
Segundo Wilson Ferreira Júnior, presidente da Vibra, a ideia da companhia é garantir que o SAF brasileiro seja competitivo com o combustível alternativo produzido internacionalmente, embora o preço inicial tenda a ser mais elevado que o querosene de aviação. Hoje, o preço do SAF chega a ser seis vezes o do querosene de aviação tradicional.
O desafio atual do SAF é, sobretudo, o ganho de escala. Hoje, o SAF só é produzido na Europa e no EUA e corresponde a 0,2% do combustível de aviação no mundo.
“Somos o tomador do volume inteiro da planta e a estratégia é escalável, depende principalmente da adoção [de SAF e biodiesel verde] por parte dos agentes econômicos em torno dessa escolha [sustentável]”, afirmou Ferreira Júnior. A planta da biorefinaria poderá aumentar a oferta se necessário.
O combustível da planta, disse Ferreira, “tem características de eficiência únicas” e será mais barato que o produzido na Europa. “O biocombustível na Europa é muito mais caro. Ali, a consciência que se tem é de que se precisamos descarbonizar o mundo, precisamos estimular oferta e, na medida em que se ganha escala, essas alternativas baixam de preço. No Brasil, nosso preço na largada vai ser menor que o estrangeiro”, disse Ferreira.
Ainda segundo o presidente da Vibra, a produção de SAF pela BBF se destinará principalmente ao mercado interno, mas a Vibra poderá, também, exportar o produto caso haja demanda.
A LATAM anunciou na última semana que se compromete a usar até 5% de SAF em seus aviões até 2030.
Por uma questão regulatória, as fabricantes de aeronaves e motores estão restritas a quantidade de SAF nos tanques de combustível dos aviões de última geração na proporção de até 50% na mistura com combustível fóssil, mas as grandes fabricantes já anunciaram a meta de certificar seus equipamentos para que possam operar, até 2030, com combustível até 100% SAF.
A aviação responde por 2% das emissões globais de CO2 — 915 milhões de toneladas em 43 bilhões. A fatia é pequena em relação a outras atividades, mas na corrida para frear as mudanças climáticas o setor também terá que reduzir sua pegada ambiental.
Foi de olho nessa demanda que a BBF elevou de R$ 1,8 bilhão para R$ 2 bilhões o aporte para a produção de biocombustíveis, na biorefinaria da ZFM. Além da produção de HVO, anunciada pela empresa em novembro, o recurso extra garantirá tecnologia para produzir o SAF, que emite até 90% menos poluentes do que o querosene de aviação.
“E os maiores consumidores de diesel se concentram na Amazônia”, diz Dionisios Vossos, head de Desenvolvimento de Negócios da BBF. Lá, o volume deve ser dividido igualmente entre a produção de HVO e de SAF, pelo menos no início.
A BBF cultiva as sementes em pequenos vasos, chamados de pré-viveiros. Elas contam com um controle rigoroso de umidade e outras necessidades para um bom desenvolvimento. Mesmo assim, cerca de 15% não apresentam o vigor desejado e são descartadas. Como as plantas ficam décadas na terra, não vale a pena ocupar espaço com mudas fracas. No viveiro, a BBF recorre à irrigação, mas submete as plantas à uma realidade térmica e de vento mais próxima do que vão encontrar em campo. Depois, as palmas são transferidas para a área de plantio definitivo. Leva cerca de quatro anos do plantio à colheita.
A opção pela palma se deve, principalmente, à maior produção de óleo. Estima-se que renda sete vezes mais do que a soja, por exemplo. “É uma quebra de paradigma em relação aos biocombustíveis do centro-sul. O ciclo da cana dura sete meses, enquanto a palma dá o ano inteiro”, afirma Steagall.
Como parte da área aberta no bioma amazônico data de 2008 em diante, a BBF estuda uma forma de não deixar buracos. Para isso, o plano é cultivar cacau e vender para indústrias de chocolates.
Perspectivas da demanda por combustível sustentável
A demanda por esses biocombustíveis ainda está sendo definida. Mas o Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional (CORSIA) já prevê reduções voluntárias de CO2 a partir de 2025 e obrigatórias depois de 2027.
Na apresentação do projeto pela BBF e da Vibra, estavam presentes executivos das cias. aéreas brasileiras Azul, Gol e LATAM, que se mostraram interessados.
“Não é só a questão de querer ser sustentável. Daqui a pouco, vai ter um mandato disso. Nós vamos ser obrigados. Se esse trabalho não começar agora, a coisa vai ficar complicada mais à frente”, comentou um desses executivos, que preferiu não ser identificado.
Segundo Marcelo Bragança, vice-presidente executivo de operações da Vibra, o combustível sustentável de aviação (SAF) já é uma realidade na Europa e na Califórnia (EUA).
“Aumentar o uso de SAF continua sendo um caminho fundamental para alcançar a ambição da indústria de emissões líquidas de carbono zero até 2050”, divulgou a Airbus, em nota recente, em meio ao curso das suas iniciativas em aviação sustentável, incluindo o advento do SAF.
Enquanto isso, o HVO avança em um ritmo mais acelerado do que o etanol e o biodiesel, segundo Bragança. “É mais estável, de fácil uso. Tecnicamente, pode ser usado em qualquer proporção. Já o biodiesel apresenta alguns problemas depois de certo nível de mistura”, disse Bragança.
O governo deve encaminhar ao Congresso, em breve, uma sugestão de “mandato” (compromisso e obrigatoriedade) em vez de um percentual de mistura, como acontece com o biodiesel. A ideia é que a redução de emissões varie de 1% e 10% de reduções. O texto está na Casa Civil e pode sofrer alterações antes de seguir para o Legislativo.
O presidente da Vibra, Wilson Ferreira Junior, está confiante de que o mercado brasileiro para esses produtos vai crescer significativamente nos próximos anos.
Questionado sobre o mercado de créditos de carbono, Ferreira disse apenas que são ganhos para o futuro, e que o foco agora é obter biocombustíveis baratos.
Se tudo der errado, na demanda doméstica, a Vibra divulga que será possível exportar o excedente, mas o risco é baixo. O volume de HVO e SAF fornecido pela BBF representará apenas 2% da demanda da Vibra. Se a produção anunciada pela companhia ficasse na região norte para substituir diesel e querosene de aviação, só atenderia 25% da demanda — o mercado global para o combustível de aviação chega a 360 bilhões de m³ de querosene (QAv) por ano.
Milton Steagall afirma, por outro lado, que há capacidade para dobrar a produção, de 500 mil para 1 bilhão de m³, em um ano e meio, se a Vibra quiser. Porém, a BBF divulga que só vai expandir a produção quando fechar novos acordos. Contratos de venda ajudam a conseguir crédito — não à toa representantes do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) foram convidados a conhecer os planos para o empreendimento.
Vibra aposta em combustíveis verdes da BBF como alternativas para descarbonização
No extremo Norte do Brasil, Roraima é o único Estado do país não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN), e seus cerca de 650 mil habitantes dependem quase que inteiramente de uma energia elétrica cara, instável e poluente, produzida a partir de geradores a diesel e óleo combustível. É na região Amazônica que está sendo viabilizada uma das soluções para a transição energética, com o plantio da palma em áreas degradadas possibilitando seu aproveitamento tanto na geração de energia elétrica, quanto de combustíveis renováveis.
A Brasil BioFuels (BBF) vai investir cerca de R$ 2 bilhões em uma biorefinaria, que ficará na Zona Franca de Manaus, e vai produzir mais de 500 mil litros de HVO (diesel verde) e SAF (querosene verde de aviação) a partir de 2025.
O refino ocorre numa região distante dos centros de consumo desses combustíveis no Brasil – sul e sudeste – e só será possível graças ao uso, como matéria prima, do óleo de palma produzido em São João da Baliza, em Roraima, um município de cerca de sete mil habitantes, resultado do esmagamento da palma cultivada na região.
Para que a BBF viabilize o investimento, mais um nome entrou na equação: a Vibra Energia, que será a única compradora de todo o combustível produzido na biorefinaria por cinco anos, período que poderá ser renovado por mais cinco.
Será a capilaridade da antiga BR Distribuidora que permitirá que os combustíveis verdes cheguem aos centros de consumo de todo o país, por meio da sua capacidade logística e comercial. A grande vantagem dessas tecnologias é que são drop in: diferentemente do biodiesel, que depois de um certo percentual prejudica o rendimento dos motores, o HVO e o SAF podem ser usados imediatamente em substituição aos combustíveis fósseis, com a vantagem de não gerarem enxofre.
Embora HVO e SAF já sejam combustíveis verdes explorados nos mercados da Europa e EUA, seu uso no Brasil ainda é incipiente, e a falta de uma política de incentivos definida – tal qual a mistura obrigatória do biodiesel ao diesel – e a ausência de mercado consumidor foram obstáculos que a BBF teve para desenvolver seu complexo modelo de negócios. “Sem uma indústria, ninguém compra o fruto de palma, principalmente em Roraima. Esse era um problema no início para viabilizar o empreendimento”, contou Milton Steagall, presidente da BBF, em evento feito para anunciar a parceria com a BBF em São João da Baliza, onde fica uma unidade industrial da companhia.
Em novembro de 2021, a Vibra e a BBF celebraram um contrato de compra e venda de diesel verde, o HVO, a ser produzido na biorefinaria de Manaus. Na época, o investimento era estimado em R$ 1,8 bilhão.
Com um novo acordo para o projeto também compreender a produção de SAF, o projeto foi ajustado para ser uma planta híbrida (para produção de HVO e SAF), dadas as perspectivas de avanço do uso dessa tecnologia em mercados no mundo todo pela necessidade de descarbonização também da aviação.
“Toda a atividade agrícola, produção do óleo, dos combustíveis, é a razão de ser da BBF. O papel da Vibra é de ser comprador do volume que vier a ser produzido, e vamos colocar esse volume em nossos mercados. São papeis complementares”, disse Wilson Ferreira Junior, presidente da Vibra.
Atualmente, estão em estudo pelo governo regras que permitirão o uso mais intensivo desses combustíveis. Recentemente, o Comitê Técnico Combustível do Futuro, do Ministério de Minas e Energia, organizou premissas para certificação, governança, qualidade e tributação do SAF e, segundo o coordenador-geral de biodiesel e outros biocombustíveis da pasta, Renato Dutra, um projeto de lei foi encaminhado pelo grupo à Casa Civil propondo o estabelecimento de percentuais mínimos de mistura do combustível verde de aviação ao QAv a partir de 2027.
Enquanto não se tem um mercado “garantido” no Brasil pela falta desses mandatos (regras e obrigatoriedade) de mistura, as cias. aéreas se movimentam de forma voluntária. O programa internacional para redução e compensação de emissões da aviação, CORSIA, prevê a estabilização das emissões nos níveis observados em 2019, com obrigações a partir de 2027.
“Vamos ter a vantagem de ter um combustível pioneiro, de termos feito o investimento dessa maneira”, disse Ferreira.
A partir das 500 mil toneladas de óleo vegetal, serão produzidas 400 mil toneladas de biocombustível, com flexibilidade para a divisão entre SAF e HVO. Inicialmente, a ideia é que sejam 200 mil toneladas de cada um, “meio a meio”.
Segundo a Vossos, o HVO tem uma densidade de 0,78, enquanto o SAF tem densidade de 0,7, o que resultará na produção de 250 mil litros de HVO e 280 mil litros de SAF.
O mercado de aviação brasileiro, em tempos de normalidade, consome cerca de 7 bilhões de litros no ano de QAv, o que faz com que o SAF produzido represente cerca de 4% de toda essa demanda.
No pior dos cenários, caso o Brasil não tenha demanda para os combustíveis verdes, a Vibra poderá exportar para mercados em que a demanda só cresce de forma exponencial, segundo Marcelo Bragança, vice-presidente executivo de Operações, Logística e Sourcing da Vibra.
No evento em Roraima, participaram executivos das três principais companhias de aviação brasileiras: Gol, Azul e LATAM. Todos mostraram entusiasmo com a tecnologia e, em conversas reservadas, afirmaram que para cumprir as metas de redução de emissão precisarão comprar algum tipo de SAF, sendo importante garantir a oferta antes de 2027 já que o mercado de produção ainda é restrito.
A Vibra também se mostrou confiante sobre a colocação do diesel verde no mercado. “A Vibra tem hoje 18 mil clientes B2B, e já tivemos conversas com eles sobre a introdução de produtos que emitam menos e descarbonizem”, completou Bragança.
Os executivos evitaram falar em custo e preço dos combustíveis, por questões contratuais, mas afirmaram que a verticalização da produção da BBF, combinada ao baixo custo da terra, devem tornar o produto do óleo de palma muito competitivo no mercado em comparação com outros óleos vegetais, como de soja e milho.
“Sem parcerias viabilizadoras de combustíveis renováveis, não tem como zerar as emissões”, disse Ferreira, que lembrou que a Vibra já assegurou ofertas de outros biocombustíveis, como o etanol, numa parceria com a Copersucar, e biometano, em parceria com a ZEG Biogás. Além disso, a Vibra fechou recentemente a aquisição de 50% da COMERC Energia – controladora da MegaWhat -, em mais um passo em direção à transição energética e à redução do papel dos combustíveis fósseis.